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Crianças e adolescentes têm espaço privilegiado na Bienal de Brasília

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Todas as manhãs e tardes, a 2ª Bienal Brasil do Livro e da Literatura, que está sendo realizada em Brasília, oferece dois tipos de atração voltados para crianças e adolescentes. São apresentações de teatro e contação de histórias, atividades que trazem para perto o universo da leitura e das artes cênicas, que mantêm os olhos da plateia vidrados nas cores dos espetáculos e nas artimanhas de músicos e atores.

Na arena infantil, que homenageia o escritor Monteiro Lobato, a Companhia Roupa de Ensaio apresentou o teatro de mamulengo para dezenas de crianças estudantes de escolas públicas do Distrito Federal. Encenado por um quinteto de artistas e músicos que aninam a peça com sanfona, ganzá, triângulo e zabumba, o texto A peleja do vaqueiro benedito contra o capitão João Redondo e a cobra Madalena apresentou músicas, crendices e expressões caras às culturas populares, sobretudo a cultura nordestina.

O criador da companhia, Miguel Mariano, conta que o grupo já encenou peças no estilo clássico, em palcos italianos, mas escolheu o teatro de rua e o mamulengo, uma brincadeira de terreiro que conta com bonecos, como forma de provocar “inquietação e mudança”.

Para ele, ter acesso à cultura é “uma necessidade primordial” do ser humano ter acesso à cultura”. Ele alerta, porém, que cultura não deve ser confundida com conteúdos tradicionais, como os das disciplinas escolares. “Arte é liberdade. Nós queremos estimular o lúdico, a liberdade, a inovação.”

A proposta convenceu Tales Rodrigues, de 10 anos, que não tirou os olhos dos bonecos, durante toda a apresentação. Morador de Samambaia, no Distrito Federal, e estudante de uma escola pública da cidade, ele gostou do espetáculo e também do passeio pelos corredores da Bienal, repletos de livros. “Dá vontade de ler mais”, disse Tales, que costuma frequentar a biblioteca da escola ao menos uma vez por mês.

A professora Luciane Gonçalves, que levou uma turma de dez estudantes para a Bienal, considera a participação dos alunos “muito positiva”. “É um momento único para ampliar o acesso à cultura, inclusive outras formas de cultura, para além do que eles já conhecem na escola.” Luciane destacou que os jovens gostam muito dos livros e saem da Bienal com mais vontade de conhecer.

Segundo a professora, mais alunos de sua escola gostariam de participar do evento, mas faltou transporte para levá-los de Brazlândia, também no Distrito Federal, para a Esplanada dos Ministérios, local do  “Foi preciso fazer sorteio para organizar as turmas nas 40 vagas do ônibus” disponibilizado pela Secretaria de Educação do Distrito Federal.

De acordo com a organização da Bienal, 15 mil estudantes de escolas públicas e privadas participam, todos os dias, do evento. A cada turno, têm sido feitas 200 viagens em ônibus fretados para garantir a presença de alunos vindos de outras cidades do Distrito Federal.

Na Arena Jovem Cecília Meireles, o texto A Farsa da Boa Preguiça, de Ariano Suassuna, foi apresentado a uma plateia de adolescentes. A produção, do Grupo Teatro Guará PUC, de Goiás, fez com que a estudante Isabel de Jesus, de 15 anos, repensasse valores. “Eles mostram que não vale a pena ser avarento. Deram uma lição de moral mesmo, incentivaram a ajudar as pessoas”, disse Isabel.

Ela ressaltou que o teatro é interessante por chamar a atenção tanto pelo aspecto visual quanto pelo conteúdo das peças, mas lembrou que a arte ainda pode ser mais popular: “Quando tenho dinheiro para ir, eu vou. [O teatro] ainda não é muito acessível, mas é um formato bom para conscientizar as pessoas.”