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Medidas de incentivo à indústria não serão suficientes, afirmam especialistas

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As medidas para estimular a atividade industrial do Brasil, anunciadas nesta terça-feira pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, não serão suficientes para conter a queda de produção do setor, afirmam especialistas ouvidos pelo Jornal do Brasil.

Controle cambial, desonerações na folha de pagamento e reduções tributárias são algumas ações que serão aplicadas nos próximos meses, na tentativa de aumentar a competitividade dos produtos brasileiros.

"Queremos estimular os investimentos públicos e privados, aumentar a competitividade da economia brasileira, produtividade e inovação, reduzir os custos tributários, econômicos e financeiros, custo da infraestrutura brasileira", disse o ministro.

As ações fazem parte do programa "Brasil Maior", que pretende incentivar as políticas industriais brasileiras, que cresceram apenas 1,6% em 2011, desempenho considerado fraco pelas autoridades. Para a economista Maria Beatriz David, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), as medidas são importantes, mas apenas paliativas e não resolverão os problemas da indústria nacional a longo prazo.

"Grande parte é a supervalorização do real. Porém, é preciso atacar os problemas tributários e de infra-estrutura, como a má qualificação da mão de obra também. O Governo age pensando nas consequências a curto prazo, mas essas medidas não serão suficientes no futuro, pois os problemas nacionais não são pontuais, mas estruturais", afirma. 

Uma das principais medidas anunciadas por Mantega foi a desoneração na folha de pagamento. No entanto, isto não implicará em um número maior de contratações, analisa a economista, pois com custo menor, as empresas deverão se modernizar e depender menos de um número excessivo de mão-de-obra.

"É uma forma quase irônica de diminuir os custos de produção no país, pois isto até aumentaria a competitividade, porém geraria desemprego no setor", explica. 

Além disso, uma drástica redução na taxa de juros não é uma opção viável para o país, pois esta diminuição levaria a uma queda na entrada de dólares, atualmente necessários para controlar o déficit cambial do país. É o que diz Maria Beatriz. 

Setor Industrial

Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), também acredita que as ações serão insuficientes, apesar de destacar a importância de medidas para proteger a indústria nacional.

"Precisamos de ações mais profundas, que resolvam de forma global essa questão”, afirmou durante entrevista coletiva em Brasília, após o anúncio das novas medidas de Mantega. 

As questões relativas ao custo Brasil, ou seja, os altos preços que as empresas pagam pelos déficits nacionais de infra-estrutura, como a má qualidade e oferta de transportes e o preço da energia e dos insumos é uma reclamação constante nos setores produtivos.

"Hoje ficou muito caro produzir no Brasil. O real está sobrevalorizado, os juros são muito elevados, a energia é uma das mais caras do mundo, os custos com transportes e logística são mais altos que em outros países. Precisamos atacar esses problemas para voltarmos a competir em condições de igualdade no mercado global”, completou. 

Apesar disso, Milton Cardoso, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), classifica as medidas do governo como "eficientes e positivas" para conter a desindustrialização no país.

“A nova fase do Plano Brasil Maior mostra que o Governo está atento aos impactos da economia global, revisando, periodicamente, as medidas já tomadas, bem como anunciando novas ações, para contribuir com a competitividade industrial", afirmou. 

Apuração: Carolina Mazzi