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Miguel Proença, pianista brasileiro

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O Brasil é reconhecido pela qualidade de seus pianistas contemporâneos e de gerações passadas: Arnaldo Cohen, Guiomar Novaes, Magda Tagliaferro, Antônio Guedes Barbosa, Nelson Freire, Arthur Moreira Lima, Hermínia Roubaud, Cristina Ortiz e tantos mais, alguns mais conhecidos do grande público, outros, nem tanto. Dentre os que estão a todo vapor, está Miguel Proença, conhecido por suas interpretações de Chopin e Brahm e prestativo servidor da música brasileira. 

Atual diretor da Sala Cecília Meireles, Proença diz que “miraculosamente a Sala está funcionando muito bem, considerando-se a crise”. A programação do espaço, reaberto no final de 2014, tem sido intensa. Diversos concertos têm lotado, especialmente os da Orquestra Sinfônica Brasileira.

Proença  quer aproveitar o bom momento para fazer a música acontecer. Há um processo de formação de público em andamento, ele diz. Seu sonho é mais alto: uma orquestra para a Sala: “Existem jovens músicos tinindo para tocar. É preciso só que empresários e patrocinadores se sensibilizem com projetos sociais”, afirma.

O músico, que fez doutorado na Alemanha e tocou por anos na Europa, há muito tempo atua em projetos de divulgação da música em comunidades pobres. Pela primeira vez, ele diz, essas atividades estão tendo que ser interrompidas, por falta de apoio financeiro: “Sempre toquei pelo Brasil inteiro, do Acre ao Rio Grande do Sul. Trago centenas de pessoas e crianças que tiveram quase nenhum contato com música e mostro meu repertório, ao lado de palestras e de conversas com o público. É muito emocionante e obtenho ótimas respostas. Quero voltar logo a fazer isso”, afirma. 

Quando voltou ao Brasil com a mulher e os filhos nos anos 1970, depois de concluídos os estudos, ele encontrou um cenário de grande competitividade. Foi a aposta na música brasileira, conta, que o salvou:  “Eu tinha de encontrar uma forma de sobreviver. Era uma geração de pianistas maravilhosos concorrendo e foi então que decidi pesquisar a música brasileira”, relembra. “Tinha de fazer algo diferenciado. Gravei a obra completa de compositores: comecei com Lorenzo Fernandez e foi um sucesso. Depois gravei a íntegra de Nepomuceno”. 

Paralelamente à vida de concertista, de professor e à vasta experiência em música de câmera — tocou com alguns dos maiores músicos do mundo, como Accardo, Rampal, Quarteto Bessler, Leonard Rose e Paul Tortelier — o  pianista lançou também a “Coletânea piano brasileiro”,  em sete CDs com gravações de vários compositores nacionais. Os álbuns foram lançados pela Biscoito Fino e distribuídos pela Tratore. A coletânea abrange vários gêneros e possibilita o conhecimento mais a fundo dos compositores, que incluem Villa-Lobos, Guerra-Peixe e Edino Krieger. Algumas obras nunca tinham sido gravadas antes.

Entre as peças mais famosas estão “Batuque”, de Lorenzo Fernandez; a “Grande fantasia triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro”, de Gottschalk, única presença estrangeira na coletânea, que é executada com vigor; as “Bachianas brasileiras 4 e 5” de Villa-Lobos, que nas mãos de Proença adquirem uma frescura renovada; e a “Sonatina” de Edino Krieger, que completou 90 anos em 2018.

Outros compositores incluídos nesta coletânea são gaúchos, conterrâneos de Proença: Radamés Gnatalli, João Araújo Vianna e Natho Henn. De outro estados vêm Ernesto Nazareth, Camargo Guarnieri, Fructuoso Vianna, Marlos Nobre e Alberto Nepomuceno, um dos compositores com a obra integral incluída. 

Indagado sobre a ausência de Francisco Mignone e Claudio Santoro, dois dos mais importantes compositores brasileiros, Proença explica: “Não incluí Mignone porque na época ele estava sendo muito gravado por outros pianistas. Acabou que ficou mesmo uma lacuna. Mas quem sabe se um dia ainda gravo estes compositores? Seria ótimo! O problema é hoje em dia não está fácil encontrar patrocínio”.