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Latidos de Wes Anderson valem milhões

A animação ‘Ilha de Cachorros’ vira um sucesso na seara independente dos EUA

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Prevista para chegar ao Brasil em julho, precedida de elogios nas mais variadas línguas, “Ilha de cachorros”, filme que rendeu ao texano Wes Anderson o prêmio de Melhor Direção no último Festival de Berlim, anda enchendo os cofres da Fox com milhões de dólares, tornando-se, com a discrição típica do realizador de “Os excêntricos Tenenbaums” (2001), um fenômeno na seara indie do cinema, sobretudo no terreno da animação. Lançado nos EUA há cerca de um mês, com um número limitado de cópias, apenas para gerar boca a boca, a aventura animada de um garotinho para resgatar seu cão de estimação arrecadou US$ 39 milhões nas bilheterias e, isso, porque mal começou sua carreira pelo circuito internacional. 

Na Europa, suas sessões, regadas a gargalhadas, enchem a cada semana, dado o número de resenhas elogiosas em sites e jornais, coroando o modo de Wes trabalhar em stop motion, técnica na qual objetos são animados quadro a quadro, como se viu no exemplar anterior dele no gênero: “O Fantástico Sr. Raposo” (2009). “Eu fui pai há pouco tempo e desde que minha filha existe eu estou envolvido com esta história, tentando valorizar um processo quase artesanal de fazer cinema, a partir de conexões com referências do grande cinema japonês, de Akira Kurosawa a Hayao Miyazaki”, disse Wes na coletiva de imprensa de “Ilha de cachorros” em Berlim, acompanhado de seu escudeiro (e ator fetiche) Bill Murray. 

“O cinema independente é aquele que paga pouco pra você faz coisas que te deixam feliz. Wes é um sujeito que me leva a fazer essas coisas felizes na busca por uma trilha que nossa sede de realismo obscureceu: a fábula. É a partir da fantasia que a gente pode olhar o mundo com um distanciamento poético”, disse Murray ao Jornal do Brasil na Berlinale, pouco antes de ser convocado para buscar o Urso de Prata dado a Anderson. Este estava ocupado construindo a estratégia de lançamento de “Isle of dogs” (título original), laureado com  o prêmio de júri popular no festival SXSW, no Texas. Passada em um Japão futurista e distópico, no qual o prefeito condena animais domésticos a um isolamento em um lixão a céu aberto, a trama de Wes acompanha os esforços do menino Atari para salvar seu mascote, Spot (dublado por Liev Schreiber, astro da série Ray Donovan), de um depósito para cães. Spot corre perigo, em um ambiente lotado de ratos, vermes e outros cães lotados de raiva. O principal auxílio de Atari será um bando de cãezinhos nada bons da cuca, cujos dubladores são Edward Norton, Jefi Goldblum e Bill Murray.

“Dublar é uma atividade ótima para quem dirige filmes, pois nem um astro  em desculpa para te dizer ‘Não posso, estou ocupado’ quando você convida ele para trabalhar num projeto de baixo orçamento. Não há desculpa porque você pode gravar sua voz por celular e enviar na hora”, brincou Wes, que conseguiu o cultuado Bryan Cranston, o Walter White do seriado “Breaking bad” para ser o dublador do samurai desta história à moda nipônica: Chief.

Abandonado no lição, Chief é um vira-lata bravo, solitário feito os ronins de Toshiro Mifune, que acaba virando o herói do filme de Wes. “É muito bonito ver a mensagem de tolerância que este filme traz em tempos de tumulto político no mundo”, disse Cranston. “Wes enxerga a iluminação da fantasia e oferece ela ao mundo, com leveza, algo que nos falta”.