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'FT': Escândalo da Petrobras atinge outras indústrias brasileiras do petróleo 

Exploração do pré-sal pode ser a mais afetada pela crise

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O jornal britânico Financial Times publicou nesta sexta-feira (26/03) um artigo da jornalista Samantha Pearson sobre um efeito-cascata que o escândalo envolvendo a Petrobras, desencadeado pela Operação Lava Jato, pode causar na economia brasileira.  “Rogério Caffaro está de bom humor, o que é surpreendente para alguém que trabalha na indústria brasileira do petróleo e gás, que vive uma crise.

O presidente da Triunfo Logística, que opera terminais portuários, acabou de almoçar com executivos chineses com quem conversou sobre uma possível parceria para uma base no Rio de Janeiro que detêm os tubos flexíveis que a Petrobras usa para extração.

A Triunfo ganhou um contrato de oito anos em setembro para operar a base mas o projeto foi interrompido depois que os bancos retiraram o financiamento, assustados com os preços de petróleo em queda e o enorme escândalo de corrupção que engole a Petrobras.

“Nós nos vimos no olho do furacão então começamos a procurar por parceiros estrangeiros,” disse Caffaro. “A ideia é que os chineses contribuam com equipamento, a construção da base e entrem como nossos parceiros assim não vamos mais precisar dos bancos.”

Porém, nem toda empresa no setor é tão sortuda. Enquanto a Petrobras ainda precisa de tubos para seus projetos essenciais, as perspectivas são bem desanimadores para outras áreas da indústria — a saber, os investimentos relacionados a suas descobertas em águas profundas ou do pré-sal.

Analistas e executivos da indústria afirmam que a exploração do pré-sal está pronta para ser a maior vítima da crise que afeta a Petrobras, junto com o sonho do Brasil de se tornar um dos cinco maiores produtores mundiais por volta de 2020.

“A Petrobras está sendo estrangulada financeiramente e é seu investimento na futura produção que vai mais sofrer,” diz Paulo Furquim, um acadêmico na Insper, escola de comércio em São Paulo.

As descobertas do pré-sal estão enterradas na camada de sal de até 2 km de espessura no leito marinho da costa sudeste do Brasil. Estima-se que contenha ao menos tanto quanto os quase 60 bilhões de barris de petróleo no mar do Norte. Uma euforia foi despertada quando os primeiros grandes depósitos foram descobertos em 2007.

Porém, perfurar através de camadas inconstantes de sal em tais profundidades se tornou a parte de mais capital intensivo dos negócios da Petrobras. Enquanto o petróleo do pré-sal representa apenas cerca de 30% do total de produção da empresa, a Petrobras planejou gastar 60% de seus $154 bilhões do orçamento de exploração e produção entre 2014 e 2018 em seu projeto de águas profundas.

Esses números simplesmente não são mais viáveis, dizem analistas.

O suposto esquema de corrupção na Petrobras, que também envolve políticos de destaque e grandes empreiteiras, já fez com que a Moody’s tirasse o grau de investimento da empresa — e assim aumentando seus custos de financiamento.

Investidores no Brasil e nos Estados Unidos estão processando por danos e, se a empresa não conseguir persuadir seus auditores a assinar seu relatório financeiro anual por volta de maio, a Petrobras pode se ver diante de um default técnico.

Porém, mesmo se a empresa não estivesse sob pressão financeira, preços do petróleo em queda significam que investir atualmente nos campos de pré-sal faz pouco sentido, afirma Adriano Pires, sócio-fundador do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura e um antigo membro da reguladora ANP.“Os problemas da Petrobras não são apenas  internos mas também externos,” diz Pires, acrescentando que a empresa não terá outra escolha a não ser reduzir seu tamanho. 

Se a Petrobras, que detém quase um monopólio sobre a produção de oleo e gás no Brasil, for forçada a cortar seus investimentos no pré-sal, os efeitos seriam sentidos bem além da indústria, alertam analistas.

Fundos de pesquisa e desenvolvimento secariam e as escolas e hospitais do Brasil poderiam ficar desprovidas de bilhões de dólares prometidos a eles com os lucros do pré-sal e os royalties.

Além disso, embora as otimistas empresas chinesas possam preencher algumas das lacunas na indústria, a crise na Petrobras já está afetando a economia estagnada do Brasil com ondas de demissões no Rio no Rio Grande do Sul, polo da construção naval.

“A Petrobras representa cerca de 10% do total de investimentos no país, logo a empresa tem um efeito multiplicador,” diz André Gordon da Amec, associação  brasileira de acionistas minoritários, acrescentando que o escândalo de corrupção também afastou investidores do mercado de ações do Brasil. “A administração precária na Petrobras tem consequências para todo mundo.”

Fatos importantes da saga da Petrobras

Nov 2007 - A Petrobras faz sua primeira grande descoberta do ‘pré-sal’ na costa do Rio de Janeiro

Mar 2010 – São anunciados planos ambiciosos de US$ 230 bilhões.

Set 2010  - Grupo levanta US$ 70 bilhões na maior oferta de ações do mundo

Ago 2012 – Primeira perda trimestral em 13 anos

Mar 2014 – Surge uma suposta corrupção depois que um ex-executivo é preso por lavagem de dinheiro

Nov 2014  - Polícia prende outro ex-executivo e donos das maiores empreiteiras do país enquanto a investigação avança sobre supostos crimes de corrupção.

Fev 2015  - Presidente Maria das Graças Foster pede demissão. A Moody’s rebaixa a classificação de crédito da empresa para grau especulativo.

Mar 2015  - A Suprema Corte do Brasil anuncia que irá investigar mais do que 30 congressistas e senadores sobre o escândalo