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IBGE: brasileiro come menos arroz com feijão e bebe mais cerveja

Consumo de feijão teve queda de 26,4% e de cerveja, aumento de 23,2%

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RIO - O consumo de arroz e feijão caiu entre os brasileiros, entre os anos 2002/2003 a 2008/2009, dando espaço a produtos como a cerveja e o refrigerante, cujos índices de consumo registraram aumento no período. A aquisição média anual per capita (quanto de um produto a família adquire em um ano, dividido pelo número de pessoas da família) caiu 40,5% para o arroz polido (de 24,5 kg para 14,6 kg), feijão, queda de 26,4% (de 12,4 kg para 9,1 kg) e açúcar refinado, de 48,3% (de 6,1 kg para 3,2 kg). No mesmo período, aumentaram, entre outros, o refrigerante de cola (39,3%, de 9,1 kg para 12,7 kg), a água mineral (27,5%, de 10,9 kg para 13,9 kg) e a cerveja (23,2%, de 4,6 kg para 5,6 kg).

A evolução do consumo de alimentos no domicílio no período também indica a queda na participação relativa de itens tradicionais na composição do total médio diário de calorias adquirido pelo brasileiro, como arroz (de 17,4% para 16,2%), feijão (de 6,6% para 5,4%) e farinha de mandioca (de 4,9% para 3,9%), enquanto cresceu a proporção de comidas industrializadas, como pães (de 5,7% para 6,4%), embutidos (de 1,78% para 2,2%), biscoitos (de 3,1% para 3,4%), refrigerantes (de 1,5% para 1,8%) e refeições prontas (de 3,3% para 4,6%).

Essas e outras informações estão disponíveis nas publicações da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009: “Aquisição alimentar domiciliar per capita – Brasil e Grandes Regiões” – que avalia as quantidades de alimentos adquiridas pelas famílias brasileiras para consumo domiciliar, bem como as formas dessa aquisição – e “Avaliação nutricional da disponibilidade domiciliar de alimentos no Brasil” – que estuda a qualidade dos alimentos disponíveis para consumo no domicílio. Esses alimentos constituíam, no período da pesquisa, 68,9% da despesa média mensal familiar com alimentação, contra 75,9% registrados em 2002-03, indicando uma mudança nos gastos com alimentação no domicílio.

Entre as médias de aquisição domiciliar per capita anual de alimentos em todo o país em 2008-2009, destacam-se os grandes grupos de bebidas e infusões, (50,7 kg); laticínios (43,7 kg); cereais e leguminosas (39,0 kg); frutas (28,9 kg); hortaliças (27,1 kg) e carnes (25,4 kg). A aquisição na área urbana foi maior do que a média nacional para bebidas e infusões (55,2kg) e bem menor na área rural (28,9 kg). O mesmo ocorreu com as frutas (30,3kg na área urbana, 21,9 kg na rural), mas a situação se inverteu com os grupos de cereais e leguminosas (34,1 kg urbano, 62,5 kg rural) e carnes (24,6 kg urbano, 29,6 kg rural).

Entre as regiões, o Sul se destacou na média de aquisição anual per capita dos grupos de carnes (35,7 kg), laticínios (67,4 kg), bebidas e infusões (64,1 kg), hortaliças (38,6 kg), frutas (36,5 kg) e alimentos preparados e misturas industriais (4,8 kg), todos acima das respectivas médias nacionais e das outras regiões. O Centro-Oeste e o Nordeste tiveram as maiores médias para cereais e leguminosas (50,2 kg e 43,6 kg, respectivamente). Na comparação entre áreas urbanas e rurais, o arroz polido e as carnes bovinas apresentaram médias superiores às médias nacionais na área rural (18,4 kg e 18,1 kg respectivamente), enquanto o leite de vaca pasteurizado teve médias maiores na urbana (29,2 kg).

A avaliação nutricional mostrou que, em 2008-2009, a disponibilidade média per capita de alimentos correspondeu a 1.611 kcal/dia, menos que em 2002-2003 (1.791 kcal). O estudo identificou algumas características negativas dos padrões de consumo alimentar em todo o país e em todas as classes de renda, como o teor excessivo de açúcar (16,36%) e a participação insuficiente de frutas (2,04%) e verduras e legumes (0,80%) na alimentação.

Nas regiões economicamente mais desenvolvidas (Sul, Sudeste e Centro-Oeste) e, de modo geral, no meio urbano e entre famílias com maior renda, havia consumo elevado de gorduras, em especial as saturadas. Também foram observados padrões positivos de consumo, como a adequação sistemática do teor protéico dos alimentos (12,08%) e a elevada participação de proteínas de origem animal (6,69%).

 

Aquisição de bebidas e frutas é maior na área urbana, a de cereais e carnes, na área rural

Na análise das médias anuais per capita de aquisição domiciliar em todo o país, destacaram-se os grupos de bebidas e infusões, com 50,7 kg; laticínios (que incluiu leites, queijos, iogurte e derivados), com 43,7 kg; cereais e leguminosas (38,9 kg); frutas (28,9 kg); hortaliças (27,1 kg); e as carnes (25,4 kg).

