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Reunião de Genebra tem início com foco no protecionismo

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GENEBRA - Insuflado pela crise da dívida na Europa e nos Estados Unidos, o protecionismo surge como um dos temas principais na VIII reunião ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), que teve início nesta quinta-feira, em Genebra.

O presidente da conferência, o ministro do Comércio e Investimentos da Nigéria, Olusegun Olutoyin Aganga, alertou em seu discurso de abertura sobre os "sinais protecionistas" que têm aparecido em várias partes do mundo.

"Devemos estar conscientes de que em uma economia globalizada, todos nós recebemos rapidamente o impacto dos acontecimentos produzidos em qualquer parte do planeta e por isso nossos interesses comuns devem prevalecer sobre o nacionalismo econômico", afirmou.

"Em um contexto de crescente incerteza econômica e aumento dos riscos mundiais, é de suma importância que o processo de abertura do comércio mundial continue", disse por sua vez o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, em relatório anual sobre o ambiente comercial internacional, divulgado no dia 21 de novembro.

Depois da revisão da queda do crescimento do comércio mundial em 2011 para 5,8%, as "ações unilaterais para favorecer as indústrias nacionais não apenas não resolverá os problemas mundiais, mas também pode piorá-los causando uma espiral de reações em que cada país sairá perdendo", adverte.

Em todos os encontros realizados por diferentes blocos de países, como os Brics, o G20 e grupo Cairns, para coordenar posições visando esta oitava edição da reunião ministerial da OMC, o lema "resistir ao protecionismo" se repete como um mantra.

No entanto,a China impôs, a partir desta quinta-feira, novas tarifas alfandegárias aos veículos importados dos Estados Unidos com motores de cilindrada superior a 2,5 litros, alegando que os fabricantes locais "sofrem substanciais prejuízos" devido ao dumping e aos subsídios da primeira potência econômica.

No Brasil, também entra em vigor, a partir de hoje, uma nova tarifa de 30% na importação de automóveis fabricados com menos de 65% de peças nacionais ou do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) e afeta, em particular, aos carros importados da China ou da Coreia do Sul.

Para 2013, o gigante sul-americano prepara um novo regime que regulará a entrada de novas empresas estrangeiras no país, para que "possam operar em igualdade de condições com as que já estão estabelecidas", explicou em Genebra o Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior brasileiro, Fernando Pimentel, que assegurou que não tinha recebido nenhuma queixa de seus sócios comerciais.

Na França, o protecionismo surgiu com força na campanha das eleições de maio e a maioria dos candidatos, da esquerda à ultradireita, passando pelo presidente Nicolas Sarkozy apresentam o "Made in France" como uma solução para a crise, apesar do ceticismo dos especialistas.

Apesar de muitas barreiras do comércio estarem caindo, as novas medidas restritivas para a importação adotadas pelas economias do G20 entre outubro de 2010 e abril de 2011 afetaram 0,6% do total das importações das potências desenvolvidas e emergentes, o dobro de seis meses antes, segundo um informativo de várias instituições, entre elas a OMC.

O ministro australiano do Comércio, Craig Emerson, recordou nesta quinta-feira, que uma política que defende o aumento das medidas protecionistas "nos leva ao período da Grande Depressão" que surgiu depois do crash de 1929 e "que se estendeu ao longo do tempo e se aprofundou", por causa de tais medidas.

"No mundo de hoje, o importante é ser um país competitivo e tomar medidas estruturais no interior da economia para conseguir uma competitividade de ordem mundial. Muitos países não têm essa característica, mas isso não é um sinal para se proteger contra isso, mas tomar essas medidas", disse à AFP, o vice-ministro do Comércio do Chile, Jorge Bunster.

A Austrália liderou uma iniciativa à qual se somaram muitos países contra o protecionismo, cujas conclusões serão apresentadas no final da tarde dessa quinta-feira.

No contexto da crise, parece pouco provável, que os 153 países que integram a OMC - Rússia, Montenegro, Samoa e Vanuatu se converterão em novos membros a partir dessa reunião - decidam concluir a Rodada de Doha, para liberalizar o comércio mundial, em particular o agrícola, que se encontra em ponto morto depois de dez anos de negociações.