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Maria da Conceição: otimismo para Brasil, pessimismo para Europa

Economista participou de seminário sobre crise mundial

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Há motivos para otimismo com o futuro do Brasil, mesmo diante do agravamento da crise econômica internacional. No caminho inverso, a Europa não parece encontrar soluções para os seus problemas e só há razões para “pessimismo”, principalmente para os países periféricos, ou seja, todos com exceção da França e Alemanha. Esta foi uma das muitas questões abordadas pela economista Maria da Conceição Tavares, professora emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), durante o Seminário Internacional “A crise mundial e os desafios de um novo padrão de desenvolvimento”.

Uma das mais conceituadas economistas do Brasil, Conceição criticou duramente as políticas de austeridade promovidas pela Alemanha, que, segundo ela, não parece mais se importar com as condições dos outros países do continente. “Eles antigamente dependiam mais do mercado europeu, mas agora já ampliaram suas relações para a China e outros países. É o que acredito, porque se eles realmente fossem afetados iriam tomar alguma atitude”, afirmou.  

A professora citou o alto grau de endividamento das nações europeias, que chega a 100% do PIB (Produto Interno Bruto) de suas economias, que acabou por engessar as políticas de investimento e expansão de crédito. “Não há confiança por parte dos bancos privados para emprestar, fazer empréstimos interbancários, nem para oferecimento de crédito. Os salários estão em queda”, analisou.

A falta de diálogo entre as autoridades do velho continente contribui para que não se tome nenhuma decisão no enfrentamento dos problemas, segundo ela.

E acrescentou: "as instituições estão se utilizando do mercado brasileiro, por exemplo, para manter seus lucros, é só olhar o aumento na remessa de lucros que ocorreu durante a crise. O Santander, por exemplo, 1/4 de seus ganhos está no Brasil". 

Brasil

O Brasil, no entanto, está bem preparado para um possível agravamento nas condições externas, acredita Maria da Conceição. “Pela primeira vez temos reservas, não estamos endividados. As consequências em 2008, pelo menos para a população nas questões de emprego e renda, foram indolores, pois continuamos ampliando o mercado de trabalho”.

Segundo destacou, os bancos públicos tem papel essencial em momentos de turbulência econômica, já que fomentam o financiamento e o investimento. 

"As políticas anti-cíclicas do governo, nas áreas fiscais e monetárias, contribuíram para que o país continuasse a crescer e expandir seu mercado. Mas é preciso que a taxa de juros caia ainda mais, fique em níveis internacionais, para que possamos aumentar o nível de investimento público e privado, que hoje, é o que mais precisamos", discursou. 

Alguns aspectos da realidade nacional se mostram favoráveis no enfrentamento do momento europeu ruim, como a demanda por investimentos públicos, que acaba fomentando o mercado interno, a não-dependência em matérias-primas (como petróleo, por exemplo) e o baixo nível de endividamento. "O que precisamos é fazer proteção aos nossos produtos, implícito ou não. Vivemos em uma era extremamente competitiva", opinou. 

Porém, o maior desafio para o país, segundo ela, é continuar com o processo de inclusão social e ataque as desigualdades de renda e sociais que começaram com o governo do presidente Lula (2003-2010). "Não adianta ter crescimento, sem que a população ganhe com isso", argumentou.

Mas, para a economista, um dos grandes riscos que o país corre com o agravamento do cenário externo é uma desnacionalização industrial. 

Histórico e críticas

Na apresentação, a especialista ainda fez um breve apanhado histórico da economia nacional e criticou as políticas neoliberais implementadas pelo presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) durante o seu governo. "Nós fizemos em quatro anos o que demorou 14 para a Tatcher, o que acabou interrompendo um processo de industrialização que acontecia fortemente no país", comentou. 

Maria da Conceição ainda citou o pré-sal como um investimento a longo prazo, e diminuiu a euforia em cima da riqueza. "Todo mundo queria um pouco, mas agora já se percebeu que isto é mais pro futuro. Eu discordo de algumas políticas em relação ao petróleo. Sou contra, por exemplo, a redução da carga fiscal, como quer a Maria das Graças Foster, por exemplo", analisou.