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‘Le Monde’: Japão busca meios para reaquecer sua economia

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O jornal francês Le Monde publicou nesta sexta-feira (26/12) um artigo onde analisa as dificuldades enfrentadas pelo Japão em sua economia. 

"O desgaste do efeito do 'Abenomics', as medidas que visavam relançar a economia japonesa depois dos anos de deflação, adotadas pelo primeiro ministro Shinzo Abe desde o fim de 2012, se confirma. Como o mostram vários indicadores, publicados nesta sexta-feira, o Japão termina o ano de 2014 com uma nota negativa.  Abe, que acaba de ser reeleito primeiro-ministro, depois da vitória de seu partido, o Partido Liberal-Democrata (PLD, de direita) às eleições legislativas antecipadas do dia 14 dezembro, tem como horizonte o risco de uma recessão prolongada", diz a matéria do jornal.

- A inflação ainda desacelera: em novembro, pelo quarto mês seguido, a alta dos preços diminuiu. Ela se situa, tirando os produtos perecíveis, a +2,7 % em um ano, contra +2,9 % em outubro, anunciou o ministério das relações interiores, na sexta-feira (26/12). Mas, excluindo o impacto da alta, no início de abril, da taxa sobre o consumo (o equivalente da VA), que incha a inflação na ordem de dois pontos, a progressão dos preços é de somente 0,7 %, segundo o método de cálculo proposto pelo Banco do Japão (BoJ), está ainda longe de seu objetivo de 2%. O Japão não conheceu uma inflação tão fraca desde setembro de 2013. E a baixa dos preços do petróleo deveria contribuir ainda a frear a progressão dos preços.

- O consumo segue encolhendo: as despesas dos domicílios japoneses, que já haviam recuado 4% em outubro, baixaram 2,5% em novembro sobre um ano. O efeito da alta da TVA continua a se fazer sentir. Assim como os rendimentos das famílias, elas estão caindo.

- A produção industrial recua: os industriais reduziram sua produção em novembro, em 0,6%. Trata-se do primeiro recuo em três meses. Esse número está bem longe do que os economistas esperavam (+ 0,8 %). Esses últimos preveem, contudo, uma recuperação em dezembro e janeiro.

Já faz muitos meses que o "Abenomics" patina e que as dúvidas quanto à eficácia desta política de forte incentivo se multiplicam. No terceiro trimestre, o Japão entrou em recessão, com o produto interno bruto (PIB) recuando 0,5 % em relação ao trimestre precedente. Uma queda anual de 1,9 %.

O PIB já havia registrado uma queda anual de 7,3 % entre abril e junho. Essa freada da economia japonesa forçou o governo a adiar seu projeto de um segundo aumento do imposto sobre circulação de mercadorias e serviços.

Para tentar reanimar a máquina, Abe deve anunciar, sábado, um novo pacote de estímulos de 3,5 trilhões de ienes (24 bilhões de euros). Com um objetivo: dar um impulso ao consumo.

As empresas convidadas a "dividir o bolo"

Recém reeleito, Abe inclusive pressionou os chefes de empresas a dar poder de compra, ao mesmo tempo aumentando os salários depois das próximas negociações da primavera, e pagando melhor seus prestadores de serviço.

Os salários reais (uma vez deduzida a inflação) encolheram 4,3 % em novembro (em relação ao mesmo mês em 2013), a mais forte baixa em cinco anos. Eles estão em baixa há 17 meses consecutivos.

Na quinta-feira (25/12), o presidente do Banco Central do Japão (BoJ), Haruhiko Kuroda também colocou pressão sobre seus patrões. Falando diante dos membros da federação patronal Keidanren - grandes empresas, amplamente beneficiadas pela depreciação do iene - ele os pressionou a mudar "sua atitude", a "dividir o bolo» e reinvestir seus lucros «para que o ciclo virtuoso da economia se instale solidamente".

"Nesse estado, o bolo está dividido desigualmente a favor das grandes empresas e dos detentores de ativos financeiros. Se as entidades econômicas que ficaram com uma parte grande do bolo gastarem pouco, o próximo ciclo não será desencadeado", garantiu Kuroda.

Segundo dados publicados na semana passada pelo Banco do Japão, as empresas nunca tiveram um cobertor de dinheiro tão recheado.

Para isso, o meio empresarial japonês permanece cauteloso diante do "Abenomics". Um bom número de patrões espera a entrada em cena da «terceira flecha», aquela das reformas estruturais: reforma do mercado do trabalho e da agricultura, baixa do imposto sobre as sociedades.

"O Abenomics está numa encruzilhada. Seu sucesso depende da terceira flecha e das medidas drásticas que serão tomadas para reformar os sistemas que travam o crescimento", disse ao Le Monde, há algumas semanas, Yasuchika Hasegawa, presidente da Keizai Doyukai, uma das organizações patronais japonesas, e diretor geral da Takeda Pharmaceuticals, número um da indústria farmacêutica no Japão. Ele convocava o governo a «colocar em prática as reformas fundamentais para reforçar a produtividade" e a fazer de tudo para "substituir o antigo pelo novo na indústria".