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No adeus a Agildo Ribeiro, amigos relembram histórias e humor

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O velório do ator e humorista Agildo Ribeiro aconteceu ontem pela manhã no Memorial do Carmo, no Caju. O corpo foi cremado à tarde, em cerimônia fechada aos parentes e amigos mais próximos. Agildo morreu sábado, em casa, aos 86 anos, devido a problemas cardíacos. 

Por ser tratar de um ambiente mais reservado -  as capelas do Memorial são pequenas e não permitem um grande trânsito de pessoas - a cerimônia foi discreta e sem o tumulto típico de despedidas de artistas. Na entrada da capela, seis grandes coroas de flores homenageavam o humorista, como as enviadas por Boni e a mulher Lou, Daniel Filho,  Associação de Pais e Mestres do Colégio Militar e Zeca Pagodinho. No interior, outras da Rede Globo, emissora onde trabalhou desde o início de carreira, do programa Zorra Total, último em que atuou, e uma do filho, nora e neto. Marcelo Galvão, o filho, estava no local, mas preferiu não dar depoimento à imprensa. Lúcio Mauro Filho, Marcius Melhem e Cláudio Torres Gonzaga foram alguns dos amigos que estiveram na despedida. 

O motorista Aécio Estrella foi um dos que mais conviveu com Agildo - pelo menos a metade de sua vida. “Agildo só sabia trabalhar porque, de resto, eu que tomava conta de tudo. Até as senhas bancárias era eu que sabia. Ele ía operar o coração nesta quarta-feira e na sexta passada eu o levei para fazer exames. Ele brincou, dizendo que, se soubesse que o corpo humano era tão feio por dentro, nem tinha feito nada. Passava de 1h da manhã quando ainda me contou uma piada e  fui embora. No sábado, o telefone tocou e eu fiquei sabendo da notícia”, contou ele, que foi fiel escudeiro de Agildo por mais de 40 anos. 

Estrella é uma enciclopédia de causos de Agildo: “Ele adorava imitar as pessoas na rua. Um dia, uma mulher se irritou e bateu com a vassoura no teto do carro. Nem o pessoal da Lei Seca escapava. Quando me paravam, eu fazia o teste e ele sempre brincava dizendo que se fosse com ele, não passaria no bafômetro”. Estrella o acompanhava em todos os lugares - “Chegava a escutá-lo  chamar meu nome mesmo quando não estava me chamando”, conta - e o preferido era o Esch Café, no Leblon, onde “batia ponto” todos os dias. “Ele chegava por volta das 16h para beber uísque e fumar charutos e só saía de madrugada. Fumava até dentro do carro fechado”, contou Estrella, com a leveza e um bom humor certamente lapidados com a convivência com o patrão.    

O cartunista Jaguar também falou um pouco sobre a convivência de longa data com Agildo. Eles se conheciam desde os 15 anos. “Nós estudávamos juntos e um dia decidimos montar um grupo teatral. Eu, ele e a Clara, filha de Graciliano Ramos, ensaiamos uma peça chamada ‘É primavera’ para apresentar na escola. Nem lembro de quem era, só sei que era horrorosa. Eu desisti e a Clara se tornou uma ótima escritora. Me sinto, de certa maneira, responsável pela carreira dele, mas sei que foi um desgosto para a família porque era filho de rua (referindo-se à Rua Barata Ribeiro). Sempre brincava, apresentando ele como ‘Agildo Ribeiro, mas não sei esquina de qual rua!”, disse o bem humorado fundador do Pasquim, contando ainda que eles tinham casas próximas em Itaipava, onde se encontravam quase todos os sábados “para tomar umas canas”.    

Bem abatido, o ator Antônio Pedro disse que é difícil lidar com a perda do amigo, pois foram anos e anos de convivência. “Sua marca foi a irreverência. Mesmo com problemas de saúde, nunca deixou de ser engraçado. Ele era o humorista proibido para menores”, definiu. Companheiro de uísque e charuto no bar do Leblon, Antônio Pedro  lamentou não poder ter dividido recentemente as telas com o amigo na série “Saideira”, exibida no Canal Brasil em 2017.  “O programa foi idealizado pelo Hugo Carvana, que tinha chamado também o Miele e o Agildo para participar. Só sobrou eu”, disse, triste.