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Taxas bancárias elevadas permitiram ao Bradesco um dos melhores trimestres

Instituição foi a primeira dos grandes bancos a divulgar seu resultado em 2012

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Primeiro dos grandes bancos a divulgar seu resultado no quarto trimestre de 2012, o Bradesco teve no ano passado seu melhor desempenho na história, com lucro contábil de R$ 11,3 bilhões. Trata-se do quarto melhor resultado do setor. Ainda assim, o resultado desagradou o mercado financeiro que apostava em um lucro ainda maior.

Para especialistas,  o spread bancário - diferença entre os juros básicos da economia (Selic) e os juros cobrados por bancos - permanece muito elevado e permitiu tal resultado. Apontam ainda que os bancos privados estão compensando as reduções das taxas de crédito dos bancos públicos - Banco do Brasil e Caixa - elevando a taxa cobrada por serviços, como a administração da conta corrente.   

Com o anúncio - esperado, mas abaixo das projeções do mercado financeiro - as ações do Bradesco caíram mais de 3% na Bolsa de Valores de São Paulo ontem. Nesta terça-feira (29), as ações preferencias mantiveram a espiral de queda, desvalorizando-se 1,15%. No mercado, alguns fatores foram apontados como responsáveis pelo resultado inferior ao esperado, nenhum deles de responsabilidade do próprio banco: o baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do ano passado e a alta inadimplência. 

"Margens exorbitantes" 

Para o professor da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP), Samy Dana, o resultado explicita as "margens exorbitantes" de lucros que as instituições bancárias têm no Brasil. Ele destaca que há pouca concorrência no setor e a população tem pouca educação financeira, o que gera "ganhos oportunistas". 

"Todo resultado tem dois lados. No caso do setor bancário, quem paga a conta é a sociedade que tem de arcar com as taxas mais altas do mundo. O spread caiu pela metade e ainda é a taxa mais alta do mundo", criticou.

A carteira de crédito do Bradesco, segundo dados do banco, cresceu 11,5%, frente a projeções entre 13% e 17%. Esse aumento ficou abaixo da média do país, de 16,7%, por conta das baixas taxas praticadas pelos bancos públicos e pela maior cautela do Bradesco nos financiamentos.

O presidente da instituição, Luiz Carlos Trabuco Cappi, disse que este ritmo está adequado ao crescimento do PIB no ano passado. O professor de finanças do Ibmec, Nelson de Sousa, avalia que para compensar essa perda, houve aumento das taxas de serviços, como cobrança de tarifa, administração de uma conta e taxa para transferência. 

"A redução da taxa básica de juros é um fato que tem sido compensado com mudança na tarifa de cobranças de serviços. De um modo geral, a atividade de crédito também deu uma travada. O PIB virá fraco e isso reflete no resultado e na diminuição dessa atividade", destacou Sousa.  

Inadimplência, spread e cheque especial

Segundo Dana, o negócio principal de um banco é emprestar e captar dinheiro. Para ele, querer apontar a inadimplência como causadora da redução da oferta de crédito e, por consequência, do lucro, é uma "desculpa":    

"O banco não é obrigado a emprestar dinheiro para ninguém. Se ele empresta mais, ele precisa arcar com a inadimplência. É como um restaurante que cobra preços exorbitantes e alega que o preço é assim porque os funcionários desperdiçam comida. A inadimplência pode ser fruto de um sistema de crédito frágil, e o banco tem controle sobre isso", afirmou Dana. 

Para o professor da FGV-SP, é preciso diminuir o spread bancário, porque o juro real - taxa básica subtraída da taxa de inflação - não chega nem a 2%. "O problema é emprestar no cartão de crédito e no cheque especial e cobrar juros de 200% ao ano. É um mar que a ignorância reina e os bancos nadam de braçada. Isso só existe por falta de educação financeira. Se fala muito do Custo Brasil, mas pouco se fala do 'Lucro Brasil', essas margens exorbitantes de lucros que alguns setores da nossa economia têm", disparou Dana. 

Ele analisou ainda que a poupança rende um pouco mais do que 5% ao ano, enquanto o cheque especial tem juros de 9% ao mês. "Em um mês, cobra-se mais do que se leva um ano para ganhar. Cartão de crédito e o cheque especial ultrapassam 200% de juros ao ano, e são as duas modalidades mais utilizadas, segundo o Banco Central. Dever no cheque especial é um suicídio financeiro", classificou.

Falta o BC disciplinar as taxas

Nelson Sousa ressalta que os números dos outros bancos também devem sair bastante favoráveis. Segundo ele, a política econômica do governo de reduzir os juros e ampliar o crédito com taxas menores não atrapalhou a rentabilidade das instituições privadas e, em certos aspectos, aumentou sua credibilidade.

Ele defende ainda que a diminuição acelerada das taxas de crédito em bancos públicos pode acabar caindo no bolso do contribuinte, enquanto os bancos privados preferem seguir passos mais seguros e "não cumprem meta sacrificando a rentabilidade". 

"A redução dos juros não é necessariamente ruim para os bancos, pois a compensação é feita em serviços, que são cobranças mais seguras. Cabe ao Banco Central disciplinar mais essa questão", apontou.