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Alta do IPCA foi puxada por alimentos e seca nos EUA

Especialistas apontam a inflação deste ano acima dos 5%, acima da meta de 4,5%

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O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo IBGE nesta sexta-feira (5), apresentou variação de 0,57% em setembro e ficou 0,16 ponto percentual acima da taxa de 0,41% registrada em agosto. Para especialistas, a alta ainda reflete a seca dos Estados Unidos, que afetou o abastecimento do mercado de alimentos no mundo. Com o resultado, os economistas acreditam que a inflação no ano ficará acima dos 5% e se dividem quanto à possibilidade de retomada de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no último trimestre. 

"O resultado do IPCA ainda é efeito da alta dos alimentos e deve contaminar o próximo mês. Está relacionado à seca dos Estados Unidos de julho. Isso deve colocar o índice em quase um ponto acima do que o governo esperava", explica o professor de economia da Escola de São Paulo-FGV/SP, Paulo Gala.

Os alimentos apresentaram alta de 1,26% no mês passado. O grupo de alimentação e bebidas avançou 0,38% em relação ao dado de agosto, de 0,88%. Esse setor foi responsável por 53% do resultado do IPCA de setembro. 

O professor de economia da ESPM-RJ, Roberto Simonard, endossou a alta dos alimentos como o principal vetor do resultado do IPCA. Segundo ele, grãos como soja e milho, além de ser vendidos à população, são utilizados na ração de aves e suínos, o que acarreta no aumento do preço dessas carnes. "Além disso, o Brasil teve uma safra de arroz que não foi boa. Esse produto é muito importante no país", complementou Simonard.

Contudo, para o professor da FGV/SP, essa alta de preços vai passar, por se tratar de uma subida em nível que será ajustada depois. "O que poderia ter sido feito era deixar o câmbio se apreciar, para o patamar de R$1,90, R$1,95 em relação ao dólar, mas o governo não quer isso porque atrapalha a indústria", analisa. 

Em relatório, a corretora Gradual Investimentos apostou na manutenção da Selic em patamares baixos por "um longo tempo". "A parte longa da curva de juros caiu e isto é positivo, finalmente o BC ganhou a guerra pelo novo consenso sobre os juros de longo prazo e fica evidente que taxas acima de 10% não fazem mais sentido neste pedaço emergente do mundo", revela trecho do documento.

Segundo a corretora, a inflação é vista pelo mercado como inevitável para os próximos anos. "Com corte ou sem corte na reunião do COPOM semana que vem pouco importa: a SELIC ficará estável em patamares historicamente baixos por muito tempo, e por muito tempo entendemos SELIC em 7,5% até o final de 2013.

Nas próximas terças e quartas-feiras (9 e 10), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) se reúne e decide sobre o rumo da taxa Selic. Os rumores no mercado também dão conta de uma possível redução em 0,25% no atual nível, chegando a 7,25%

Inflação e quarto trimestre

Segundo Gala, a taxa de inflação em 2012 deve ficar entre 5,2% e 5,3%. Ele projeta que a taxa básica de juros (Selic) deve ser mantida no atual nível, de 7,5%. "Meu palpite é de que o Banco Central não vai reduzir a taxa básica de juros e deve segurar a Selic neste patamar por um bom tempo", aposta. "Acho que o BC está acomodando o choque de alimentos. A economia brasileira está parada, não seria interessante se mover para trazer a inflação para a meta a qualquer custo. Se ele reagisse, aumentando os juros, colocaria o PIB no território negativo e teríamos recessão". 

A projeção é compartilhada por Simonard, que não acredita numa taxa inflacionária para 2012 abaixo dos 5%. Entretanto, o professor da ESPM acredita em um crescimento mais acentuado da economia no último trimestre deste ano. 

"Os últimos dados da indústria apontaram para crescimento no quarto trimestre. O governo tomou uma série de medidas, monetárias e fiscais, expansionistas: reduziu impostos, deu alguma proteção ao setor, reduziu a taxa de juros. Não é possível que essas medidas não tenham resultado", avaliou Simonard. "O crescimento deve ser ajudado ainda pelo Natal. Não acredito que será extraordinário, mas estará acima do que tem sido nos últimos tempos, medíocre. Sou mais otimista, acho que o crescimento do PIB bate 2% neste ano".

Segundo ele, nos últimos anos o setor industrial tem puxado o PIB para baixo. "Os setores agrícola e de serviços cresceram, claro que não foram resultados exagerados, mas o problema é que a indústria tem resultados mensais muito ruins. No entanto, em agosto, a indústria cresceu 1,5%. Isso ajudará um pouco mais as outras áreas", afirmou.