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Aumento da taxa Selic é 'um tiro no pé', diz economista

“Altas taxas de juros beneficiam apenas as instituições financeiras”

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Para o professor de Finanças Públicas da Universidade de Brasília (UnB) Roberto Bocaccio Piscitelli, a elevação da taxa Selic, que está em discussão na reunião do Copom, é “desnecessária e inútil para combater a inflação”. O especialista explica que a taxa básica de juros, que atualmente é de 12,75% ao ano, não faz com que a inflação diminua porque interfere diretamente no consumo, que já está desaquecido, e ainda atrapalha o cumprimento da meta do superávit primário.

A reunião do Copom, que se encerra nesta quarta-feira (29), deve determinar se a taxa Selic sofrerá elevação de 0,5%, subindo para 13,25% ao ano. Este seria o terceiro aumento apenas em 2015, igualando o maior percentual desde dezembro de 2008.  

O aumento da taxa de juros funciona como um mecanismo para conter a inflação, que atualmente está em 8,25% para 2015, segundo apontou o Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central nesta segunda-feira. Com altas taxas, fazer empréstimos e financiamentos se torna mais caro, o que faz com que o consumo seja reprimido. No entanto, destaca Piscitelli, a economia já está desaquecida.

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Esta afirmação é confirmada pelo aumento na taxa de desemprego, que subiu de 5,9% para 6,2% no mês de março, segundo estudo divulgado nesta terça-feira pelo IBGE. É a maior taxa desde maio de 2011, quando o desemprego ficou em 6,4%. Com a economia desaquecida, as empresas tendem a demitir seus funcionários.

“A atual inflação é principalmente conseqüência de desonerações fiscais feitas nos últimos anos. Esse tipo de incentivo deve ser feito apenas em alguns setores, onde a mão-de-obra ocupa grande parcela dos gastos. Entretanto, acabaram sendo estendidas a boa parte da indústria”, comentou Roberto Piscitelli.

Questionado sobre qual seriam as melhores saídas para barrar a inflação, o economista afirmou que são as medidas de ajustes fiscal. “Os ajustes que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, está tentando implementar são as melhores opções para diminuir a inflação, começando por revogar as desonerações”.

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No mês de março, a arrecadação federal cresceu 0,48% em relação ao mesmo mês de 2014, segundo dados divulgados pela Receita Federal nesta segunda-feira (27), resultado da políticas adotadas por Joaquim Levy.

Piscitelli julga ainda que a elevação da Selic “vai beneficiar apenas as instituições financeiras e grandes investidores em títulos públicos”, além de considerar o Brasil “um ponto fora da curva” no que diz respeito às taxas de juros, indo contra uma tendência mundial de redução. Entre os países que formam os BRICS, os juros brasileiros só não são maiores do que os da Rússia, que passou por problemas políticos no fim de 2014 por conta de conflitos com a Ucrânia e sofreu com a desvalorização do barril do petróleo. No entanto, o país já promoveu dois cortes na taxa este ano, que, após saltar de 10% para 17% no fim do ano passado, como medida para conter a desvalorização do Rublo, atualmente gira em torno de 14%.

*Do programa de estágio do JB