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Inadimplência alta é reflexo da desaceleração econômica do Brasil

Segundo especialistas, endividamento diminuirá com crescimento maior do PIB

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O recorde de inadimplência dos brasileiros, que segundo dados do Banco Central divulgados nesta terça-feira, atingiu 6% em maio, é reflexo do baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país, afirmam economistas ao Jornal do Brasil. Apenas a retomada de investimentos públicos aliviará o bolso dos brasileiros, segundo especialistas.

Além disso, o comprometimento da renda das famílias para o pagamento das dívidas também aumentou, destaca o economista Luiz Fernando de Paula, professor da universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Este dado, segundo ele, evidencia que a desaceleração econômica do país já afeta a população, que agora não tem mais manobra dentro dos seus rendimentos para pagar suas dívidas.

 “O crédito tem sido um dos motores do crescimento nos últimos anos, puxando os gastos de consumo para cima. Mas com a crise internacional e as exportações em baixa, a taxa de investimento tem caído, desacelerando o PIB. E, se ele cai, conseqüentemente, a renda diminui, o que prejudica as famílias endividadas. Ou seja, apenas com a retomada do crescimento da economia que os brasileiros retomarão a renda necessária para pagar suas dívidas”, explica.

Mesmo com o elevado índice de endividamento, a presidente Dilma Roussef afirmou que pretende aumentar ainda mais o crédito para os brasileiros. O anúncio não assusta o economista Pedro Rossi, pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Assim como o professor de Paula, ele também acredita que apenas a retomada do crescimento do PIB diminuirá a inadimplência. Mas enfatiza a importância do crédito para aumentar os investimentos.

“O que conta aqui é o crescimento da economia nacional, e com uma maior oferta de crédito as empresas terão mais capital para investir, por exemplo, contratando mais gente e produzindo mais. Esta oferta de crédito pode sim contribuir na redução da inadimplência”, explica.

Apesar do recorde, o número ainda não é muito preocupante, enfatiza Rossi. Para ele a situação é apenas conjuntural. “Com a retomada de investimentos e um melhora no cenário externo as famílias conseguirão mais brecha para liquidar seus compromissos e esta situação deve se reverter”, explica.

Os economistas prevêem que o país não deve crescer mais do que 3%. Dizem que, só com a retomada de investimentos públicos, que não estejam ligados apenas ao crédito, como infra-estrutura, o Brasil voltará a ter crescimento expressivo, aliviando a renda da população.

 “Mas a taxa de investimento está em desaceleração, há a iminência de uma crise internacional, os gastos públicos também estão em contração e as exportações líquidas não têm perspectiva de maior crescimento. Não há motivos para acreditar em um crescimento muito alto para o país. Enquanto o cenário for este, a inadimplência deverá aumentar”, afirma Luiz Fernando.

Taxa de Juros

Outro recorde foi anunciado hoje e desta vez o número agradou aos economistas. A taxa média de juros para empresas e pessoas físicas ficou em 32,9% ao ano e é a mais baixa da série histórica, iniciada em junho de 2000. Os números são frutos das consecutivas reduções da Selic, promovida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, atualmente em 8,5%.

“Este foi um movimento muito acertado da política econômica do governo, este sim é um número a ser comemorado, pois ele define uma mudança estrutural da economia brasileira, e é uma situação definitiva”, comemora Rossi.

O economista lembra ainda que a queda da taxa básica de juros, além de beneficiar as empresas, os consumidores e os títulos da dívida brasileira, também tem levado a diminuição do spread bancário. “O governo pressionou muito os bancos, o que resultou na diminuição dos juros dos empréstimos. Se cair mais – e deve cair – pode haver diminuição da inadimplência”

Luiz Fernando de Paula também comemorou a queda da taxa de juros, mas alertou que no atual momento da economia os benefícios serão reduzidos. “Os juros baixos são bons para estimular a diversificaçao das aplicações dos poupadores, para as finanças públicas, para as firmas e bancos, será bom para o investimento. Mas na conjuntura atual, de baixo crescimento, seu efeito sobre os gastos é limitado”, concluiu.