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Analu Prestes expõe na Bhering série de objetos inspirados em Emily Dickinson

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A individual “Para fazer um bosque” - que está em temporada na galeria Feira, na Fábrica Bhering, Gamboa - convida o espectador a mergulhar no tempo de delicadeza da atriz e artista plástica Analu Prestes. Inspirada por um poema de Emily Dickinson, que integrava seu monólogo dirigido por Eduardo Wotzik, Analu criou uma série de trabalhos feitos em papel montval, recortados a mão com estiletes e tesouras. Conhecida como “papercut”, a técnica enche os olhos da artista desde 2006. As delicadas peças retratam insetos, flores e até vestidos em vários formatos. O preço dos vestidos vão de R$ 600 a R$ 5 mil. Os papéis de parede custam de R$ 300 a R$ 2 mil, dependendo do tamanho e da quantidade de recortes. 

Analu fez sua iniciação no artesanato aos 15 anos, como aluna de Naum Alves de Souza (19422016) na Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), em São Paulo. Era um curso de artes plásticas para adolescentes ministrado pelo grande mestre das artes cênicas. Cinco anos depois, com Luís Antônio Martinez Corrêa (1950-1987), fundou seu primeiro grupo, Pão & Circo, que estreou com a montagem “O casamento do pequeno burguês”, de Bertolt Brecht. “Atuava, assinava os telões e os figurinos todos da peça”, relembra.  Não parou mais.

A inspiração para esta que é sua 26ª individual é o poema “Para fazer um bosque”: “Para fazer um bosque/Basta uma vespa e um trevo/Uma vespa, um trevo e a fantasia/Basta a fantasia se a vespa faltar”. A poesia é companheira de todas as horas, brota de várias fontes, não apenas dos livros e autores do ofício.  Em 2011, Analu transformou um pequeno caderno de lembranças escolares da mãe, datado de 1933, numa coleção de vestidos de papel com seus poemas, desenhos e colagens fielmente guardados pelo tempo. 

“Quis ressignificar a memória e dar outra forma às lembranças”, explica. “Em 2012, comecei um trabalho de poesia visual dentro do Jardim Botânico, fotografando com uma Panasonic semiprofissional as pequenas coisas que via neste jardim, suas águas coloridas por reflexos, seus habitantes, pequenos poemas feitos de folhas, flores e frutos. Passei três anos indo diariamente para o jardim garimpar poesia. Esse trabalho fotográfico foi cenário do Prêmio Música Brasileira de 2012”. 

Cada série de trabalho, ela conta, vem de uma poética: “Tenho a memória como uma força que me impulsiona aos mergulhos criativos. Gosto muito de percorrer delicadezas e tenho já há algum tempo trabalhado com o papel como suporte para a escrita, colagens e bordados. A curiosidade sempre foi minha parceira e por causa dela gosto de percorrer várias formas de expressão como pintura, marcenaria, papercut, aquarelas, barro e fotografia”. 

As obras de Analu estão em paredes e coleções de nomes como Marieta Severo, Renata Sorrah, Pedro Paulo Rangel, Mario Borges, Ari Coslov, Denise Bandeira, Rita Murtinho, Pedro Sayad, Roberta Damasceno, Zé Mauricio Machline e Carla Camurati. Mas nem tudo são poesias visuais na vida da artista. Atualmente, ela se reveza com a colega Kelzy Ecard  no premiado espetáculo “Tom na fazenda”, dirigido por Rodrigo Portella, que faz temporada no Teatro do Leblon. Em setembro, ela e Ari Coslov  estarão juntos no espetáculo “Lá fora temporal”, texto de Marcelo Aquino com direção da Cassia Villas Boas que vai estrear no Teatro Poeirinha.