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Patrões e empregados enxergam desemprego na indústria sem perspectiva de melhora

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A indústria vê um cenário pessimista para 2015, sem perspectivas de recuperação a médio prazo. A construção civil também "vive momento grave, mesmo com as obras para a Olimpíada de 2016 no Rio de Janeiro", segundo Antônio Carlos Mendes Gomes, diretor-executivo do Sindicato da Industria da Construção Civil no Estado do Rio de Janeiro (Sinduscom-Rio). Depois da operação Lava Jato, que investiga escândalo de corrupção envolvendo Petrobras, políticos e empreiteiras, o setor da construção civil registrou um saldo negativo de 250 mil empregos formais nos últimos cinco meses (de outubro a fevereiro). Os dados são do Caged (cadastro de empregados com carteira assinada, do Ministério do Trabalho).

Patrões e empregados concordam que existe uma diminuição de postos de trabalho nos setores automobilístico e da construção civil. João Saboia, professor do Instituto de Economia da UFRJ, diz que "o setor de serviços era o que vinha segurando a taxa de desemprego em um nível baixo, mas a indústria vem sofrendo com reduções desde 2010".

Miguel Torres, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos (CNTM) e da Força Sindical, afirma que há muitos trabalhadores que estão sendo demitidos antes mesmo de completar um ano na empresa: "As últimas medidas de aumento na taxa de juros estão impactando diretamente a renda. Nossa perspectiva é baixa, com uma retomada ruim. Estamos tentando nos mobilizar para que haja uma política de investimento por parte do governo". 

O Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças) divulgou balanço que apresenta queda de 17,% nas exportações de peças automotivas nos meses de janeiro e fevereiro. Segundo o mesmo relatório, a Argentina continua sendo o principal importador de peças brasileiras. "O setor vem sofrendo tanto por conta das dificuldades que os argentinos estão enfrentando quanto por conta do mercado interno. Muitas pessoas já têm um financiamento e não estão interessadas em trocar de veículo no momento", analisa João Saboia. 

A construção civil no Rio de Janeiro tem ganhado fôlego por conta das obras das Olimpíadas de 2016, mas em âmbito nacional os problemas já são visíveis. No mês de fevereiro, segundo dados da SindusCon-SP, 30 mil postos de trabalho já foram cortados, e até o fim do ano esse número aumentará dez vezes no país todo. 

"Obras de mobilidade, a construção da Vila Olímpica e de edifícios na Barra da Tijuca, além do projeto Porto Maravilha, têm mantido a construção civil na cidade, mas isso não é duradouro", afirma Antônio Carlos Mendes Gomes, diretor do Sinduscom-Rio.

Através de sua assessoria de imprensa, o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil do Município do Rio de Janeiro (Sintrasconst-Rio) reiterou que na cidade do Rio de Janeiro o setor ainda não foi afetado, diferentemente de outras cidades do Brasil. O sindicato também elege como principais fatores para uma diminuição dos postos de trabalho a finalização das obras olímpicas e a crise econômica que o país enfrenta. 

Algumas das maiores construtoras do país suspenderam suas atividades por estarem sendo investigadas pela Operação Lava Jato, contribuindo para os problemas do setor. Nesta quarta (25), a Galvão Engenharia, que também está no processo, pediu recuperação judicial. Entretanto, João Saboia destaca que "não se pode parar o país por conta de um escândalo". 

O economista concorda que as expectativas não são boas: "Estamos passando por um período de corte de gastos e ajustes fiscais. O ano de 2016 pode ser melhor, mas só porque 2015 vai ser muito ruim".