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'Barravento pop' destaca crítica sobre 'Tungstênio'

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Mesmo não havendo uma linha autoral – temática ou formal – visível na obra de Heitor Dhalia, os filmes desse pernambucano radicado em São Paulo, realizador de “O cheiro do ralo” (2006), carregam uma inquietação afetiva, sobretudo na questão da lealdade, que poucos diretores brasileiros revelados na retomada (1995-2010) apresentam, e com tamanha maestria.

Por isso, os afetos fervem em azeite de dendê em seu “Tungstênio”, uma das narrativas audiovisuais nacionais mais potentes de 2018. Com toques de expressionismo alemão na fotografia de Adolpho Veloso, arredia ao contingente neorrealista ao seu redor, o filme é uma crônica poliédrica, com quatro núcleos de personagens, vistos em uma perspectiva cubista, fragmentada, sobre aquilo que se espera da lealdade. 

Com base na mundialmente premiada HQ de Marcello Quintanilha, o roteiro de Marçal Aquino e Fernando Bonassi se apega ao cotidiano e a solavancos da banalidade. 

A partir da adaptação deles, Dhalia cria uma Bahia bem parecida com a de “Barravento” (1961), de Glauber Rocha. Nela, um sargento aposentado – vivido pelo exu José Dumont, devastador em cena –, leal a um ideal de Moral e Cívica superado, deflagra uma confusão em prol de um ideal de ordem às margens de um forte. Fiel a um conceito de justiça torto, uma espécie de Dirty Harry à baiana, o policial Richard – interpretado por um luminoso Fabrício Boliveira, com ecos de Milton Gonçalves –, embrenha-se nesse cumburucu que Dhalia narra em um tom de thriller moral, tenso e vívido. A poética narração de Milhem Cortaz (alter ego de Quintanilha) aproxima o longa-metragem da linguagem dos gibis.

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TUNGSTÊNIO: **** (Muito Bom)

Cotaçõeso Péssimo; * Ruim; ** Regular; *** Bom; **** Muito Bom

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