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Após IPCA, especialistas avaliam aumento da Selic

Para Mantega, porém, "inflação está sob controle"

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Diante dos números do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)anunciados nesta quarta-feira (10) pelo IBGE,  a possibilidade de aumento da Selic volta a ser ventilada por analistas. Isto por que a alta de 6,59%  no período acumulado dos últimos 12 meses superou o teto da inflação de 6,5% estipulado pelo governo. Por outro lado, a desaceleração inflacionária frente ao último mês é celebrada pelas autoridades.    

Em março, a taxa variou 0,47%, abaixo do 0,60% registrado em fevereiro. Somente o setor de alimentos foi responsável por 60% do índice deste mês. Artigos como cebola, acaí, farinha de mandioca e tomate ainda apresentam variações elevadas. Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, no entanto, a situação inflacionária está sob controle e a alta de preços, principalmente na alimentação, são índices sazonais, que decorrem de períodos de entressafra e chuvas.   

Ações emergenciais

Para o o coordenador do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Santa Marcelina – FASM, Reginaldo Gonçalves, a tendência do estouro da meta fixada de inflação já se torna realidade. “Mesmo com a desaceleração de preços de alguns itens, a inflação apontada pelo IBGE no mês de março/2013, de 0,47%, avança para a taxa anualizada de 6,59%, o que poderá gerar ações emergenciais na equipe econômica e a possibilidade de aumento da taxa Selic para controle inflacionário”, avalia.

Já segundo o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, "o pior já passou". Na linha do discurso do ministro, Perfeito aposta na trajetória de desaceleração da inflação e não acredita no aumento da Selic:

"O Banco Central (BC) vem fazendo o possível. Um aumento na taxa de juros não irá solucionar o problema. Precisamos entender que estamos em um período de desaceleração econômica. O que seria o "trabalho sujo" da Selic já está sendo feito pela própria conjuntura econômica. Ano passado passamos por uma revolução monetária, jogando o juros abaixo da poupança. Isso pede um custo", alertou.

Recentemente, o governo anunciou pacotes de medidas para conter a inflação, que incluíam desonerações tributárias para setores industriais e para produtos da cesta básica. Para André Perfeito, as medidas de desoneração ajudaram no processo de desaceleração inflacionária, mas ainda não há como ter uma real noção do seu impacto. "Com a queda da taxa de juros, houve uma folga no orçamento do governo. É correto que a sociedade seja recompensada com as desonerações, mas o processo está sendo feito de forma tumultuada, fica um sentimento difuso", finalizou.  

Custo e estrutura

O economista Pedro Rossi, professor da Unicamp, analisa a inflação sob o ponto de vista de dois fatores: o custo, principalmente do alimento e transporte, e o estrutural, hoje definido pela política de distribuição de renda e aumento do salário mínimo. 

"Há um aumento do custo do trabalho, que é bem vindo, e a inflação é decorrente disso. Também existe uma nova classe de consumo, à qual a oferta demora a se adequar", explicou Rossi. 

Para o economista, que faz coro a André Perfeito, não há um aquecimento da produção brasileira que justifique o aumento da taxa de juros:

"Considerando os fatores, principalmente o estrutural, o aumento não se configura como um bom instrumento. Os juros têm um efeito limitado e prejudicial ao investimento, que vem caindo nos últimos trimestres. Precisamos nos acostumar a algo que é estrutural", afirmou, lembrando que é necessário considerar a meta anual para o IPCA, e não apenas os últimos 12 meses.