Os resultados desses grupos variaram bastante na comparação entre as áreas urbana e rural. No grupo de bebidas e infusões, a área urbana apresentou média de aquisição domiciliar per capita anual 9% maior do que a média nacional (55,2 kg), a área rural teve média 43% menor (28,9 kg). Também no grupo das frutas, a média urbana foi de 30,3 kg, 5% maior do que o índice nacional, enquanto a média rural foi de 21,9 kg, 24% menor. Já tanto o grupo de cereais e leguminosas (34,1 kg urbano, 62,5 kg rural) quanto o de carnes (24,5 kg urbano, 29,6 kg rural) tiveram comportamento inverso.

A forma de aquisição de alimentos mais usada em todo o país foi a monetária, mesmo na área rural. Na situação rural, a aquisição não monetária só ultrapassou a monetária nos grupos Laticínios (26,1 kg contra 17,3 kg, uma diferença de 51%) e Pescados (3,9 kg contra 3,7 kg, diferença de 5,4%). Outros grupos alimentares tiveram participações significativas da aquisição não monetária, mesmo sendo inferior à monetária, com destaque para Hortaliças (38%), Frutas (43%) e Carnes (21%).

 

Famílias da Região Sul adquirem mais laticínios, carnes, bebidas, hortaliças e frutas

A aquisição das carnes teve destaque no Sul (35,7 kg) e no Norte (31,4 kg), acima da média nacional de 25,4 kg. O Norte manteve a liderança na aquisição do Pescado (17,5 kg), muito acima da média Brasil (4,0 kg).

Além das Carnes, o Sul também teve médias acima da nacional e das outras regiões para os grupos Laticínios (67,4 kg), Bebidas e Infusões (64,1 kg), Hortaliças (38,6 kg), Frutas (36,5 kg), Alimentos Preparados e Misturas Industriais (4,8 kg). No Sudeste, destacam-se Laticínios (50,5 kg), Bebidas e infusões (55,8 kg) e Alimentos Preparados e Misturas Industriais (4,3 kg), todos acima das médias nacionais.

Os hábitos de consumo alimentar das famílias do Centro-Oeste e Nordeste refletiram as grandes quantidades per capita anuais adquiridas de cereais e leguminosas (50,2 kg e 43,6 kg, respectivamente), mais altas que a média nacional de 39,0 kg. Por exemplo, no Centro-Oeste, o arroz teve média per capita de 36,3 kg enquanto a média nacional era de 26,5 kg e, no Nordeste, a média do feijão foi de 12,3 kg (a nacional foi de 9,1 kg).

 

Arroz e feijão são mais adquiridos na área rural e pela população de menor rendimento

Entre os alimentos tradicionalmente presentes no cardápio das famílias brasileiras, as maiores aquisições per capita anuais em 2008-2009 foram o leite de vaca pasteurizado (25,6 kg), carnes bovinas (17,0 kg) e o arroz polido (14,6 kg). Na área rural, o arroz polido e as carnes bovinas tiveram médias superiores às nacionais (18,4 kg e 18,1 kg respectivamente); já o leite de vaca pasteurizado teve médias maiores na urbana (29,2 kg). Destaca-se o leite de vaca fresco, cuja média na área rural foi de 30,4 kg, 211% sobre a média nacional de 9,8 kg, e que contribuiu para a grande aquisição não monetária dos Laticínios na área rural.

A análise dos produtos selecionados, do ponto de vista das classes de rendimento médio mensal familiar, mostrou que apenas o arroz (27,6 kg) e o feijão (10,3 kg) tiveram médias de aquisição per capita anuais acima do total Brasil (26,5 kg e 9,1 kg respectivamente) na faixa mais baixa de rendimentos totais (até R$ 830,00) e abaixo dessa mesma média (18,6 kg e 7,3 kg, respectivamente) na classe de rendimentos mais alta (acima de R$ 6.225,00).

Em relação às quantidades adquiridas dos demais produtos e grupos selecionados, observam-se significativas diferenças entre as classes de menor e maior rendimento, com essa última apresentando proporcionalmente médias bem maiores: bebidas alcoólicas (19,2 kg contra 2,1 kg, 799% superior), os alimentos preparados e misturas industriais (8,4 kg contra 1,4 kg, 514% maior), bebidas não-alcoólicas (84,8 kg contra 16,9 kg, 401% maior), iogurte (4,3 kg contra 0,9 kg, 379%), frutas (59,3 kg contra 14,3 kg, 316%), leite de vaca pasteurizado (40,2 kg contra 11,6 kg, 246%) e hortaliças (44,3 kg contra 15,5 kg, 187%).

 

Entre 2003 e 2009, brasileiro compra menos açúcar, arroz e feijão e mais refrigerante e cerveja

Na comparação com a pesquisa de 2002-2003, houve redução das quantidades médias adquiridas na maioria dos grupos definidos pela POF, com maiores quedas nos grupos de cocos, castanhas e nozes (redução de 77,8%), farinhas, féculas e massas (diminuindo 20,5%) e cereais e leguminosas (menor em 19,4%).

