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Financial Times diz que emergentes podem ter futuro turbulento

Globalização dos mercados e novo anúncio de austeridade do FED podem influenciar 

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O jornal Financial Times publicou uma reportagem no último sábado (20), onde diz que os mercados estão cada vez mais conectados e que certas mudanças internas nos Estados Unidos podem influenciar em diversos locais, especialmente nos emergentes como Brasil, China e Rússia. Eles destacam um relatório do Banco de Pagamentos Internacionais, que estima que depois da crise de 2008 nos EUA, com o fechamento do banco Lehman, cerca de 50 mil empresas em países emergentes sofreram quase U$ 30 bilhões em perdas. 

“É uma lição de consequências inesperadas do mercado em um mundo altamente interconectado” diz a publicação. O FT ainda diz que analisar essa questão é particularmente oportuno porque o Federal Reserve (Fed) sinalizou esta semana planos para apertar a política monetária no próximo ano. Os Estados Unidos estão com uma política monetária frouxa, o que quer dizer que eles desvalorizam propositalmente o dólar, o que estimula a exportação, e consequentemente uma maior produção e criação de emprego.   

A nova política do Fed pode facilmente criar novos choques. Desde 2008, os bancos centrais mantiveram a política monetária tão frouxa que os investidores globais têm devorado ativos de mercados emergentes em busca de qualquer coisa que possa produzir retornos.

Isto levou a uma mudança no ecossistema de crédito: enquanto as empresas na Rússia, Brasil, China e Índia costumavam levantar fundos por meio de empréstimos dos bancos, o relatório do Banco de Pagamentos observa que eles têm cada vez mais partido para a venda de títulos para os gestores de ativos.

O jornal diz que isso cria um risco: quando as taxas ocidentais sobem, alguns dos fluxos de investimento em mercados emergentes poderiam ir em sentido inverso, criando reações em cadeia. Na verdade, uma versão pequena ocorreu no ano passado, quando os mercados oscilavam muito em especulações de que o Fed estava prestes a "afunilar" a sua política monetária frouxa.

Em um mundo interconectado choques têm o péssimo hábito de atingir onde menos se espera. A razão para esta diferença dramática é que muitas empresas têm vendido a dívida por meio de  offshore, ou seja, empresas que tem uma contabilidade num país diferente daquele que atual.

Para algumas empresas - por exemplo,os grupos de commodities (produtos  de baixo valor agregado, especialmente matéria prima) na Rússia, África do Sul ou o Brasil - esse descompasso importa pouco, pois têm fácil acesso a dólares. Para outros, um balanço do dólar pode representar grandes riscos, diz o jornal. 

Para o FT,  mercados emergentes têm enfrentado os fluxos de investimentos voláteis anteriormente e estão se tornando mais inteligentes. Um detalhe trazido pelo relatório do Banco de Pagamentos é que as empresas de mercados emergentes estão emitindo títulos com prazo mais longo. Outra é que eles parecem estar usando menos dos derivativos exóticos que trouxeram prejuízo em 2008.