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De olho no consumidor emergente, Casas Bahia inaugura filial em plena Rocinha 

Segundo estudos do IBGE, classe C subiu de 29% para 66% entre 2001 e 2011, no Rio

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Correndo atrás da explosão de consumo pela qual o Brasil passou nos últimos anos, em especial a emergente classe C, a rede de lojas Casas Bahia inaugurou nesta terça-feira (6) sua filial na Rocinha, na Zona Sul do Rio, a primeira desta rede varejista em uma favela na cidade. Segundo o presidente do Conselho da holding Viavarejo, Michel Klein, que controla também a rede Ponto Frio, esta é a primeira de muitas unidades em comunidades cariocas. 

O interesse da varejista é justificado: pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que as favelas do Rio movimentam R$ 13 bilhões por ano. De 2001 a 2011, a quantidade de moradores de comunidades que pertencem à famigerada classe C cresceu de 29% para 66%, expondo um potencial de consumo voraz. 

"Quantas comunidades forem pacificadas, nós teremos uma loja das Casas Bahia", disse, empolgado, Klein. "Já temos uma loja em construção no Complexo do Alemão, em um imóvel alugado para que tenhamos condição de também atender a comunidade de lá".

A abertura da loja estava marcada apenas para as 10h desta manhã, mas desde a madrugada já havia pessoas na fila para garantir as compras. O clima dentro da loja era de uma legítima festa, com música e distribuição de comidas. Klein, contudo, frisou que toda a mão de obra da unidade é de moradores da Rocinha.

"Os colaboradores já estavam locados em outras lojas e os transferimos para cá para ficarem mais próximos de suas casas. Foi uma vantagem muito grande para eles porque ficam muito tempo presos no trânsito. Admitimos por volta de 40 a 45 pessoas, e demos preferência para quem é da comunidade", revelou. 

Concorrência pós-UPP

A inauguração dá largada a uma grande concorrência entre as lojas varejistas cujo público alvo são as classes C, D e E em regiões pacificadas. A poucos metros de distância das Casas Bahia da Rocinha, funcionários da Ricardo Eletro, que inaugurou loja na favela em outubro do ano passado, panfletavam anunciando 10% de desconto em qualquer preço da rival. Segundo a Viavarejo, a expectativa é de 30 mil a 40 mil vendas mensais na unidade da Rocinha, número que deve dobrar com a chegada do Natal. 

"Essa loja deve ter um percentual de vendas maior do que as outras lojas, porque a expectativa aqui era muito grande. Algumas pessoas chegaram às 3h, 4h da manhã, e quiseram ser as primeiras a fazer o seu crediário, seu cartão de crédito. Hoje, estamos prontos para atender todos que vierem fazer sua compra", afirmou Klein. 

O presidente também complementou que, com a redução da taxa básica de juros (Selic) ao nível histórico mais baixo - segundo ele, "praticamente imposto" pelo governo" - , a rede pôde repassar esse corte aos consumidores e aumentar suas vendas. "À medida em que os bancos abaixaram para a gente as taxas de juros, repassamos isso ao consumidor. Hoje, temos produtos de juros mensais na ordem de 2,80%, 2,40% até 1,99%", disse.  

Com esta unidade, a Viavarejo chega à sua 18ª inauguração no ano, e projeta ainda de 10 a 12 novas lojas pelo país. De acordo com Klein, a previsão é de que as vendas aumentem de 9% a 9,5% no último trimestre deste ano em relação a 2011, quando o faturamento registrado foi de R$ 7,6 bilhões e lucro líquido de R$ 6,265 bilhões. A previsão do presidente é de que o crescimento no ano atinja 8% em relação ao ano anterior. 

Controle

A Viavarejo, por sua vez, é controlada pelo Grupo Pão de Açucar, cujos acionistas são a Wilkes, com 25,5%, o Grupo Casino, com 27,5%, e Abílio Diniz, com 13,5%. Os controladores do grupo protagonizaram, em maio deste ano, uma grande disputa no mercado de capitais, o que gerou certa apreensão na mudança da presidência da holding varejista, que acontece neste mês. De acordo com o presidente da Viavarejo, o contrato, assinado em 2010, quando a empresa foi a partir da união entre Casas Bahia e Ponto Frio, será respeitado. 

"Quando foi assinado o contrato há dois anos atrás, já sabíamos que ia ser colocada uma presidência profissional. Para nós, não é novidade. Se você tem um contrato de uma casa, você fica lá dois anos, e quando vence o contrato ou renova, ou sai. Vencidos os dois anos do contrato, vai assumir uma pessoa indicada pelo grupo Pão de Açucar", informou. 

O novo presidente será conhecido somente no dia 21 de novembro e será empossado no cargo no dia seguinte. "Há mais de dois anos se demorou para chegar a um acordo. Depois que assinou o acordo, se esquece do restante", completou Klein.