ASSINE
search button

Pré-sal apresenta sinais positivos na produção de petróleo

Exploração promete melhorias à balança comercial, saúde e educação, lembram especialistas

Compartilhar

A produção de petróleo na área do pré-sal começa a mostrar os primeiros sinais positivos, apesar da produção mais efetiva na área estar prevista apenas para 2017. O Brasil registrou em fevereiro o terceiro recorde consecutivo na produção nos campos do pré-sal. Com isso, se vê mais próximo de entrar no hall dos maiores exportadores de petróleo do mundo e de garantir mais qualidade à saúde e educação dos brasileiros, a partir do repasse de royalties para as duas áreas.  Para especialistas, os resultados do pré-sal podem ainda melhorar as condições da Petrobras e aliviar a pressão que sofre a balança comercial brasileira, em uma tendência de melhorias constantes. 

A produção média mensal de petróleo dos campos localizados no pré-sal, nas bacias de Santos e Campos, atingiu, em fevereiro, a média mensal recorde de 385 mil bopd, 7,5% acima do recorde anterior, registrado em janeiro (358 mil bopd). No dia 27, foi batido o recorde diário de extração do pré-sal, com 412 mil bopd.

Em fevereiro, entrou em operação no campo de Sapinhoá, no pré-sal da Bacia de Santos, o primeiro poço interligado a uma boia de sustentação de riser (BSR), o SPS-77, ligado ao FPSO Cidade de São Paulo. O poço, de acordo com a Petrobras, vem apresentando excelente desempenho, o que faz dele o melhor poço produtor do Brasil neste momento. Ele contribuiu para os recordes mensal e diário em fevereiro, com produção de aproximadamente 36 mil barris de óleo por dia. 

Outras três BSRs serão instaladas ainda no primeiro semestre deste ano, e possibilitarão a continuidade do crescimento da produção da camada pré-sal por meio da interligação de oito novos poços produtores nos FPSOs Cidade de São Paulo e Cidade de Paraty. Dessa forma, a capacidade máxima de produção e processamento dessas unidades será alcançada até o terceiro trimestre do ano.

Luciano Losekann, professor e chefe do Departamento de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF), destaca que esses resultados iniciais são positivos, e que a tendência é que isso ocorra com frequência, já que a produção mais efetiva vai ocorrer no futuro, principalmente a partir de 2017.

"A gente teve uma expectativa com a descoberta do pré-sal que era muito otimista, em 2008, 2009, que deu origem a um plano estratégico muito otimista, mas que foi revisto. Com isso, hoje temos uma expectativa de aumento da produção de petróleo no Brasil que é mais factível. O plano da Petrobras, que é mais ou menos o número que o governo e outras instituições trabalham, coloca que a produção deve crescer a partir deste ano, com a expectativa de chegar a cinco milhões de barris por dia até 2020", explica Losekann, que reforça que os resultados foram pouco expressivos nos últimos anos, mas que "a tendência é experimentar um crescimento forte nos próximos anos".

Adilson de Oliveira, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), por sua vez, reforça que os resultados da produção do pré-sal são positivos primeiro para a própria Petrobras, pois melhora o seu fluxo de caixa em um momento de pressão nos preços do petróleo. Beneficia também a balança comercial, que tem enfrentado dificuldades. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio informou nesta terça-feira (1°) que a balança comercial brasileira registrou um déficit de US$ 6,07 bilhões no primeiro trimestre do ano, o pior resultado em 21 anos. Em igual período do ano passado, o saldo ficou deficitário em US$ 5,15 bilhões.

"A situação só tende a melhorar. Os resultados positivos terão um efeito na balança comercial, seguido pelo incremento da questão dos royalties para saúde e educação. Se o governo usar adequadamente esses recursos, vários problemas que nós temos agora podem ser resolvidos. Na ocupação da Maré, no Rio, por exemplo, existe a necessidade de investir também nas condições sociais, não basta apenas ocupar. Se o governo usar os recursos adequadamente, o pré-sal pode ser muito positivo", acredita Oliveira. 

Leilão do pré-sal era urgente para o país

A primeira licitação do pré-sal em outubro gerou polêmica sobre a eficiência do modelo adotado pelo governo brasileiro. No entanto, para economistas, o processo foi de extrema importância para o país e ainda reflete a urgência da exploração do petróleo, levando em conta que esta fonte de energia pode não ser tão interessante nas próximas décadas. A entrada do país no hall de grandes exportadores e exploradores de petróleo é essencial para o desenvolvimento, apontam, com benefícios em diferentes esferas, como saúde e educação, e ainda incentivo a maiores investimentos em inovação e tecnologia.

Como ressaltou o economista Heron do Carmo, professor da Universidade de São Paulo (USP), na ocasião, a realidade brasileira é diferente da de outros grandes exploradores de petróleo, que não melhoraram a condição de vida da população apesar da grande oferta de petróleo. O fato do Brasil ter uma estrutura econômica mais bem estruturada, disse, permite que o país resolva deficiências históricas com a exploração do pré-sal. Para ele, o processo deve favorecer o desenvolvimento tecnológico do país, entre outras mudanças, como redução da carga tributária.

"Primeiro, foi boa sorte nós termos achado petróleo no pré-sal, assim como ocorreu com a Bacia de Campos nos anos 1970. Ficou comum dizer que o Brasil não tinha para onde crescer porque faltava um recurso natural essencial, que era petróleo. No calor do momento, muitos discutem a melhor forma de explorar essa riqueza, há especialistas que defendem a concessão, outros a partilha, ainda teve a questão da participação das chinesas e se seria melhor se a Petrobras explorasse sozinha. Mas o importante é explorar o recurso. Há a possibilidade de acontecer com o petróleo o mesmo que aconteceu com o carvão. Se não explorarmos agora, isso pode restringir nossa possibilidade de crescimento econômico a médio e curto prazo", declarou Heron.

Para Heron, é necessário acabar com a restrição atual, já que o que produzimos "mal dá" para o consumo interno. A produção do pré-sal será suficiente para atender ao mercado interno e o externo. "Os fundos do petróleo serão destinados à educação e à saúde. Com maior crescimento da economia brasileira, aumenta a arrecadação do setor público, o que pode favorecer até uma redução da carga tributária ou mudança para uma mais eficiente, sem que haja redução do volume de recursos à disposição do setor público, que é educação, saúde, segurança pública, saneamento, mobilidade urbana. A exploração do pré-sal pode contribuir para promoção do desenvolvimento econômico e social".