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OCDE: sem reformas, Brasil enfrentará escassez de energia

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Apesar da preocupação em adequar aeroportos e acomodações para Copa e Olimpíada, esses não são os maiores problemas de infraestrutura que o Brasil enfrentará para sustentar seu crescimento. A análise é da economista Annabelle Mourougane, autora do trabalho Pesquisas Econômicas Brasil, da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Para a economista, questões como sustentabilidade do setor energético e obras de saneamento são mais urgentes.

"O Brasil está realmente atrás em saneamento em comparação a outros setores. Esse é um problema que não diz respeito somente ao crescimento econômico, mas também à inclusão social. Em relação à energia, fica claro que vai haver escassez de recursos energéticos no futuro. A demanda cresce muito e a oferta não acompanha esse crescimento", disse ao Terra após de apresentar o estudo na Fundação Getúlio Vargas.

"Os aeroportos são importantes nos próximos dois anos mas em longo termo é um problema pequeno comparado a outros", afirma Annabelle. Outro fator apontado pelo estudo é o rápido envelhecimento que a população brasileira vai passar nos próximos anos. De acordo com Annabelle, o fenômeno ocorrerá de forma mais rápida do que na maioria dos países. "O que levou 60 anos para ocorrer nos Estados Unidos, vai ocorrer no Brasil em 20 anos", disse. Segundo ela, é preciso adequar o sistema previdenciário nacional e encarar as reformas necessárias, mesmo sob custo político.

Também co-autor do estudo, o economista Jens Arnold, aponta, entre outros fatores, a baixa idade para aposentadoria. "Em nosso estudo, fazemos recomendações bem práticas em relação a isso. Aumentar a idade mínima para a aposentadoria seria uma forma de conter os gastos. Também é preciso desindexar as pensões do salário mínimo, que está tendo ganhos muito acima da inflação", afirmou.

Annabelle recomenda que o Brasil continue no caminho de consolidação do ajuste fiscal. Segundo ela, o governo precisa encontrar um balanço entre investimentos que impulsionam a economia, como as obras de infraestrutura do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e a desoneração do setor público. "Muito do desenvolvimento do Brasil dependerá de sua habilidade em controlar os gastos públicos", afirmou.

Investimentos

Uma das preocupações apontadas é a falta de investimentos de longo prazo no Brasil. Para Arnold, as linhas de crédito do BNDES sustentaram o desenvolvimento durante a crise, mas elas afugentam competidores no setor privado. "A falta de investimento privado está lá porque o BNDES é muito forte. Há uma relação, que não explica completamente a falta de investimento, mas ela está lá", disse. Segundo ele, os altos juros e a pesada carga tributária são fatores que precisam ser combatidos para que o país se torne mais atrativo para investimentos reais.

Ao avaliar o estudo, o economista da USP e da FGV Paulo Gaia afirmou que a dependência do Brasil do alto preço das commodities é preocupante. No entanto, Annabelle afirmou que países como Canadá, Austrália e Noruega também são altamente dependentes de suas commodities e ela não vê essa característica como um empecilho eminente para a continuidade do crescimento. "A abundância de recursos naturais deve ser vista como uma vantagem. É claro que é preciso usar essa vantagem para fomentar o desenvolvimento. Se administrar isso bem, você pode tirar proveito da alta das commodities", disse.

A OCDE realiza estudos semelhantes em países membros como Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Chile, China, Reino Unido e Estados Unidos.