ASSINE
search button

Nova classe média movimenta R$ 273 bilhões na internet por ano

Compartilhar

A classe ‘C’ não é exceção, não é um nicho de mercado, é a realidade brasileira. A opinião é do sócio-diretor de A Ponte Estratégia, André Torreta, que, a convite da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio), se reuniu ontem (25), com especialistas do setor de tecnologia para debater sobre “A Classe Média na Internet”. “A novidade não está na chegada da Classe C no varejo digital, mas na força com que eles chegaram a esse mercado”, afirma o presidente do Conselho de Tecnologia da Informação e Comunicação da Fecomercio, Renato Opice Blum. “O faturamento do e-commerce já é maior do que a soma de todos os shoppings de São Paulo”, Blum contextualiza com dados da Pesquisa Conjuntural do Comércio Varejista (e-PCCV), realizada pela Fecomercio em parceria com a e-Bit.

Renato Meirelles, sócio-diretor do instituto de pesquisa Data Popular, avalia que “a internet radicalizou o poder de escolha e de comparação de preços e produtos que o controle da inflação concedeu há 15 anos”. Segundo ele, houve uma democratização da informação e, com ela, do poder de compra. “Há quatro anos, as pessoas se perguntavam se a classe ‘C’ estava na internet. Hoje, é impossível fazer qualquer plano de comércio sem considerar esta classe”.

De acordo com dados do instituto de pesquisa Data Popular, a classe ‘C’ é responsável por 78% do que é comprado em supermercados, 60% das mulheres que vão a salões de beleza, 70% dos cartões de crédito no Brasil e 80% das pessoas que acessam a internet. “A nova classe média movimenta R$ 273 bilhões na internet por ano somente com seu salário, se considerarmos o crédito disponível à ela, esse montante dobra”, informa Meirelles. Mas a classe ‘C’ não impactou somente o e-commerce. Segundo dados da e-Bit, 50% das vendas realizadas no varejo tradicional são influenciadas por pesquisas de preço, opinião e informações sobre os produtos realizadas na internet.

De volta ao varejo digital, a e-Bit estima que, até o final do ano, o universo de brasileiros que realiza compras pela web deve alcançar 28 milhões de pessoas. “Os produtos mais comprados pela classe média na internet são: eletrodomésticos, informática, livros e telefonia celular”, comenta Pedro Guasti, diretor geral da e-Bit. “Em média, por mês, o gasto médio das famílias com renda de até R$ 3 mil é de R$ 321”, completa.

E como se deu o crescimento da utilização da internet por essa classe? Segundo Meirelles, é preciso entender que, enquanto a classe ‘A’ procura exclusividade, a classe ‘C’ está interessada em inclusão. “O custo de acesso é dividido entre várias pessoas que dividem a uma rede via wi-fi”, explica. “Hoje, 50% da internet de banda larga é utilizada por esta classe.”

Já Torreta, de A Ponte Estratégia, avalia que a “digitalização” da nova classe média está se dando via celular, não pelo computador. “Há 230 milhões de linhas de aparelhos móveis no Brasil. Pulamos da pré-história para o smartphone.” Contudo, Torreta acredita que as empresas não estão preparadas para lidar com esse salto. “Todos estão falando de geração ‘Y’, mas isso não existe no Brasil. O pressuposto dessa geração é já ter nascido com o computador e, se muito, 10% da população se encontra nessa situação”, pondera.

Ele ainda avalia que as empresas falham em avaliar as motivações dos internautas. “Não somos o povo que mais acessa as redes sociais porque somos alegres ou calorosos, mas porque somos pobres. A conta de celular no Brasil é muito cara para ficar conversando, então usamos a rede que é mais barata.”  André Erthal, diretor de Service Experience do Instituto Nokia de Tecnologia, reconhece o potencial que o mercado de telefonia móvel tem e conta que já estão sendo desenvolvidos dispositivos para intensificar a experiência do usuário da web via aparelhos celulares, como telas mais flexíveis e que possam ser expandidas ou retraídas, dependendo da ocasião. Quanto ao custo, da telefonia móvel, ele defende que o governo deveria pensar a internet como uma questão social e que o maior determinante para os preços praticados são os impostos.

Mas se a classe ‘C’ e a internet estão revolucionando o consumo, também estão gerando novas oportunidades e estimulando novos empreendedores. Uma das ações que desponta nesse sentido é a Impulso, uma associação que disponibiliza microcrédito a microempreendedores que estão começando seu negócio. “Seguimos o conceito de crowdfunding. Por meio da rede, juntamos recursos de diversas pessoas que estão dispostas a investir em startups e disponibilizamos esses recursos de forma simples e flexível”, explica a presidente da associação, Lina Maria Jaramillo.

Já a Solidarium Comércio Justo tem firmado parcerias para vender produtos que respeitem os preceitos do varejo sustentável em sites de grandes varejistas, como o Walmart. “É uma forma simples de gerar renda para comunidades e conscientizar o consumidor”, aposta Tiago Dalvi, presidente da Solidarium.