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Declaração de chefe do FMI repercute no Brasil 

Economistas não têm consenso com Blanchard

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Em entrevista dada ao Valor Econômico, o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, afirmou que o potencial de crescimento do Brasil é menor do que o imaginado pelas autoridades internacionais. Como resultado, o FMI reduziu a expectativa  do crescimento brasileiro para 3%,  0,5% a menos que a previsão anterior. O anúncio, porém, não teve consenso entre economistas brasileiros. 

A declaração de Blanchard foi uma explicação sobre as causas para o Brasil apresentar, ao mesmo tempo, um  baixo crescimento econômico e uma inflação alta. Presente na reunião anual entre o Banco Mundial e o FMI, que se iniciou na última sexta-feira (19), em Washington, e durou todo o final de semana, ele, assim como outros dirigentes, fez análises e previsões para os rumos da economia mundial. O otimismo em relação ao futuro do Japão, que adotou diversas medidas para combater o estado de deflação, não se repetiu quando perguntado sobre a situação brasileira.  

Segundo o economista-chefe do FMI, não há mais um sentimento de surpresa ao perceber que a economia no Brasil não reage de forma vigorosa, mesmo após as medidas de combate adotadas pelo governo, como desonerações tributárias. Para ele, o PIB potencial brasileiro, ou seja, a capacidade que um país tem em produzir e crescer, sem sofrer pressões inflacionárias, já não é muito alto.     

O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, concorda com Blanchard, quando ele analisa que há uma desaceleração econômica em curso no Brasil. Para Perfeito, entretanto, esse processo indica que a situação inflacionária não é preocupante:

"A declaração faz sentindo. Olhando diversos dados, como os de varejo ou os da balança comercial, vimos que há um déficit sugerindo um processo de desaceleração econômica. Concordo que o PIB potencial esteja baixo, mas não acredito que haja uma inflação alta", explica. 

Já o economista e professor da Unicamp, Pedro Rossi, discorda dessa visão mais "pessimista" e é enfático ao afirmar que o conceito de PIB potencial é viciado, e não representa fielmente o poder de produção de um país. Ele avalia que o conceito é raso e que o Brasil tem capacidade de crescimento acima do projetado:

"No Brasil esse conceito saiu de moda quando o PIB começou a crescer sistematicamente acima do PIB potencial projetado pelos "especialistas", sem gerar pressão inflacionária. A inflação corrente não tem relação com o PIB potencial. São fatores estruturais conjugados com outros conjunturais", lembra Rossi, que defende a importância dos incentivos políticos para a aceleração econômica. 

André Perfeito concorda com Rossi na questão da supervalorização do conceito de PIB potencial e acredita que ele "não explica direito o fenômeno" que encontramos no Brasil. No ano passado, por exemplo, o índice de consumo das famílias foi acima do PIB anual. No entanto, ele não é otimista em relação ao crescimento econômico para esse ano:

"Para mim, Blenchard foi até otimista. Eu estou trabalhando com uma previsão de crescimento de 2,1%", finaliza.  

* Do projeto de estágio do Jornal do Brasil