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Técnicos confirmam o governo: é baixo o risco de um racionamento de energia 

Custo da energia deve subir e é desafio para as autoridades

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Quem espera um racionamento de energia para este verão já pode dormir mais tranquilo. Para alívio do governo, as  chances de que o cenário de 2001, na era dos tucanos, se repita com os petistas são pequenas a curto prazo, confirmam especialistas ouvidos pelo Jornal do Brasil, fazendo coro ao que dizem as autoridades federais.

O baixo nível dos reservatórios nas principais hidrelétricas do país levantou rumores de que seria necessária uma redução da oferta de energia. Porém, para Jorge Alcaide, diretor de Energia da Wärtsilä, empresa de soluções energéticas, o cenário atual é "muito diferente" daquele de 12 anos atrás e não "existe possibilidade" de se viver a necessidade de uma nova economia energética. 

Segundo o especialista, a construção, a partir de 2005, de usinas termelétricas à base da queima de carvão está sendo fundamental para garantir a demanda energética, mesmo em condições naturais adversas. "É importante ter este tipo de fonte de energia como 'back-up', como um seguro para momentos como este. Elas precisam existir pois não dependem do clima, do tempo. São mais poluentes e caras sim, mas é como um seguro de carro: você não quer usar, mas paga todo mês para emergências", afirma. 

Nesta terça-feira (9), o secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmerman, garantiu que não há riscos. “Não tem nenhuma hipótese de racionamento no horizonte que nós trabalhamos”, afirmou.

Situação de risco

O engenheiro Luis Gameiro, diretor da consultoria Trade Energy, é mais cauteloso na sua análise. Para ele, ainda não se pode falar em racionamento nos próximos meses, mas dependendo do comportamento das chuvas, que são esperadas com mais força até março, a situação pode se agravar. "Existe uma previsão de chuvas, mas elas estão abaixo do esperado. Ainda estamos no início do período úmido, mas se até o final esta situação persistir, aí pode ser que haja alguma coisa mais crítica", avalia. 

A questão, no entanto, vai além do risco de racionamento. A produção energética a partir das usinas termelétricas é bem mais custosa do que a hidrelétrica e este valor extra deve ser repassado ao consumidor. O economista Julio César Insaurralde, presidente da consultora Verax, acredita que os maiores problemas na escassez de chuvas se darão exatamente por esta elevação dos custos. "Quando a oferta de hidroeletricidade cai, entra a energia térmica para dar cobertura, que tem custos de produção e geração mais altos". 

Redução no custo da luz pode ser menor

Neste cenário, as prometidas reduções na taxa de luz, anunciadas em setembro pela presidente Dilma Roussef, poderão ser menores do que o inicialmente previsto. O Brasil tem atualmente o quarto maior valor de energia elétrica do mundo. Com as reduções, passaria para a oitava posição, ainda atrás de Chile, México e Estados Unidos, por exemplo.

A diminuição dos custos é fundamental para que o setor industrial volte a ser competitivo e o Brasil acelere o crescimento da sua economia, além de reduzir os gargalos de infra-estrutura do país, apontados por economistas e especialistas do setor industrial como um de nossos entraves. 

Para que a luz tenha um preço mais competitivo, o governo brasileiro propôs reduzir os tributos, que correspondem a 50% do seu preço final na energia residencial. O estudo "Quanto Custa a Energia Elétrica para o Brasil", da Firjan, mostra que o Brasil detém outro recorde mundial nos tributos ao se falar da energia destinada ao setor industrial: são 14 impostos que representam 17% do valor final cobrado aos industriais.

"As tarifas de energia elétrica junto à indústria brasileira impactam em demasiado sua competitividade, sob qualquer ótica que se observe. Empresas de todos os portes e segmentos são afetadas em todas as regiões do país, em especial nos estados com maior contribuição para a produção industrial brasileira", analisa o estudo.

Sinuca de bico

Os problemas acabaram colocando o governo em uma sinuca de bico. As reduções na conta de energia elétrica contribuirão para o crescimento mais acelerado do país nos próximos anos. Porém, com um PIB mais alto e uma demanda maior por energia, os riscos de um racionamento aumentam, caso as chuvas voltem a "atrasar". Os investimentos em outras matrizes energéticas, segundo o governo, têm acontecido, mas o ritmo de construção é lento frente aos problemas enfrentados pelo país.

Porém, as ameaças de que a aceleração do país volte a sobrecarregar o setor elétrico não assustam Alcaide. "Se não estivéssemos fazendo nada para suprir esta demanda teríamos problema, mas há um série de usinas geradoras que deverão entrar em funcionamento neste próximo ano, e conseguirão fazer frente a esta demanda", afirma. 

É nesta conjuntura que se dá a reunião ordinária do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), marcada para esta quarta-feira (9), às 14h30, presidida pelo ministro Edison Lobão (Minas e Energia). A gravidade da situação fez com que a presidente adiantasse o final de suas férias para esta terça (8), a fim de participar da reunião em Brasília.