Nova York - Após conquistarem o Urso de Ouro na última edição da Berlinale, Paolo e Vittorio Taviani apresentaram o tocante Cesare deve morire no Festival de Nova York numa concorrida sessão prévia para a imprensa. O filme também será mostrado na programação do Festival do Rio.
Sempre lembrados por Pai patrão, que concorreu à Palma em Cannes em 1982, Cesare deve morire é um filme diferente na carreira dos diretores, que já realizaram 21 trabalhos juntos, incluindo um curta-metragem na estreia e dois documentários.
Neste novo filme, em forma de docu-drama, os irmãos cineastas filmaram um grupo de atores – formado pelos prisioneiros do centro carcerário de segurança máxima Rebibbia, subúrbio ao norte de Roma – encenando, durante 76 minutos, a peça Júlio Cesar, de William Shakespeare, uma história que trata de poder, liberdade, amizade e traição.
Os ensaios com esse elenco constituído, entre outros, pelos presos/atores Cosimo Rega, Salvatore Striano, Giovanni Arcuri e Antonio Frasca, duraram seis meses.
O documentário dos Tavianis não teve a intenção de buscar qualquer relação com os crimes que eles cometeram para estarem ali encarcerados. Além de desenhar um paralelo entre a peça de Shakespeare e o mundo atual, Cesare deve morire destaca o envolvimento daqueles detentos com a encenação e de que forma a situação de cada um deles influiu no desempenho.
Sem dúvida, a universalidade da linguagem de Shakespeare ajudou aqueles atores a entender e a mergulhar nos personagens. Numa das sequências, quando as luzes se apagam, eles deixam o palco e retornam para suas celas, um deles comenta: “Desde que eu descobri a arte, esta cela se transformou realmente numa prisão”.
Na coletiva após a projeção – da qual participou o Jornal do Brasil – os Tavianis, como sempre fazem, se revezaram nas respostas e falaram como selecionaram o elenco e sobre a origem do filme. Leia os principais trechos:
Por que decidiram fazer um filme encenado por prisioneiros?
” Soubemos por um amigo que a prisão de Rebbibia estava apresentando O Inferno de Dante encenado pelos próprios detentos do centro carcerário. Ele nos falou da emoção dos atores e também da sua ao ver a peça. Isso nos levou a querer fazer um filme com eles”.
E por que a escolha de Júlio Cesar?
“Inicialmente, temos uma predileção por Shakespeare e sempre colocamos alguma coisa de suas ideias nos nossos filmes. Sua obra já foi apresentada de várias maneiras e nós tínhamos o desejo de trazê-la de outra forma, numa espécie de desconstrução. Achamos que ele gostaria de ter visto esta peça no cinema”.
Como foi a escolha do elenco, qual o critério?
“O principal critério foi tentar vê-los como pessoas e não como presos. Mas foi surpreendente ver como alguns são ótimos atores”.
Por que resolveram fazer em P&B?
“A cor é muito realista e dá ênfase às coisas. Não queríamos externar mais ainda as situações extremamente complexas e terríveis que já existem na prisão. Nosso maior interesse era mostrar a alma daquelas pessoas, sua cor interna”.