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Para Febraban, mudança na poupança é positiva

Especialista alerta que a alteração é necessária para redução maior da Selic

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Em entrevista coletiva nesta quarta-feira (2), o economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Rubens Sardenberg, disse que uma possível mudança na remuneração da caderneta de poupança seria positiva para a economia. Ele comentou a Pesquisa Febraban de Projeções Macroeconômicas e Expectativas de Mercado, cujo resultado aponta para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) em 3,2% neste ano, e 4,2% em 2013. Sardenberg também falou sobre outros pontos estratégicos da economia financeira, como a oferta de crédito, a inadimplência e a redução da taxa básica de juros (Selic).

“Na medida em que você vai reduzindo as taxas de juros, é razoável remover algumas regras antigas, e que são até de um período em que a inflação era muito maior. Quando você considera os números de hoje, claramente a poupança funciona como obstáculo.”, disse Sardenberg. 

A projeção do relatório da Febraban para a Selic é de que a taxa, atualmente em 9%, seja reduzida para 8,5% até o fim deste ano nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC). Ainda segundo a pesquisa, a Selic deve ficar no patamar de 10% em 2013. De acordo com Sardenberg, a razão desse aumento será a recuperação da economia.

“Acreditamos em uma redução de mais 0,5% em relação aos 9% que temos agora. Estamos falando em mais duas quedas de 0,25% nas próximas reuniões do Copom, previstas para maio e julho”, afirmou o economista. "Os juros sobem porque têm por detrás uma certa pressão inflacionária, mas, na origem, há um crescimento da economia. Aqui, a expectativa é de crescimento mais forte da economia. Acho que podemos crescer mais do que os 4,2%, que é a expectativa para 2013. [A Selic] Sobe, mas por um bom motivo."

Poupança

A remuneração da poupança, determinada pela legislação, é feita através de uma taxa de juro de cerca de 6% ao ano, mais uma correção monetária atrelada à Taxa Referencial (TR). O investimento protege os poupadores das variações inflacionárias, é isento de imposto de renda e considerado uma forma segura de guardar dinheiro.

Porém, a lei que regulamenta a poupança foi criada quando o Brasil ainda vivia um momento de hiperinflação, e atualmente a determinação se mostra defasada e impede o governo de reduzir ainda mais a taxa básica de juro nacional. 

Segundo o economista Renê Garcia, ex-presidente da Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) e diretor da RG Associados, a liquidez internacional elevada, a política de expansão de crédito nacional e as medidas de proteção das indústrias, contribui para um momento positivo para a mudança na poupança. 

O economista alerta que caso a taxa Selic, que está atualmente em 9%, desça abaixo de 8,5%, a poupança passa a ser mais atraente aos investidores, o que diminui a capacidade do governo de se financiar. 

"A Selic é 'paga' pelo Tesouro Nacional, é a forma com que ele se capitaliza. Se a poupança fica mais atraente, prejudica o governo. Além disso, a redução na taxa básica de juros é muito importante para a economia como um todo, pois ela deve puxar todos os juros para baixo, deixando o crédito mais barato", afirma.

Uma das propostas analisadas pela presidente Dilma Roussef é a que substitui os juros de cerca de 6% ao ano pela Selic com um redutor de 20%. Assim, a poupança passaria a remunerar 80% da taxa básica mais a referencial, ainda isenta do IR.

Para Garcia, esta é a melhor mudança possível. Mas o economista alerta que é preciso informar à população sobre as novas regras de forma clara e objetiva, para evitar maniqueísmos políticos.

"O brasileiro é traumatizado com a poupança, e pode parecer, com esta mudança, algo que relembre a época em que o Collor confiscou as economias dos trabalhadores. É difícil, mas o poupador, a pessoa que tem deixado de consumir para guardar, precisa entender que isso será bom para a economia como um todo", afirma. 

PIB

No campo das projeções sobre o PIB, a previsão é de crescimento de 3,2% do PIB Total em 2012. A estimativa para a expansão do PIB Agropecuário, Industrial e de Serviços no ano é, respectivamente, de 3,5%, 2,5% e 3,5%. A produção industrial tem projeção de 2,1% de expansão neste ano. Segundo a pesquisa, em 2013, a expectativa de crescimento do PIB Total é de 4,2%. O PIB Agropecuário, Industrial e de Serviços crescerá, respectivamente, 4,2%, 4,2% e 4,1%. A produção industrial se expandirá em 4,1% no próximo ano.   

Para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o documento reportou que a mediana das expectativas para este ano é de que a inflação feche em 5,1% e 5,5% em 2013. 

Crédito e Inadimplência

A taxa de inadimplência esperada pela pesquisa deste ano é de 5,3%, e a projeção para 2013 é de 5,0%. Para Sardenberg, essa taxa não é um risco à saúde do sistema financeiro brasileiro, pois os níveis estão controlados, mas avaliou que seu impacto ainda é elevado. 

“O anúncio dos balanços mostrou uma inadimplência maior do que se esperava. De alguma maneira, isso dificulta uma recuperação mais rápida”, ponderou.

Além disso, o documento mostrou que bancos pretendem manter acelerada a expansão de suas carteiras de crédito. As operações de crédito da carteira total do Sistema Financeiro Nacional (SFN) devem crescer 16,2% em 2012 e 16% em 2013, de acordo com o relatório. Nas operações de crédito com recursos direcionados, o crescimento apontado é de 17,5% neste ano e 16,9% para o próximo ano. Já as operações de crédito com recursos livres devem encerrar 2012 e 2013 com avanço de 15%.

Para as operações de crédito para pessoas físicas com recursos livres, a expectativa é de fechem 2012 com 15% de expansão e 2013 com 14,9%. As operações de crédito para pessoas físicas, incluindo o crédito consignado, devem crescer 16,1% em 2012 e 14,9% em 2013. Em operações de crédito de pessoa física para aquisição de veículos, incluindo leasing, as previsões são de uma expansão de 14,9% em 2012 e em 2013.

Apuração: Luciano Pádua e Carolina Mazzi