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'Devora-te a ti mesmo', destaca crítica sobre 'Além do homem'

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Redescobrir a si mesmo é a proposta de “Além do homem”, de Willy Biondani. No caso de Alberto Luppo (Sérgio Guizé), isso ocorre sem que ele aparentemente queira. Ele é um escritor brasileiro que mora em Paris há anos e não deseja retornar à terra natal. Quando um antropólogo francês desaparece no interior do Brasil, supostamente devorado por canibais, Alberto é obrigado a retornar ao país para transformar a história em livro. O almofadinha, que pensava ser francês civilizado, se depara com o Brasil selvagem. Durante a viagem precária, ele é guiado pelo taxista Tião (Fabrício Bolivera) e depois por Bethânia (Débora Nascimento), numa experiência de autodescoberta.

Como um manifesto antropófago de Oswald de Andrade, Luppo nunca foi catequizado, como acreditava, e diante dos personagens carnavalizados e sensuais da cidadezinha, ele é desafiado. O taxista Tião, sempre insinuante, aparece pendurado numa árvore como a cobra do Paraíso. Rosalinda (Flávia Garrafa) oferece mais que o serviço do hotel. Há ainda a figura de um macunaímico personagem: um homem com o pé preso na terra, um guardião da casa de Bethânia. Uma louvação modernista. A direção de arte de Sidney Biondani é autêntica e detalhista como o quadro que reproduz o “Abaporu” (o homem que come gente), símbolo do período antropofágico, da modernista Tarsila do Amaral, só que com as unhas pintadas.

A odisseia de Luppo, sempre desviado do seu objetivo, é emoldurada por duas visões na fotografia de Olivier Cocaul e Walter Carvalho, entre as cores frias europeias e as quentes e coloridas do Brasil. Por fim, a trilha sonora de Egberto Gismonti é sensorial e mergulhamos na experiência de submersão nas raízes do Brasil que é “Além do homem”.

* Jornalista e membro da ACCRJ

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ALÉM DO HOMEM: *** (Bom)

Cotaçõeso Péssimo; * Ruim; ** Regular; *** Bom; **** Muito Bom

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