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Conjuntura econômica mundial desfavorável ao Brasil

País precisa melhorar suas contas para enfrentar crise

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A euforia que tomou conta das bolsas de valores pelo mundo nesta sexta-feira (3/5), após a divulgação do nível de desemprego nos Estados Unidos, não deverá ter sustentação suficiente para reverter o quadro de crise que assola boa parte do mundo, principalmente nas regiões mais desenvolvidas do planeta. Esse cenário, aliado aos pífios resultados das contas nacionais, deverão resultar em sérias dificuldades para o Brasil este ano.

Entre os indicadores, a inflação talvez seja o que mais preocupa o governo e economistas pelo fato de ter ultrapassado o centro da meta (4,5%) e até o momento não ter dado sinais de recuo. Pelo contrário. De acordo com o Banco Central, os índices apontam para um reajuste descentralizado de preços, o que significa que a inflação está ressurgindo de forma consistente em praticamente todos os segmentos da economia. Ou seja, não se trata de elevações pontuais, como foi o caso recente do preço do tomate, que teve um forte recuo num período curto de dias.

Outro fator de pressão sobre os índices são os preços das commodities que estão em alta, mas que o governo acha que poderá haver uma reversão em breve, inclusive de derivados de petróleo. Nesse último caso, o Brasil vem importando gasolina para atender ao mercado interno, já que os preços dos combustíveis estão sendo mantidos artificialmente baixos, o que propicia um aumento da demanda.

A importação de combustíveis foi uma das principais causas do desempenho da balança comercial no mês passado que apresentou seu pior resultado para um mês de abril com rombo de quase US$ 1 bilhão e, com isso, aumentando para cerca de US$ 6 bilhões de déficit no acumulado do ano. Essa situação tende a se agravar se o crescimento econômico da China, principal parceiro comercial do Brasil, continuar dando sinais de desaceleração. Caso esse tendência se confirme para o ano, as exportações brasileiras deverão enfrentar dois problemas de uma só vez: a redução das quantidades exportadas para a China e também a redução dos preços das commodities, principal item da pauta de exportações.

A China diante da crise

A crise internacional para a China, no entanto, pode ter um outro viés e ser encarada pelo governo daquele país não só pelo aspecto econômico de redução do seu desenvolvimento, mas também sob o ponto de vista político. Que o país teve nas últimas décadas um crescimento excepcional, ninguém duvida, mas os benefícios desses resultados foram distribuídos para poucos. A maior parte da população ainda recebe salários extremamente baixos e suas necessidades básicas, como educação, saúde, transportes, alimentação, entre outros, ainda estão muito longe de serem plenamente atendidas.

Para o governo chinês, o modelo de crescimento, com um ritmo menor em alguns setores, poderia resultar num ganho político frente à grande parcela da população mais pobre do país, além de manter seus parceiros internacionais num nível também mais baixo, já que o comércio bilateral com o país é feito em níveis gigantescos, tanto em quatidade quanto em valor. Dessa forma, a China não estaria tão preocupada em desacelerar seu crescimento, pelo contrário, poderia tirar alguma vantagem dessa situação.

Para o Brasil, essa situação seria desastrosa e tudo indica que parte desse cenário possa realmente ocorrer. Além da China, a Europa vem dando sinais de que não sairá da crise tão cedo. O Velho Continente insiste em fórmulas que não deram certo para estancar a crise e que provocaram em outras partes do mundo grande retração da atividade econômica.  Na Ásia, o Japão promove uma forte expansão monetária para acompanhar a desvalorização cambial dos Estados Unidos e da União Europeia  e na América Latina a situação também não é nada boa, com a Argentina, principal parceira do Brasil no Continente, tendo problemas graves de inflação e câmbio, além de outros países que enfrentam dificuldades econômicas e políticas.

Entre os vários remédios que vem sendo ministrados pelo governo brasileiro para manter o desenvolvimento econômico, mesmo que bastante reduzido, é de estimular o consumo e até financiar parte dele com desonerações fiscais. Essa política, no entanto, terá como efeito colateral um impacto na meta do superávit fiscal estabelecido em 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB) para 2013 e 2014. Circula na área econômica do governo uma proposta de se retirar desse cálculo o resultado orçamentário dos Estados e Municípios, mas mesmo com essa maquiagem, o superávit deste ano poderia ficar abaixo de 2%.

A expectativa do governo é de que no segundo semestre, os números referentes a investimentos do setor privado, principalmente do segmento industrial, possam apresentar crescimento. Caso isso corra, representará um reforço para estimular a economia, junto com as medidas que estão sendo tomadas pelo executivo. De acordo com estimativa da Confederação Nacional da Indústria, esses investimentos poderiam chegar, ao longo do ano, a cerca de 4%.