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Queda na indústria evidencia investimento baixo e futuro ruim

Especialistas analisam números divulgados nesta quinta (1) pelo IBGE

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A produção industrial caiu 1% em setembro na comparação com o mês anterior. Mas, segundo o economista Mauro Rochlin, professor do Ibmec, o problema não é o número "em si", mas a disseminação desta queda nos diversos setores da indústria. "A desaceleração aconteceu de maneira muito espalhada com um grande número de setores com desempenho ruim. Isto sim é o mais preocupante", afirmou.

Os números são da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF), divulgados nesta quinta-feira (1) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Frente a setembro de 2011, a queda da produção industrial foi de 3,8%. É o 13º resultado negativo neste tipo de comparação.

>> Produção industrial cai 1,0% em setembro

Outra fator alarmante, segundo o especialista, é a expressiva redução de 4,8% do setor de "Máquinas e Equipamentos", que faz parte do cálculo da Formação Bruta de Capital Fixo, que representa o nível de investimento no país. "Este setor tem andando muito mal, e isso representa que ainda teremos um futuro ruim, pois sem investimento não há crescimento industrial, ou da economia como um todo", analisa. 

Se o investimento é um dos grandes entraves para a retomada do crescimento, Rochlin sugere que o governo seja mais eficiente ao acelerar os marcos regulatórios, determinando quando serão feitos os leilões para concessão do Pré-sal e exploração de energia.

"Muita gente tem reclamado que os debates sobre estes marcos tem deixado a desejar. É preciso ter cuidado, mas também agilidade para definir logo isso e impulsionar novos investimentos", afirma. 

Para o economista Paulo Gala, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV/SP), as medidas de estímulo anunciadas pelo governo ainda não fizeram efeito, mas estão na medida certa. "O governo está tentando, mas o cenário externo é nebuloso e vai limitar os benefícios que estas medidas poderão trazer"

Causas da queda

A comodidade do setor automobilístico e a limitação do consumo interno são causas apontadas por Rochlin para os números negativos. Ele afirma que com a prorrogação na redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), a "empolgação" dos brasileiros em comprar veículos - que havia registrado aumento significativo em agosto - diminuiu, refletindo nos números.

"O consumo por si só não está se mostrando capaz de absorver uma produção que dê para expandir a indústria", afirma.

Já para Gala, o principal fator que atrasa a retomada da indústria ainda é o cenário externo. "Não vamos conseguir resultados exuberantes enquanto os dados da Europa continuarem a piorar, o que vem acontecendo", analisa. 

As festas de final de ano animam os comerciantes e podem incentivar a indústria. Gala acredita que este ano, no entanto, o impacto será pequeno, devido ao aumento nas importações. "As vendas vão aumentar e beneficiarão as indústrias. Porém, parte desta demanda será preenchida pelas importações, que têm aumentado muito. Este mês mesmo, tivemos queda na indústria e aumento de quase 10% nas vendas em shopping centers", aponta. 

É preciso esperar que a economia europeia ganhe força e o globo volte a registrar crescimento. "E isto está fora do nosso controle", lamenta Gala.  

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