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Greta Gerwig volta ao circuito como dubladora do festejado ‘Ilha de Cachorros’

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Apelidada de “a namoradinha indie da América” enquanto colecionava elogios da crítica, à frente de “Frances Ha” (2012), Greta Gerwig, atriz e cineasta californiana de 34 anos, encara com um sorriso amarelo alcunhas que possam reduzir sua busca estética a qualquer rótulo sexista. Diz, contudo, que gostou quando foi chamada de “rebelde”, em uma resenha sobre “Lady Bird – A hora de voar”, pelo qual foi indicada ao Oscar de “Melhor direção” e “Roteiro original”, no início deste ano. 

No auge da badalação de seu nome como “a única mulher entre cinco concorrentes à estatueta dedicada a quem dirige filmes em Hollywood”, ela encarnou a imagem de rebeldia a ela associada no terreno da animação: em fevereiro, na abertura do Festival de Berlim, sua voz deu uma tônica de empoderamento feminino à figura de Tracy Walker. 

Militante em prol dos animais, a personagem amplia a dimensão política de “Ilha de Cachorros”. Este é o título em português, em tradução literal, de “Isle of Dogs”, novo exercício autoral do diretor texano Wes Anderson, há quase 20 anos cultuado como um dos maiores nomes do cinema americano, graças a sucessos como “Os excêntricos Tenembaus” (2001). “É bom existir gente como Wes, que consegue dar um colorido pop, divertido a debates sobre a intolerância hoje em voga no mundo”, disse Greta ao JB, na Berlinale, onde Wes conquistou o Urso de Ouro de Melhor Direção por esta fábula ambientada em um depósito de lixo a céu aberto. “Este filme é uma metáfora sobre o descarte de valores essenciais à condição humana, como a amizade”. 

Nas bilheterias internacionais, “Ilha de Cachorros” vem se consagrando como um sucesso: teve uma receita de US$ 62 milhões em sua arrecadação nos EUA e alguns países europeus. E já se fala em Oscar para o filme. Na nova trama do realizador de cults como “O Grande Hotel Budapeste” (2014), o menino Atari vai até um lixão a céu aberto resgatar seu cãozinho, que foi condenado a um depósito sanitário por pressão do prefeito de sua cidade, avesso a animais domésticos. Lá, encontra a ajuda de Chief (cão dublado por Bryan Cranston), criatura zangada com a vida, mas generosa com quem precisa. No caminho, Atari vai contar com o apoio de outros cães e da militância de Tracy, papel de Greta. Ela vai batalhar para que a Prefeitura de Tóquio se dê conta o mal que faz à natureza, encarnando uma dimensão de heroína ecológica. 

“Os protestos dela parecem engraçados em cena, mas eles desenham uma visão muito lúdica da lealdade como arma de expressão contra o sucateamento moral da sociedade”, diz Greta, que está dirigindo uma nova versão de um clássico da literatura inglesa, “Little women” (aqui traduzido como “Mulherzinhas” ou “Adoráveis mulheres”), de Louisa May Alcott. “Toda forma de contribuição ao debate sobre a representação do feminino no cinema é bem-vinda”. 

Na semana que vem, “Ilha de Cachorros” vai ser tema de um painel no Anima Mundi, o maior festival de animação das Américas, que aporta no Rio de Janeiro de 21 a 29 de julho e, em São Paulo, de 1º a 5 de agosto. Em solo carioca, o evento vai receber um dos talentos do time de animadores de Wes, Matias Liebrecht, para uma palestra sobre o processo de criação do longa. (R.F.)

* Roteirista e presidente da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ)