O grupo Pão de Açúcar (GPA) e seu controlador, Casino, podem sofrer consequências com a batalha judicial que envolve a distribuição da herança de Arthur Sendas, fundador da rede de supermercados Sendas morto em 2008. De acordo com o jornal Valor Econômico desta quarta-feira (30), um dos herdeiros - neto de Sendas - quer parte do dinheiro pago pelo Pão de Açúcar no ato da compra da marca e aluguel das lojas.
João Arthur Mello Sendas é filho e único herdeiro de João Antônio Sendas, morto há cerca de dez anos. Segundo a reportagem, o jovem teria entrado com um processo contra os seus tios para tentar receber a parte da quantia da operação.
Laért Vieira, advogado dos herdeiros Nelson Sendas, Arthur Sendas Filho e Márcia Maria Sendas, nega os fatos relatados por João Arthur, esclarecendo que o inventário do empresário Arthur Sendas tramita sob segredo de Justiça e afirma que, até onde é dado saber, não há ação movida por ele contra os demais herdeiros. Laért Vieira reforça que João Arthur vem recebendo regularmente adiantamentos do espólio, na medida do seu quinhão hereditário. Por fim, esclarece o advogado que João Arthur não tem qualquer relação com o acordo estabelecido entre Empresa Sendas SA e o Grupo Pão de Açúcar.
Bolsas notificadas
As bolsas de valores de São Paulo e de Nova York serão notificadas sobre o caso para que os investidores saibam que através da ação a Justiça pode bloquear parte dos pagamentos que o Pão de Açúcar faz à família Sendas.
Conforme informa a publicação do jornal, João tenta receber parte do espólio e a pensão alimentar a que teria direito até o fim dos seus estudos desde que morreu o avô, por meio de um processo que corre na 6ª Vara de Órfãos e Sucessões do Rio. O herdeiro, que mora em Nova York, foi sustentado pelo avô até a sua morte, mas depois disso, um de seus tios teria cortado os pagamentos.
Em 2003, o Pão de Açúcar comprou 60% do grupo Sendas e, em 2011, após intensa discussão na Justiça, comprou os 40% restantes da varejista. O valor foi dividido em sete parcelas. Mas, a compra não incluiu a propriedade das 55 lojas que a família tinha no Rio de Janeiro, o que faz com que o GPA pague aluguéis pelo uso das lojas. De acordo com uma fonte da reportagem, o valor arrecadado pelos aluguéis também não são divididos com o neto de Arthur, que atualmente conta com o apoio financeiro da mãe Carla Silveira e dos avós maternos.
João tinha 13 anos quando aconteceu a morte do seu pai, passando a ter suas despesas assumidas pelo avô. Quando completou 18 anos, Arthur Sendas teria cortado parte dos pagamentos, porém foi determinado pela Justiça que o avô deveria manter as mesmas despesas até que João terminasse os seus estudos. No entanto, com a morte de Sendas, o acordo legal passou a ser descumprido.
O neto do fundador da rede de supermercados teria tentado acordar com os tios o pagamento de algumas despesas, mas segundo informa a reportagem, este não acontecia de forma regular, fazendo com que o jovem pagasse a sua faculdade de economia em Nova York com a ajuda dos avós por parte de mãe e a renda de dois imóveis que herdou do pai.
O herdeiro também teria reclamado que os parentes deixaram de pagar o aluguel do apartamento onde morava a sua mãe e que ele morou, em São Paulo, sem sequer avisarem do corte. E, com um acúmulo de dívida de R$ 400 mil, um dos apartamentos herdados foi leiloado por decisão judicial em setembro de 2012. O bem, avaliado em aproximadamente R$ 7,5 milhões, foi leiloado pro R$ 2,95 milhões. Pela defasagem do seu real valor, a mãe de João, Carla, estaria tentando fazer com que voltem atrás no leilão do apartamento e o avô materno de João hipotecou um imóvel seu para depositar em juízo o valor da dívida.
Devido às irregularidades na divisão das rendas e a falta de negociação entre os parentes, João Arthur decidiu por acionar judicialmente os seus tios, já que não participou do espólio e não recebe uma parcela da renda que sustenta toda a família de Sendas.