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Eliane Elias comemora 40 anos de carreira e quer encantar público brasileiro

Premiada cantora e pianista vem de Nova York para shows no Rio

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Vencedora de dois Grammy (com nove indicações), parceira de Vinicius de Moraes e Toquinho, e até estrela de TV na década de 1960. Com uma descrição como esta é até difícil acreditar que Eliane Elias passou praticamente despercebida no aeroporto, quando chegou ao Brasil. Radicada em Nova York há mais 30 anos, a pianista, uma das maiores referências do jazz brasileiro no mundo, sobe ao palco do Blue Note Rio nos próximos dias 23 e 24 (sábado e domingo) para apresentar seu afinadíssimo repertório de jazz, Bossa Nova, com  Rafael Barata na bateria e Marc Johnson no contrabaixo. 

Mesmo com shows praticamente esgotados, ela confessa que sente falta de um maior reconhecimento do público brasileiro. “Infelizmente, o Brasil ainda participa pouco da minha agenda de shows pelo mundo”, afirma ela, que há dois meses lançou o álbum “Music from Man of La Mancha”, baseado no musical “Man of La Mancha”, de Dale Wasserman, acumula 26 discos na carreira e participações em trabalhos ao lado de outros grandes nomes da música, como Herbie Hancock e Gilberto Gil. 

Apesar de vir pouco ao país – a última vez foi há cinco anos, para uma apresentação no Sesc Pompeia, em São Paulo –, a paulista de 58 anos mostra que está atenta aos problemas políticos do Brasil, defende a continuidade da Bossa Nova e da MPB, e conta como o mestre Vinicius de Moraes a inspirou no início de sua carreira: “Levo sua sensibilidade e visão sobre a vida até hoje na forma de escrever.” 

Com a carreira consolidada, revela que não gosta de ficar fazendo balanço e prefere ficar de olho no futuro: “Já estou trabalhando num próximo disco. Na minha vida, não olho para trás, apenas para frente, e espero dar continuidade e autenticidade à música brasileira”.

JORNAL DO BRASIL: O que podemos esperar para os shows da próxima semana? Quando foi sua última apresentação no Brasil? 

Eliane Elias: Estou muito feliz em voltar ao Rio, cidade que não me apresento há muitos anos. O show será um trio com Marc Johnson no contrabaixo e Rafael Barata na bateria.Traremos uma variedade de música brasileira, com Bossa Nova e standards do jazz, e espero encantar o público brasileiro. 

Você nasceu em São Paulo, mas há muitos anos mora fora do país e construiu sua carreira internacional. O que você ouve sobre o Brasil lá fora atualmente?

A visão do Brasil lá fora em geral não é boa, principalmente por conta da atual situação política e econômica, mas posso garantir que a nossa música segue sendo propagada e respeitada mundialmente.

Você sente falta do reconhecimento mais caloroso do público brasileiro? 

Passo em média mais de 180 dias por ano viajando em shows e turnês, e, infelizmente, o Brasil ainda participa pouco disso. Claro que gostaria de um reconhecimento mais caloroso, mas, para isso, é necessário uma sequência maior de shows por aqui. Fiquei feliz de ver pessoas no avião que me trouxe ao Brasil ouvindo meu disco, me deixou animada. 

Acredita que “Music from Man of La Mancha” seguirá o mesmo sucesso dos consagrados “Made in Brazil” e “Dance of time”? 

Os dois últimos trabalhos, sem dúvida, se comunicavam mais facilmente com o público, pelos vocais e arranjos. “Man of La Macha” é um disco mais virtuoso, totalmente instrumental, porém fiquei muito feliz no seu lançamento, quando alcançou o primeiro lugar na revista “Billboard”, na categoria de jazz. 

Você é uma referência feminina no mundo do jazz. Te deixa feliz essa ascensão de jovens cantoras e instrumentistas? 

Claro, especialmente pela quebra desse paradigma da cena dominada historicamente pelos homens. Estou na estrada há 40 anos, é uma vida de dedicação, não é fácil, e exige muito, pois precisamos colocar a música sempre em primeiro lugar. Me enche de orgulho ser uma inspiração para musicistas e cantoras que estão começando suas carreiras. 

Aos 17 anos, você passou a liderar a banda que acompanhava Vinicius e Toquinho. Você já tinha a dimensão do aquele momento representava para a história da música brasileira? Como foi essa experiência? 

Foi uma experiência importante, que marcou o início da minha carreira. Passamos três anos viajando e o Vinicius me ensinou muito na forma de compor, além de me mostrar toda a sensibilidade e leveza com que ele levava a vida. Já o Toquinho foi fundamental para eu colocar o samba dentro do piano, pois dividíamos a parte rítmica, e assim desenvolvi uma técnica muito diferente da maioria dos pianistas. 

A música no Brasil tem sido alvo de criticas pela falta de conteúdo relevante. Acha que estamos caminhando para uma nova era musical, ou ainda há espaço para a MPB e a Bossa Nova? 

Posso dizer que viajo o mundo inteiro e levo nossa música para todos os países, e que as pessoas gostam e conhecem muito de Jobim e tantos outros grandes artistas. No que depender de mim, a MPB e a Bossa Nova jamais vão morrer. 

Muitos artistas têm vindo a público se manifestar sobre as eleições no Brasil. Você, mesmo morando fora há muitos anos, acompanha o cenário político por aqui? 

Tenho família no Brasil e acompanho, sim, as questões políticas, mas faço questão de separar a minha música dos meus pensamentos políticos. Tenho esperança de que as coisas melhorem. Nosso país não merece estar passando por isso. 

Sente saudades do Brasil? 

Sempre! Morro de saudades da nossa culinária:  uma boa feijoada, o pastelzinho de queijo, as frutas, um bom caldo de cana. Além disso, sinto falta da minha família, que fica em São Paulo, e de amigos queridos. É sempre um prazer estar aqui.

Fora dos palcos e longe do piano, o que Eliane Elias mais gosta de fazer? 

Adoro cozinhar e gosto muito de administração, números, estar cuidando das coisas. Adoro compor e passar o máximo de tempo possível com as pessoas que eu amo.

Você tem 26 discos lançados, dois prêmios Grammy e uma carreira repleta de sucessos. Ainda existe algum objetivo pro?ssional não alcançado? 

Fico muito feliz com os prêmios, as indicações, mas estou sempre olhando para a frente. Tenho vontade de fazer muitas coisas, e já estou trabalhando num próximo disco para o ano que vem.