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Após o consumo desenfreado, as dívidas

Economistas analisam fatores que contribuíram para a alta do endividamento das famílias

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O recorde do endividamento familiar, registrado em abril pelo Banco Central (BC), é explicado por uma série de medidas adotadas pelo governo recentemente, aliado com a atual conjuntura econômica brasileira. Para economistas, a facilidade de acesso ao crédito, a alta da inflação e dos juros e o aumento salarial são alguns dos fatores que explicam como 44,46% da renda acumulada das famílias nos últimos 12 meses se transformou em dívidas.

O índice de abril é o maior desde 2005, quando o BC começou a fazer esse cálculo. O endividamento imobiliário é o que mais contribui para o indicador. Se retirado das contas, o percentual ficaria em 30,47%. Para o BC, as famílias estão trocando dívidas de consumo por aquisição de patrimônio.

Além da facilidade de crédito imobiliário, o país vive uma situação próxima ao pleno emprego, com ascensão da massa salarial, favorecendo o consumo das famílias. No entanto, com o aumento da inflação e dos juros, e em uma economia que não retomou o crescimento imaginado, as pessoas acumularam dívidas, e não conseguem mais facilidade para sair dessa situação.

Para Viviane Seda, professora de economia da FGV, as famílias não encontram mais um cenário econômico propício para quitarem as dívidas das compras do passado. Esse novo ambiente deverá acarretar em uma maior cautela por parte do consumidor:

“Apesar de o crédito imobiliário estar maior, ele não é o único responsável. Os preços ainda estão lá em cima, puxando a inflação e forçando o governo a aumentar os juros. Depois de encontrarem uma facilidade no crédito, as famílias agora têm uma dificuldade maior para saírem da zona de endividamento”, destaca a professora.

Na visão do professor de economia da USP de Ribeirão Preto, Alexandre Nicolella, a fase de euforia do consumo já passou, e a tendência agora é que as pessoas fiquem mais contidas no momento da compra. Além da inflação e dos juros, a alta do dólar e o baixo crescimento da economia contribuem para diminuir o nível de consumo e consequentemente o índice de endividamento.

A forma com que ocorreu o crescimento da Classe C, baseado principalmente nas compras, contribuiu para que muitas famílias adquirissem dívidas. Para Nicolella, o governo adotou uma política de medidas que favorecia a ascensão do consumo da Classe C, com desonerações de impostos principalmente em linhas de produtos simples, como eletrodomésticos:

“A classe C foi o segmento que mais teve aumento da renda salarial, e que mais se beneficiou com as desonerações tributárias. Associando as políticas de incentivo, com a conjuntura econômica, na época, favorável, as famílias encontraram uma janela de oportunidade para o consumo e, assim, acabaram se endividando.", conclui Alexandre Nicolella.