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Compra de Pasadena pela Petrobras era um bom negócio

A descoberta do pré-sal mudou os planos da empresa

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Quando a Petrobras adquiriu a refinaria de Pasedena, sua intenção era colocar um pé nos Estados Unidos, maior mercado de refino de petróleo do mundo. Localizada no “Houston Ship Channel”, uma espécie de eixo no porto de Houston, aberto para o Golfo do México (onde ficam os principais poços de petróleo em operação nos EUA) e com ligações modais para todo os EUA, a refinaria teria um importante papel nos planos estratégicos para a estatal brasileira e, portanto, sua compra representava um bom negócio.

Em 2006, a Petrobrás pagou US$ 360 milhões para entrar no negócio, conforme levantamento feito pelo site O Cafezinho, sendo US$ 190 milhões por 50% das ações e US$ 170 milhões pelos estoques da refinaria. No balanço da Petrobrás de 2006, o valor total para a aquisição da refinaria de Pasadena, incluindo despesas tributárias, ficou estabelecido em US$ 415,8 milhões.

A Petrobras entra no negócio como sócia da Astra Holding USA, uma subsidiária da Astra Oil, sediada na Califórnia, e que por sua vez é controlada pela belga Transcor Astra Group. Justamente essa operação é que está causando uma grande confusão na divulgação dos fatos. O preço pago pela Astra em 2005 ao adquirir a refinaria não pode ser comparado com o que a Petrobras pagou no ano seguinte por serem negócios diferentes.

A Astra havia comprado uma refinaria que há anos não era modernizada e o novo dono declara que faria investimentos de US$ 40 milhões nas instalações para processar outros tipo de petróleo e fabricar mais variedades de derivados. A Petrobrás tinha planos de investir em Pasadena para adaptá-la ao refino de óleo pesado vindo do Brasil e com isso conseguir colocar o produto “made in Brazil” nos EUA. Essa estratégia, no entanto, mudou radicalmente com a descoberta do pré-sal que exigiu da Petrobras um redirecionamento de seus investimentos para a nova área produtora.

A relação da Astra com a Petrobrás já havia azedado pelo fato da estatal brasileira ter deixado de lado os investimentos que faria no negócio por conta do pré-sal. A crise de 2008 colabrou ainda mais para acabar de vez com qualquer resquício de boa relação que as duas empresas poderiam ainda ter. A Astra acionou a Petrobras e obteve uma vitória judicial na Corte Americana, impondo um ônus à Petrobrás de US$ 296 milhões pelos 50% da empresa e mais US$ 170 milhões referentes aos estoques de petróleo, que não constituíram prejuízo à estatal brasileira por terem sido consumidos e vendidos.

O valor a ser pago pela Petrobrás subiu para US$ 639 milhões, mas como houve recurso, o montante acrescido de juros e custos legais ficou em US$ 820 milhões. No entanto, a refinaria continua sendo um ativo da empresa. Nesta sexta-feira (21) outra voz se fez ouvir em defesa do governo e da decisão de comprar a refinaria. De acordo com matéria publicada no site da Veja, Fábio Barbosa, atual presidente da Editora Abril, que edita as revistas Veja e Exame – cujas linhas editoriais são raivosamente contra o governo – se pronunciou em defesa da compra da refinaria. Barbosa era conselheiro da Petrobras, na época em que a operação foi aprovada por unanimidade pelo conselho de administração, do qual também fazia parte a presidente Dilma Rousseff.

"A proposta de compra de Pasadena, submetida ao Conselho em fevereiro de 2006, da qual eu fazia parte, estava inteiramente alinhada com o plano estratégico vigente para a empresa, e o valor da operação estava dentro dos parâmetros do mercado, conforme atestou então um grande banco americano, contratado para esse fim.  A operação foi aprovada naquela reunião nos termos do relatório executivo apresentado", declarou Fábio Barbosa.

Outros empresários, ouvidos pelo site também defenderam o negócio. O ex-conselheiro Claudio Luiz Haddad, economista e empresário, afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo que o ex-diretor da área internacional da Petrobras, Nestor Ceveró, fez apresentação consistente do negócio  e recomendou sua aprovação. Haddad também lembrou que as negociações foram assessoradas por uma instituição financeira, que deu aval às condições de compra da refinaria. "O banco atestou que o preço se enquadrava à prática do mercado, e as condições eram normais. Sendo uma apresentação consistente, não havia nada que oferecesse qualquer tipo de duvida", disse.

Por meio de nota, o empresário Jorge Gerdau Johannpeter, do grupo Gerdau, que ainda mantém cadeira no Conselho de Administração da Petrobras, afirmou que o negócio foi decidido com base em "avaliações técnicas de consultorias com reconhecida experiência internacional, cujos pareceres apontavam para a validade e a oportunidade do negócio." 

A mesma nota assegura que, ao aprovar em 2006 a operação de compra e 50% de participação na refinaria Pasadena, Gerdau  "não tinha conhecimento, como os demais conselheiros, das cláusulas Put Option e Marlim do contrato". A primeira dessas cláusulas obrigou a Petrobras, posteriormente, a comprar 100% a refinaria, o que trouxe prejuízos à estatal.