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'Preciso Andar' - premiado autor inglês é encenado pela primeira vez no Rio

Montagem é idealizada por Ivan Sugahara e Tárik Puggina, dupla indicada ao Shell

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Libido, prazer, afetividade e amor são os temas de “Wanderlust”, peça do inglês Nick Payne, que foi, com então 28 anos, o mais jovem ganhador do Evening Standard Awards.  E o Rio poderá conhecer um pouco desse autor, ainda inédito na cidade. Com o título de Preciso Andar, a peça tem patrocínio do Fomento, através da Secretaria Municipal de Cultura, e estreia, dia 8, no teatro de arena da Caixa Cultural, em  montagem dirigida por Ivan Sugahara, produzida pelo também ator Tárik Puggina (indicados ao Shell na categoria inovação pela Sede das Cias) e que tem no elenco talentos da cena contemporânea. 

Wanderlust é uma expressão alemã que pode significar tanto o desejo de viajar quanto o de sair de uma zona de conforto ou do próprio eixo. Tal expressão foi incorporada ao vocabulário britânico e sua escolha como título não foi aleatória. Ivan credita à expressão o que vê como um dos trunfos do texto: a necessidade que cada personagem tem de se reinventar. “O viajar para fora também implica em olhar para dentro de si. Reinventar-se é recomeçar. Não é à toa que a última fala da peça é ‘começar de novo`, opina. 

Tárik vive Estevão na trama, cujo elenco conta com Suzana Nascimento (Liz), Otto Jr. (Alan), Cristina Lago (Clara), Fábio Cardoso (Theo) e Beatriz Bertu (Michele). “Cada personagem atravessa uma crise e faz o seu ‘wanderlust’. Alan quer resgatar o prazer sexual com Liz, que, por sua vez, acha que o marido só a vê como um objeto sexual. Ambos querem reverter esses quadros”, exemplifica Tárik. O ator e produtor chegou ao nome de Payne através de uma matéria de jornal. O gancho era o interesse que os textos do autor tem despertado em astros de Hollywood (Jake Gyllenhaal, de “Brokeback Mountain” é um deles). O lado produtor de Tárik levou-o a pesquisar sobre Payne. Apenas “Wanderlust” tinha seus direitos disponíveis. O conteúdo da peça foi uma grata surpresa. “Ao abordar diferentes tipos de relações afetivas, o autor cria um texto rico em nuances. A cada leitura, uma camada dessas nuances é descoberta. Que sorte a minha de ter um texto desses nas mãos”, comemora, completando em seguida: “O texto é despudorado e objetivo. O autor não usa de preâmbulos para chegar a um ponto”. O despudor apontado por Tárik é fundamentado nos diálogos, nas cenas e também em muito do que é sugerido nas rubricas. Ivan sabe o desafio que tem pela frente: “Adoro autores que propõem problemas em vez de soluções”, responde instigado.  

A afinidade entre diretor e produtor não foi construída do dia para a noite. Já com nomes estabelecidos em suas áreas, Ivan e Tárik se encontraram num palco em 2010, com “Sade em Sodoma”, na qual Tarik foi dirigido pela primeira vez por Ivan (“Preciso andar” é a segunda) contracenando com a atriz Guta Stresser. Neste ínterim, diretor e produtor levantaram espetáculos como “A estupidez”, “Mulheres sonharam cavalos”, “Antes que você me toque”, “A Serpente” e “Pacto”. A sintonia deu certo a ponto de levá-los a ocupar a antiga sede da Cia dos Atores, na Lapa, com o projeto Sede das Cias, que lhes rendeu a indicação ao Prêmio Shell. Tal fato não faz com que deitem nos louros.  Querem é olhar para frente. Sabem que teatro também é feito de wanderlusts.  

Sinopse:

“Wanderlust” é a palavra que todos os personagens de “Preciso Andar”, de Nick Payne, trazem engasgada na garganta. Todos passam por transformações em suas vidas: descoberta da sexualidade, do corpo e do primeiro amor por um casal de adolescentes; colapso conjugal, traição, fantasias sexuais e entrega ao amor pelo casal protagonista; fuga emocional, questionamento sobre suas escolhas e busca pelo autoconhecimento por uma jovem de 26 anos, e, por fim, a busca no passado para responder a angústias do presente por um homem de 38.

Liz e Alan estão com o casamento em crise. Alan busca com frequência a esposa à noite, que sempre adia o ato sexual. Liz tenta resgatar o relacionamento, evitando o assédio de Estevão, colega de faculdade que reaparece em sua vida. Ele também é casado e busca no passado uma salvação para o seu presente sem perspectiva. Já Alan encontra amparo em Clara, uma colega mais jovem com quem se envolve. Enquanto isso, o adolescente Téo, filho de Alan e Liz, faz suas primeiras descobertas sexuais com a amiga Michelle. Juntos, eles vão desvendando seus corpos e revelando suas angústias, medos etc.

Não há desfecho para os personagens. Todos seguem ‘precisando andar’, ainda que tenham dado seus primeiros passos. 

Mais sobre o autor:

Nick Payne conciliou os estudos na Central School of Speech and Drama com o trabalho de  vendedor na livraria do National Theatre, onde leu vários autores que o inspiraram. Começou a chamar mais atenção desde que a Royal Court passou a montar seus textos— tendo-lhe encomendado o mais recente, “Constellations”, que deu a ele o Evening Standard Awards. Seu primeiro prêmio, o George Devine Award, foi ganho com “If there is I haven’t found it yet”, encenada em 2009. 

Serviço:

"Preciso Andar"

Estreia: 8 de janeiro de 2014

Temporada: 8 a 26 de janeiro de 2014 (quarta a domingo)

Horário: 19h

Local: CAIXA Cultural RJ – Teatro de Arena (Avenida Almirante Barroso, 25 – Centro. Próximo à estação Carioca do Metrô)

Informações: (21) 3980-3815

Ingresso: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia). Além dos casos previstos em lei, clientes CAIXA pagam meia-entrada.