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Bloomberg: O 'boom' da China pode ainda estar acontecendo

Estudo aponta para novas formas de avaliar crescimento de economias mais complexas

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“Onde a China e a Índia poderão estar daqui a uma década, economicamente falando? A julgar pela velocidade anormal na qual elas cresceram nas últimas décadas, a maioria dos analistas acha que esses países devem desacelerar - e, no caso da China, até mesmo quebrar.

Porém, vistas por outro lado, as perspectivas para os dois países podem ser muito mais otimistas”. É o que diz um artigo publicado nesta segunda-feira (02/03) pela agência americana Bloomberg.

“Quando se analisa o potencial de crescimento de um país, economistas costumam examinar apenas alguns indicadores, incluindo o último crescimento, peso da dívida, a flexibilidade do mercado de trabalho e a qualidade do governo. Como Lant Pritchett e Lawrence Summers demonstraram, essas medidas podem não prenunciar bem para a China ou a Índia. A história mostra que períodos de crescimento rápido geralmente prenunciam reversões de volta à média do mundo”, escreve o jornalista Mark Buchanan.

Ele continua: “Porém, recentemente, pesquisadores têm desenvolvido novas formas de projetar o desempenho da economia - métodos que empregam grandes quantidades de dados para tocar nas mais profundas realidades da economia que realmente conduzem o crescimento. Em 2009, por exemplo, o economista de Harvard Ricardo Hausmann e seu colega físico Cesar Hidalgo documentaram uma forte correlação entre a saúde de um país e sua habilidade de produzir uma ampla gama de produtos, assim como coisas especializadas – pense em iPhones e foguetes avançados – que outras poucas nações podem igualar. Eles depois descobriram que essas capacidades, resumidas em uma medida que eles chamaram de ‘índice da complexidade econômica’, eram poderosos previsores de desempenhos futuros. Se a riqueza de um país cair para baixo do que o índice sugere que deveria estar, pode se esperar que ela vai se recuperar.

Agora, um grupo de pesquisadores liderados pelo físico Matthieu Cristelli, usando métodos projetados a partir da análise de padrões meteorológicos, acrescentou uma importante ressalva: a ligação entre riqueza e capacidades parece se aplicar apenas a países de complexidade intermediária para alta. Os demais oscilam em torno de uma maneira menos previsível, talvez refletindo influências que dificultam, como governos precários ou dependência em recursos naturais. Resumindo, países menos desenvolvidos parecem cair em um regime essencialmente diferente de dinâmica econômica do que países acima na escada da complexidade.

A descoberta dos físicos pode ter grandes implicações para a China e a Índia. Os dados sugerem que os dois têm construído habilidades em uma ampla variedade de produtos novos e habilidades, e assim ascenderam ao grupo de países para os quais a complexidade prevê o crescimento. Como consequência, seus PIBs combinados devem triplicar nos próximos sete anos, alcançando um total de cerca de 26 trilhões de dólares. A análise também sugere que alguns países africanos, como Senegal, Madagascar, Tanzânia, Quênia e Uganda, conseguiram reunir habilidades suficientes nos últimos 15 anos para finalmente escapar da armadilha da pobreza crônica.

“Para se ter certeza, a nova pesquisa é muito atípica e oferece só um gosto do que seríamos capazes de aprender ao acessar grandes dados e ir além das simples técnicas de análise estatística que os economistas costumam usar. Dito isto, ampliar os detalhes confusos da verdadeira atividade econômica pode oferecer uma maneira promissora de prever o crescimento – além de terrenos para que se tenha muito mais otimismo sobre o futuro do mundo em desenvolvimento”, conclui o artigo da Bloomberg.