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Importação de mão de obra: tendência mundial ou falta de profissionais?

Analistas comentam dados do Brasil que apontam crescimento na vinda de especialistas

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A rede social LinkedIn avaliou a mobilidade dos trabalhadores em 20 países, de novembro de 2012 a novembro de 2013, e concluiu que o Brasil importou mais trabalhadores do que exportou, o que revela uma expansão de 0,2% na força de trabalho. De um lado, as consultorias de Recursos Humanos atribuem os dados à falta de mão de obra qualificada. Do outro, pesquisadores são menos categóricos e destacam que o movimento é uma tendência mundial.

"A mão-de-obra técnica falta muito, desde engenharia até Tecnologia da Informação e, principalmente, Ph.D. Quanto mais alta a qualificação, menor é a oferta de profissionais capacitados", relata Naira Ferreira, responsável pelo setor de recrutamento e seleção da Clave. "Muitas vezes só trazendo de fora mesmo, porque o país não atende a esta demanda. Fizemos recentemente uma procura por um especialista químico, Ph.D., para um laboratório de bens de consumo e, em nível Brasil, foram só cinco candidatos. Acaba tendo que trazer de fora, e como muitas vezes a empresa é transnacional, acaba preferindo mesmo importar profissionais", explica. 

Naira também aponta a necessidade de conhecer outros idiomas como uma barreira. "Às vezes até tem o técnico, mas falta o idioma. Outra posição que estávamos fazendo uma seleção era de engenheiro técnico de vendas, que precisava falar japonês, ou seja, foi mais fácil importar. Quando precisamos do técnico com idioma fica mais complicado ainda, então temos a necessidade de trazer de fora", finaliza.

De acordo com dados do Ministério do Trabalho e Emprego, 20.108 especialistas, assistentes técnicos e atuantes na transferência de tecnologia começaram a trabalhar no país em 2013. Foi o maior grupo de estrangeiros que recebeu um visto de trabalho no último ano, atingindo 32% do total. Por sua vez, 59% de todos os imigrantes possuem nível superior e 40% têm nível médio ou técnico. A maior parte têm origem nos Estados Unidos, Filipinas, Reino Unido, Índia, Alemanha e Portugal. Os dados são claros ao demonstrar que o Brasil vem importando mão-de-obra qualificada em grande escala.

Patricia Villen, pesquisadora do Doutorado de Sociologia do Trabalho da Unicamp, por outro lado, defende não ser tão simples afirmar que falta mão de obra qualificada no Brasil. "Há um discurso muito atuante por parte das empresas privadas e unidades de recrutamento que dizem haver uma falta de profissionais com perfil qualificado. Essa não é uma posição unânime, inclusive já existem estudos publicados que defendem que não há falta de engenheiros, por exemplo. Esse é um assunto muito polêmico", pondera. 

"O fluxo é heterogêneo, desde imigrantes em empresas com transferência de tecnologia ou associações de petróleo. Os números mais altos são desses fluxos, mas também há imigração de médicos e de outros engenheiros. Há uma diversidade: petróleo, gás, energia, tecnologias da informação, construção civil, infraestrutura... É um fluxo também muito ligado à internacionalização da malha produtiva, ao fluxo de capitais e a investimentos estrangeiros", aponta Patricia.

Ela lembra, ainda, que o sistema de imigração é mundial. "É utilizado no mundo todo e ganhou espaço no Brasil principalmente após a crise de 2008. Há funcionalidades produtivas pela imigração e os imigrantes muitas vezes são temporários, o que diminui os custos, como de aposentadoria", explica.

Por fim, a pesquisadora também destaca que a demanda não é só por profissionais qualificados. "Existe a demanda pelo perfil qualificado, que corresponde aos dados institucionais, e a demanda por um perfil mais precarizado que não ganha visibilidade. Essa última demanda começou a ganhar mais espaço nos últimos anos com a entrada dos haitianos", conclui.

*Programa de Estágio Jornal do Brasil