O grupo das frutas teve aumento de 17,9% na aquisição domiciliar per capita média anual de 2002-2003 (24,5 kg) para 2008-2009 (28,9 kg). Para o grupo das bebidas e infusões o aumento foi de 12% (45,3 kg em 2002-2003, 50,7 kg em 2008-2009).

Entre os produtos individuais, destaca-se a considerável redução nas quantidades adquiridas de arroz e feijão, composição tradicional da mesa do brasileiro. A média per capita de arroz polido foi de 24,6 kg 2002-2003 para 14,6 kg em 2008-2009 (queda de 40,5%). A média de feijão passou de 12,4 kg para 9,1 kg (redução de 26,4%).

O açúcar refinado caiu de 6,1 kg em 2002-2003 para 3,2 kg em 2008-2009, proporcionalmente a maior queda dentre os produtos selecionados (48,3%). O açúcar cristal teve redução de 33,9%, de 12,2 kg para 8,0 kg. A farinha de trigo e a farinha de mandioca tiveram reduções de 33,2% (de 5,1 kg para 3,4 kg) e 31,4% (de 7,8 kg para 5,3 kg) respectivamente.

Entre os produtos que apresentaram aumento de suas quantidades per capita médias entre 2002-2003 e 2008-2009, destacam-se o refrigerante de cola, que aumentou em 39,3% (de 9,1 kg para 12,7 kg), a água mineral, em 27,5% (de 11,0 kg para 14,0 kg) e a cerveja, em 23,2% (de 4,6 kg para 5,6 kg). Na área rural, esses três produtos tiveram aumentos ainda mais expressivos: as quantidades médias adquiridas do refrigerante de cola foram de 3,2 kg para 6,1 kg (aumento de 92%), da água mineral de 1,6 kg para 6,1 kg (aumento de 291%) e da cerveja de 1,7 kg para 3,2 kg (aumento de 88%). O pão francês, que teve pequena variação positiva (1,6%) no total Brasil (de 12,3 kg para 12,5 kg), registrou aumento significativo na área rural, de 4,8 kg para 6,0 kg (aumento de 26%).

Dividindo-se a população em quintos de rendimento médio mensal familiar, observou-se queda entre as duas pesquisas, em todos os quintos, nos grupos de cereais e leguminosas; hortaliças; farinhas, féculas e massas; e laticínios. O grupo dos pescados apresentou aumento em torno de 13% no último quinto e quedas em todos os demais. Já o grupo de bebidas e infusões teve alta em todos os quintos, sendo as maiores nos dois primeiros (22% e 24%). No grupo de alimentos preparados e misturas industriais, o maior aumento ocorreu no primeiro quinto (67%) e o menor no último (21%). O grupo dos panificados teve quantidades similares registradas no mais alto quinto de rendimento e aumento nos outros quintos, notadamente nos dois primeiros (18% e 15% respectivamente).

 

Famílias de maior rendimento consomem mais gordura e menos carboidratos

Quanto maior o rendimento das famílias, maior o consumo de gorduras e menor o de carboidratos. A contribuição mínima de 55% de carboidratos para as calorias totais não se cumpre para a classe de renda mensal superior a 15 salários mínimos, com o agravante de que cerca de 30% dos carboidratos da dieta nesta classe de renda (16,5% em 54,6%) correspondem a açúcares livres (açúcar de mesa, rapadura, mel e açúcares adicionados a alimentos processados).

No caso das gorduras, o limite máximo de 30% das calorias totais é ultrapassado a partir da classe de renda mensal de mais de seis salários mínimos. Gorduras saturadas tendem a aumentar com a renda, sendo que o limite para este nutriente (10% das calorias totais) é alcançado na classe de renda mensal entre dez a 15 salários mínimos (9,5%) e ultrapassado na classe de mais de 15 salários mínimos (10,6% das calorias totais).

O limite máximo de 10% de calorias oriundas de açúcares é ultrapassado em todas as classes de rendimentos. Embora o teor de proteínas na dieta tenda a aumentar com os rendimentos, a proporção de calorias proteicas foi adequada em todas as classes de renda. A fração de proteínas de origem animal também tende a aumentar com a renda, mas dentro de um espectro de valores relativamente altos e adequados, sendo de 50% na classe de menor renda e 60% na classe de maior renda.

A POF 2008-2009 mostra que leite e derivados, frutas, verduras e legumes, gordura animal, bebidas alcoólicas e refeições prontas são mais consumidos pelas classes com maior rendimento. Com tendência inversa, estão feijões e outras leguminosas, cereais e derivados (devido ao declínio da participação do arroz com a renda) e raízes e tubérculos (devido ao declínio da participação da farinha de mandioca com a renda). Observou-se redução com a renda para açúcar de mesa e aumento para refrigerantes, além de aumento com a renda para carne bovina e embutidos e redução ou estabilidade para os outros tipos de carne.