No original francês, o título de “Primavera em Casablanca” - “Razzia” se traduz saque, pilhagem, incursão policial de alguma forma, e o filme acompanha um grupo de pessoas no Marrocos sofrendo com inúmeros casos de perdas violentas causadas pelas instâncias oficiais do país ou pela sociedade que governos tiranos criaram. O filme costura a primeira de muitas histórias numa ponte entre 1982 a 2015, com um professor que perde a voz ao ser cerceado em sua própria língua pelas autoridades. A partir de então, os ecos dessa passagem reverberam no hoje.
A produção dirigida por Nabil Ayouch é tecnicamente impecável, seu elenco é uniforme em qualidade e seus contos se apresentam de forma direta e elucidativa. Percebemos então que as histórias não param de surgir e as conexões entre elas começam a afrouxar, ainda que todas tenham suas raízes na falta de empatia tanto no olhar macro quanto micro. O eterno conflito entre judeus e muçulmanos também tem vez, e o filme infelizmente vai perdendo sua pujança no roteiro.
Ainda assim e apesar do clímax histérico e sem sentido, com surtos de violência e perplexidade, ambos exagerados, o filme tem força visual, potência verbal e uma mensagem que nunca perde sua validade ao lidar com intolerância e o vazio que nasce dos sonhos frustrados.
*Membro da ACCRJ
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PRIMAVERA EM CASABLANCA : ** (Regular)
Cotações: o Péssimo; * Ruim; ** Regular; *** Bom; **** Muito Bom
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