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Abílio Diniz deixa presidência do conselho do Pão de Açúcar

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O empresário Abilio Diniz anunciou na tarde desta sexta-feira que vai deixar a presidência do conselho do Pão de Açúcar, empresa fundada por sua família, de acordo com informações da assessoria de imprensa do grupo Casino. Abilio fica na BRF, uma das maiores companhias de alimentos do Brasil, criada a partir da junção da Sadia e da Perdigão. Com a saída, Abilio termina a disputa com o grupo francês Casino, acionista controlador do Pão de Açúcar.

Segundo comunicado enviado pela assessoria de imprensa do Casino, "movidos pelo sentimento de respeito mútuo, Abilio Diniz, Presidente do Conselho do Grupo Pão de Açúcar, e Jean-Charles Naouri, Presidente do Conselho do Grupo Casino, decidem terminar suas disputas e concluir sua parceria de maneira benéfica para ambos, de forma que cada um possa livremente seguir em frente e perseguir novas oportunidades".

A mensagem diz ainda que Abilio Diniz deseja muito sucesso a Naouri e ao grupo Casino. "Ele (Abilio Diniz) expressa seus desejos mais sinceros para que o Grupo Pão de Açúcar continue crescendo com suas pessoas, sua cultura e seus valores, contribuindo para o desenvolvimento do País". O presidente do Casino afirmou que tem "gratidão" pelas "muitas contribuições" de Abílio e de sua família.

Transação

O acerto envolve a troca das ações ordinárias (com voto) que Abilio tem na Wilkes, holding de controle do Pão de Açúcar, por papéis preferenciais - sem direito a voto - detidos pelo Casino, na razão de 1 para 1, melhor para o empresário do que a proporção de 0,91 estabelecida no acordo de acionistas, acrescentou a fonte.

As duas partes também encerrarão todos os litígios que têm entre si. "Abilio abre mão de todos os direitos políticos que têm no Pão de Açúcar, sai do Conselho e, ao mesmo tempo, garante liquidez com ações preferenciais", disse a fonte, que pediu anonimato.

Procurado, o Pão de Açúcar não retornou imediatamente os pedidos da Reuters por comentários a respeito do assunto. A saída de Abilio da presidência do Conselho do Pão de Açúcar, fundado por seu pai em 1948, põe fim a uma conturbada relação do empresário com o Casino.

Os conflitos começaram em meados de 2011, quando Abilio tentou unir as operações do Carrefour no Brasil ao Pão de Açúcar. O grupo francês acusou o empresário de tentar minar o acordo de acionistas na holding Wilkes. No meio de 2012, Abilio transferiu o controle do Pão de Açúcar ao Casino, como previa o acordo de acionistas firmado anos antes com o grupo francês, permanecendo como presidente do Conselho da varejista.

As desavenças entre as duas partes se agravaram neste ano, quando o empresário foi eleito para ser o presidente da BRF, uma das maiores companhias de alimentos do Brasil e que tem o Pão de Açúcar como seu principal distribuidor de produtos no mercado interno.

O Casino via conflito de interesse no acúmulo da função de chairman por Abilio no Pão de Açúcar e na BRF e insistia para que o empresário renunciasse ao cargo na rede de supermercados. Depois de transferir o controle do Pão de Açúcar ao Casino, Abilio reduziu de forma significativa sua participação no capital da varejista brasileira. Foram três leilões de venda de ações preferenciais da companhia em seu portfólio desde o fim de 2012, com os quais o empresário embolsou cerca de R$ 2,5 bilhões e diminuiu sua fatia nos papéis dessa classe para 5% do total.

O futuro presidente do conselho do Pão de Açúcar precisará ser escolhido, mas um candidato natural para assumir o posto é Ronaldo Iabrudi, diretor e representante do grupo varejista francês no Brasil.

Venda

Abilio Diniz vendeu cerca de metade de suas ações sem direito a voto no Grupo Pão de Açúcar para um grupo de investidores por cerca de R$ 490 milhões em agosto deste ano. O empresário vendeu 4.830.654 ADRs, com a operação sendo intermediada pelo banco BTG Pactual, que repassou os papéis para clientes. Antes da venda, a participação do empresário no total de ações preferenciais do Pão de Açúcar era de 5,4%.

Em abril, o empresário vendeu cerca de 8,84 milhões de ações preferenciais do grupo, em um leilão com giro financeiro de quase R$ 947 milhões, dos quais 853,3 milhões couberam a Diniz. O leilão de abril havia sido o terceiro para a venda de ações preferenciais do Pão de Açúcar pelo empresário, após transações em dezembro de 2012 e janeiro de 2013, com as quais o empresário levantou cerca de R$ 150 milhões e R$ 1,5 bilhão, respectivamente.

Disputa

Em maio, o grupo francês Casino fez um pedido arbitral à Câmara de Comércio Internacional contra Abilio por um suposto conflito de interesses pelo fato do empresário atuar também na BRF - um dos maiores fornecedores do Pão de Açúcar - sem renunciar à presidência do Conselho do Pão de Açúcar.

O grupo francês, acionista controlador do Pão de Açúcar, afirmava que houve violação da lei brasileira e do acordo que firmou com Diniz para que ele permanecesse na presidência do Conselho.

Na ocasião, Abilio descartou renunciar à presidência do Conselho de Administração. "O cargo de presidente do Conselho do Grupo Pão de Açúcar é garantido pelo contrato de acionistas da (holding de controle do Pão de Açúcar) Wilkes de maneira vitalícia", informou a assessoria de Abilio.

O empresário entrou com pedido de arbitragem na Câmara de Comércio Internacional contra o Casino no fim de dezembro de 2012. Na época a assessoria de Abilio informou que o procedimento arbitral tinha a finalidade de "assegurar que o Casino cumpra o acordo de acionistas."