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Performática, Madonna faz show com erotismo e subversão em SP

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Armas de fogo, erotismo, ativismo político e subversão religiosa. O primeiro show de Madonna na capital paulista com a turnê MDNA, na terça-feira (4) - a segunda apresentação acontece nesta quarta-feira (5) -, levou 58 mil pessoas ao estádio do Morumbi e deixou a sensação de espetáculo da Broadway.

Com 2h30 de atraso, as luzes se apagaram às 22h30 e o som de um sino de catedral ecoou no ambiente. A luz baixa e macabra fez iluminar homens com capas de monge, balançando um grande incensário suspenso no ar, como em um antigo ritual católico. Um canto gótico se completou com uma grande cruz projetada no telão e dançarinos com máscaras de demônio, se retorcendo nos cantos do palco.

A estrutura do centro, então, se abre para dar lugar a um confessionário flutuante, que deixa delineada apenas a sombra de uma mulher com uma túnica, segurando um terço. Uma grande pistola completa a silhueta e um estrondoso som de tiro faz a cabine se abrir. O público grita e aparece Madonna, arrancando a capa e exibindo sua roupa de couro, com os primeiros acordes de Girl Gone Wild.

"Como está, São Paulo?", arrisca a rainha do pop em português, enquanto segura uma metralhadora. Performática, a apresentação poderia ser dividida em atos, como em um espetáculo musical. "Eu me tornei perversa", diz em inglês, simulando sexo com um dançarino que acabara de "matar", após beber um gole de uísque no cenário que, de uma igreja, dá lugar a um quarto de motel de beira de estrada.

A iluminação, cenografia e figurino milimetricamente arranjados, no entanto, não empolgam tanto o público durante as interpretações de Revolver e Gang Bang. Os fãs maduros, em sua maioria na faixa etária de 30 anos, acabam soltando os primeiros gritos com Papa Don't Preach, sucesso do terceiro álbum de estúdio da cantora, lançado em 1986.

A euforia continua com Express YourSelf, quando Madonna aparece vestida de líder de torcida. Ao emendar Give Me All Your Luvin, surgem dançarinos suspensos no ar, divididos em duas fileiras e usando roupas e instrumentos de fanfarra.

"Vocês estão prontos, São Paulo?", arrisca novamente em português, com sotaque espanhol, antes de entoarTurn Up The Radio, que também anima o público. "Sei que brasileiros amam música, então cantem comigo", completa, em inglês. Em Open Your Heart, os fãs da primeira fila exibem bexigas em formato de coração, deixando-a satisfeita: "é disso que eu gosto", elogia ao resgatar um balão.

"Sagarra jo, São Paulo", diz na sequência, chamando o público para repetir a frase em coro. "Vocês sabem o que é sagarra jo?", pergunta. Neste momento, Madonna abre um diálogo com os presentes e faz o seu habitual apelo por paz e igualdade. "Sabem por que temos tantas guerras? Porque nos achamos melhores do que os outros. Julgamos pela cor da pele, os gays, os judeus", explica, insinuando que a frase é um mantra de prosperidade. "Isso é sagarra jo. É disso que estou falando!", grita ao finalizar com um "caral**", em português, para o delírio dos fãs. Masterpiece, em seguida, ela dedica aos brasileiros e canta sentada, em clima intimista.

Depois de uma rápida saída do palco e exibição de um vídeo de imagens de arquivo, com Justify my Love de base, Madonna retorna elegante, vestindo calça e camisa, para dar início a uma das canções mais aguardadas do show: Vogue. Ovacionada, ela continua com Candy Shop, que recebe um mash up de Erotica. Neste momento, a cantora aparece com o icônico sutiã de cone, em um cenário que remete aos antigos cabarés.

O auge da apresentação, no entanto, não deixa dúvidas. Logo nos primeiros acordes de Like a Prayer, quando dançarinos e backing vocals aparecem vestidos de padres e dispostos como em um coral de igreja, o público se emociona. A interpretação é acompanhada pelos fãs cantando em coro, do início ao fim, e batendo palmas. Ao aparecer com a bandeira do Brasil, rodopiando no meio do palco, Madonna arranca gritos da pista às arquibancadas, evocando uma comoção generalizada.

A surpresa, porém, acontece quando ela canta Celebration, canção que fecha o show da turnê. Mesmo sem ser presenteado com o hit Like a Virgin, o público dança e o palco de transforma em uma discoteca, com muitas cores e dançarinos usando headphones. Aos 54 anos, Madonna exibe uma disposição invejável, arriscando em piruetas e passos de street dance. Logo ao final da apresentação de 1h40, as luzes se apagam e a cantora sai sem se despedir, deixando a sensação de um término prematuro no ambiente, mas sem prejudicar seu posto de referência na cena pop.