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Rumores de saída da Grécia da Zona do Euro ganham força e derrubam bolsas

Mercado financeiro reagiu e índices fecharam em forte queda ao redor do mundo

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O temor de uma possível saída da Grécia da Zona do Euro assustou os mercados nesta quarta-feira (23) e as bolsas despencaram ao redor do mundo. No Brasil, o Ibovespa fechou negativo em 0,76%, mas chegou a ser operado em baixa de 3,65% durante o pregão.

A suspeita de que o país europeu tenha que desistir da moeda única existem desde 2011, mas o fracasso em organizar um governo que aprove as medidas de austeridade impostas pela Alemanha e a degradação da situação econômica tem elevado as dúvidas.

Nesta quarta-feira (23), rumores de que outros membros estariam montando um "plano de contingência", para quando a Grécia saísse da Zona, foi desmentido hoje pelo ministério de Finanças do país, mas não impediu que a notícia influenciasse os investidores. O índice DAX30, de Frankfurt, terminou o dia em baixa de 2,62%, assim como o FTSE100, da Bolsa de Londres, que finalizou o pregão negativo em 2,53%. 

Para os especialistas, a reação do mercado é exagerada, mas a saída da Grécia do bloco é praticamente inevitável.  Segundo  o economista Pedro Paulo Bastos, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), as medidas de austeridade acabaram por aprofundar a crise no país, já que não incentivou investimentos, o que minou o consumo, a arrecadação tributária e a situação dos bancos, além de aumentar o endividamento do governo.

"Os números da economia grega refletem um círculo vicioso que se instalou no continente desde que a Alemanha promoveu medidas rígidas para controlar a crise nos países europeus", afirma Bastos. 

Estas determinações promovidas por Angela Merkel e o ex-presidente Nicolas Sarkozy não afetou apenas a Grécia. Espanha e Itália registraram recessão no primeiro trimestre de 2012 e Portugal pode estar caminhando para o mesmo destino do país de Sócrates.

"Estes países mais periféricos cresceram à base de muito crédito, principalmente dos bancos alemães, e aumentos salariais, que reduziram a competitividade destes países. Com a crise, as instituições financeiras contiveram o crédito, aumentando os juros e reduzindo o crescimento ao mesmo tempo em que se aumentou a dívida pública", explica o professor.

Futuro

Como as medidas de austeridade não têm funcionado, conturbações políticas na Europa começam a surgir e a oposição ganha cada vez mais poder. Na França, a crise econômica levou o socialista François Hollande, forte opositor das políticas alemãs, ao cargo mais alto do país. 

"Foi decisiva a eleição de Hollande, que vai procurar construir um mecanismo que permita a retomada do crescimento da Europa, como o uso de um Banco Central de Investimento, que  propiciará recursos para investir em projetos de longo prazo", afirma o economista José Oreiro, professor da Universidade de Brasília (UnB).

A vitória deve determinar uma mudança na forma como os dois principais países lidarão com a crise e pressionará a Alemanha a afrouxar as duras regras econômicas que impôs, já que, segundo o professor, esta é a única forma destes países saírem da crise. 

Além disso, a Alemanha, uma das poucas a registrar crescimento positivo no ano, está pressionada pelos fracassos de suas políticas e não pode, segundo Bastos, correr o risco de ver a França em recessão. Apesar das possíveis mudanças no futuro, a Espanha ainda vai sofrer por mais tempo. 

"Eu acho que é muito difícil pro ano de 2012 fechar com crescimento positivo, o que acredito que deve acontecer este ano é que depois do 3º trimestre exista uma estabilização da atividade, mas recuperação fica só mesmo para 2013", conclui Oreiro. 

Carolina Mazzi