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CCBB recebe 120 obras de artistas latino-americanos que dão panorama da arte abstrata desde 1930

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Um grande panorama da arte abstrata da América Latina vai ocupar o primeiro andar e o foyer do Centro Cultural do Banco do Brasil a partir de amanhã. “Construções sensíveis: A experiência geométrica Latino-americana na coleção  Ella Fontanals-Cisneros” apresenta 120 obras de 60 artistas vindos de sete países. “Estudando o grande acervo da coleção, através de um recorte vinculado à geometria, percebemos que era o caminho mais coerente para se montar a exposição”,  conta Rodolfo de Athayde, responsável pela curadoria ao lado de Ania Rodríguez. 

Com a intenção de abranger vários movimentos importantes da arte latina,  a exposição tem obras dos anos 1930 até os 2000 entre pinturas, desenhos, esculturas, objetos, instalações, fotografias e vídeos . “Apresentamos uma evolução de tendências no continente. É uma viagem, desde o uruguaio Torres García, passando pelo movimento concreto e neoconcreto brasileiro, com Lygia Clark, por exemplo, e abrindo uma janela para o movimento concreto cubano dos anos 1950 e 1960, pouco divulgado por questões políticas da época”, enumera. 

O curador ressalta a preocupação em fazer um link entre obras consagradas, algumas do início do século passado, com a contemporaneidade. “Um desses trabalhos recentes é a instalação  ‘Horizonte inestable’, que não faz parte da coleção  Ella Fontanals-Cisneros”, cita, referindo-se à obra do cubano Alexandre Arrechea. Fundador do coletivo artístico Los Carpinteros, ele já expôs algumas obras no próprio CCBB, que abrigou a mostra do coletivo no ano passado. “Minha formação artística começou em Cuba, por volta dos anos 1980, quando me graduei no Superior Instituto de Arte, em Havana. E parti para uma trajetória internacional com Los Carpinteros, que teve a primeira exposição no Brasil em 2002, em São Paulo”, conta Alexandre.

O cubano, que vive entre Nova York-Miami-Havana, diz que, ao ser convidado para participar da exposição, pensou em como poderia criar algo com forte diálogo com a arte abstrata. “Eu tinha o desenho, mas sabia que o espaço físico ditaria a sua forma. As cores e estrutura transmitem uma espécie de conflito. Quero, com elas, mostrar que a realidade não é fixa e está em constante mudança”, comenta. 

As peças ovais em MDF do artista, que se encaixam alternadas em preto e branco, estão montadas no foyer da entrada principal do CCBB. “Nelas, o horizonte é montado em linhas conflituosas, onde uma segunda ou terceira realidade são possíveis. É um múltiplo horizonte que pode mudar as possibilidades”, define Alexandre.                               

Entre os artistas cubanos que também participam de “Construções sensíveis”, estão Gustavo Pérez Monzón com a instalação “Vilos”, com fios elásticos, seixos e arame, que ocupa uma sala inteira, e Javier Castro, com os vídeos “Black on black” e “White on white”. “Gustavo é um nome importantíssimo da arte cubana dos anos 1980 e Javier apresenta um trabalho forte, relacionado a questões sociais e raciais”, diz Rodolfo. 

Uma das salas reúne obras de arte ótica e cinética, como as de Julio Le Parc, intituladas “Element mouvement surprise”, onde objetos que se assemelham a relógios ficam em constante movimento, e “Formes virtuelles par déplacement du spectateur”, com as mais diferentes formas e cores em constante mudança. “Ele é um dos grandes nomes da arte argentina ainda vivo. Trabalha muito bem com as questões de espaço, luz e a posição do sujeito como observador da obra”, elogia o curador. 

Na mesma sala há também a animação gráfica “1pm006 ‘Ara Ararauna’” , da venezuelana Magdalena Fernandes. “Ela é uma artista contemporânea que vem se destacando por seus trabalhos de projeção. É muito interessante perceber o som dos pássaros vindo de um vídeo estático. Quero, inclusive, fazer uma individual com ela em breve”, diz Rodolfo, que destaca ainda a presença de Jesus Rafael Soto. “Ele é um nome tradicional da arte venezuelana e comparece com duas obras:  ‘Vibration’ e “Escritura blanca a círculos, No.2’”.  

“Construções sensíveis” traz, entre nomes brasileiros, Lygia Pape, com a delicada instalação em fio dourado “Tteia”, que ganhou uma sala exclusiva; Lygia Clark com a série de três esculturas em alumínio “Bicho”; Luiz Sacilotto; Hélio Oiticica; e os ítalos-brasileiros Anna Maria Maiolino e Alfredo Volpi. 

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SERVIÇO

Construções sensíveis: A experiência geométrica latino-americana na coleção  Ella Fontanals-Cisneros - Centro Cultural Banco do Brasil (R. Primeiro de Março, 66 - Centro; Tel.: 3808-2020). Qua. a seg., das  9h às 21h. Entrada franca. Até 17/9.