ASSINE
search button

Bill Plympton lança filme inédito no Anima Mundi, recriando a música americana

Compartilhar

Irreverência, surrealismo e aversão às hipocrisias morais dos EUA: são essas as tintas que dão à obra do animador Bill Plympton um colorido de subversão que rendeu a ele fama, indicações ao Oscar e dezenas de prêmios internacionais em festivais como o Anima Mundi, cuja edição de 2018 exibe um trabalho inédito deste inquieto cineasta de 72 anos: “Modern Lives”. Este média-metragem de cerca de 30 minutos traduz toda a acidez do diretor – já comparado ao papa da estranheza, David Lynch, por sua mirada surrealista sobre as tradições dos Estados Unidos – com base em uma série de canções do músico Jackie Greene, com acordes entre o blues e o rock. Plympton utiliza seis canções dele para construir uma viagem lisérgica por um ideal perdido de América. A produção será exibida no Rio, no Centro Cultural Correios, de quarta até domingo, com sessões diárias às 13h e às 16h. Iniciado ontem, o Anima Mundi segue no Rio até o dia 29.

“Confesso que eu prefiro música country aos demais gêneros, pois eu nasci ouvido os cantores do universo rural. Mas Jackie Greene é um músico que utiliza os mesmos instrumentos e bases sonoras do universo country, o que me aproxima dele. Queria muito, algum dia, fazer algo parecido com a obra da cantora Emmylou Harris”, diz Plympton ao JB, em entrevista por email. “Eu sou um cineasta independente nos EUA, o que não é algo fácil, pois nem sempre a gente encontra formas de financiamento para nossas ideias. Mas, por sorte, meus filmes se tornaram populares mundo afora. Eu vivo e filmo com base no que chamo de Dogma Plympton: devo fazer filmes baratos, curtinhos e engraçados”. 

Chamado na Europa de “Rei da Animação B”, o diretor e cartunista é freguês do Anima Mundi desde que o festival começou, em 1993, tendo exibido por aqui os filmes que lhe garantiram uma vaga para disputar o Oscar: “Guard dog”, de 2004, e “Your face”, de 1997. Com espírito de adolescente, sempre bem-humorado, Plympton ganhou fãs pelo mundo em função de longas como “Mutant aliens” (sua obra-prima, laureada com o troféu Grand-Prix no Festival de Annecy, na França, em 2001), “Cabelo alto” (2004) e “Cheatin’” (2013). “Eu sou rápido no que faço: posso fazer até cem desenhos por dia, o que me garante entre 15 e 20 segundos de animação diariamente”, diz Plymton. “Fiz filmes que somaram quase 40 mil desenhos, todos feitos só por mim”.

Nem só de Plympton vive o cardápio de iguarias do Anima Mundi 2018.  Há 106 curtas brasileiros inéditos no evento, que prestará uma homenagem a um jovem talento de Goiás: Wesley Rodrigues, diretor do cult “Faroeste: Um autêntico western”. No menu do festival, destacam-se filmes como “Gravidade”, de Amir Admoni; “Twerking”, de Kawe Sá e Rafael Vallaperde, e “Guaxuma”, de Nara Normande. E tem duas refinadas produções nacionais no pacote de longas da maratona animada: “As aventuras de Fujiwara Manchester”, de Alê Camargo, e “Tito e os pássaros”, fantasia dirigida a seis mãos por Gustavo Steinberg, Gabriel Bitar e André Catoto, que teve uma invejável campanha promocional em Cannes, em maio. No dia 28 de julho, o Anima Mundi promoverá um bate-papo entre o público e o cineasta carioca Carlos Saldanha, um dos criadores da franquia “A Era do Gelo”. Ele sobe ao palco do Cine Odeon-Centro Cultural Luiz Severiano Ribeiro, às 16h, para conversar com o público sobre o processo de criação de “O Touro Ferdinando”, pelo qual concorreu ao Oscar. 

 *Roteirista e presidente da Associação de Críticos do Rio de Janeiro (ACCRJ)