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BCE pede reformas estruturais corajosas aos governos europeus

Mario Draghi alerta que economia da zona do euro está mais fraca do que o esperado

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O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, admitiu nesta segunda-feira (22) que a economia europeia perde impulso, que as informações prévias sobre as condições econômicas são mais fracas do que o esperado e que o sucesso de novas medidas dependem de reformas estruturais corajosas por parte dos governos. "A recuperação econômica da zona do euro está perdendo força. Após moderada expansão em quadrimestres recentes, o crescimento do PIB chegou a um ponto morto no segundo quadrimestre deste ano." 

De acordo com Draghi, enquanto a produção industrial em julho rendeu alguns suspiros otimistas, indicadores de pesquisas mais recentes não dão sinais de que a trajetória de queda registrada em agosto tenha sido interrompida. 

"Olhando para frente, nós continuamos esperando que a demanda doméstica na zona do euro seja estimulada por diversos fatores. Estes incluem nossa postura de política monetária, condições de financiamento favoráveis e as reformas estruturais que sustentem o consumo privado e o investimento. Ao mesmo tempo, inaceitáveis altas no desemprego e contínuo fraco crescimento no crédito podem conter a recuperação", comentou o presidente do BCE.

Draghi não deixou de destacar que tensões geopolíticas, como a questão da Rússia com a Ucrânia, podem afetar a confiança do consumidor e dos empresários, e que o sucesso das medidas do BCE dependem fortemente de um número de fatores externos à política monetária, como reformas estruturais corajosas. Para ele, nenhum estímulo monetário, e nem mesmo fiscal, é eficiente sem reformas estruturais. A crise só terá fim, acredita, quando a confiança voltar, particularmente na capacidade das empresas de tomar riscos e criar empregos. 

"O Conselho do BCE continua plenamente determinado a conter os riscos para as perspectivas de médio prazo para a inflação. Portanto, estamos prontos a utilizar instrumentos não convencionais adicionais dentro do nosso mandato, e alterar o tamanho e / ou a composição das nossas intervenções não convencionais", completou.

Europa no 'ponto morto'

O desempenho das economias europeias no segundo trimestre deste ano já havia gerado apreensões no bloco, que teme agora caminhar para uma nova recessão. O Escritório Federal de Estatística (Destatis) alemão divulgou uma queda de 0,2% no PIB do país no segundo trimestre deste ano, em comparação com o trimestre anterior. No primeiro, havia registrado um acréscimo de 0,7%, mas o desempenho posterior foi atrapalhado devido à incerta recuperação da Zona do Euro e à crise da Ucrânia. A França, principal economia do bloco europeu ao lado da Alemanha, teve uma variação nula em seu PIB no segundo trimestre. 

França e Alemanha, então, acabaram influenciando uma variação também nula da Zona do Euro, abaixo da expectativa de 0,2% do mercado. A Itália, terceira economia do bloco, registrou contração de 0,2% entre abril e junho. A Espanha, quarta economia e uma das mais afetadas pela crise, teve um desempenho positivo, de 0,6%, mas especialistas desconfiavam da continuidade na recuperação. 

No mês passado, a diretora do FMI, Christine Lagarde, chegou a defender que a Alemanha elevasse seus salários para impulsionar a economia europeia. Segundo a dirigente, o país teria os meios para ajudar na retomada do continente, e seria importante que ele participasse "de uma forma intensa" deste movimento.

A Alemanha tem sido apontada por outros países europeus como responsável pelo ritmo lento da recuperação econômica do bloco. Arnaud Montebourg, ministro da economia francês, chegou a dizer também no mês passado ao Le Monde que o país de Merkel está preso "a uma política de austeridade e impõe-na em toda a Europa".