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Diretor português fala no NYFF de 'Tabu', também no FestRio 

Mistério e poesia marcam o filme, co-produção de quatro países

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Depois de ter concorrido ao Urso de Ouro em Berlim – onde ganhou o prêmio da crítica internacional ( FIPRESCI)  e o Troféu Alfred Bauer (trabalho inovador).– Tabu, de Miguel Gomes, foi selecionado para o exigente Festival de Nova York, que está comemorando sua 50ª edição.

O novo filme de Gomes, realizador do aclamado Aquele querido mês de agosto, foi aplaudido hoje (1º) na concorrida sessão prévia para a imprensa. Tabu estreia no Festival do Rio nesta quarta-feira (3). 

Com um bom elenco, que inclui Teresa Madruga, Laura Soveral, Ana Moreira, Carloto Cotta,  Isabel Cardoso,  Manuel Mesquita e o brasileiro Ivo Müller, o filme é uma produção conjunta Portugal / Alemanha / França / Brasil.  

A história segue Aurora, uma mulher solitária que mora em Lisboa com sua empregada Santa – uma cabo-verdiana de meia idade – e que tem por amiga sua vizinha, Pilar, uma aposentada que dedica seu tempo livre ao trabalho voluntário em ONGs.

Um tom de mistério toma conta do filme, quando Santa e Pilar partem em busca de um homem, cujo nome Aurora pronunciou antes de morrer num hospital, para onde fora levada às pressas. 

Na coletiva após a projeção – da qual participou o Jornal do Brasil – Gomes disse que uma das origens do filme se relaciona com uma pessoa de sua família, com vários pontos em comum com a personagem de Pilar. 

“Ela me contou a história de uma vizinha, que acusava a empregada africana de aprisioná-la no seu quarto e praticar outras maldades, nunca comprovadas”, contou o diretor, acrescentando que Tabu é um filme sobre a passagem do tempo. 

“É um filme sobre coisas que não existem mais: e somente persistem no imaginário de quem as viveu. Por isso decidimos realizá-lo em P&B, justamente para fazer uma conexão com as coisas do passado”, explicou Gomes, acrescentando que o processo não foi complicado,  necessitando apenas de um trabalho prévio para melhor entendimento das gradações dos tons.  

“Por isso também, na segunda parte o diálogo é suprimido e há a voz narrativa que reconta a sequência dos eventos que acontecem neste segmento do filme. É como se as palavras trocadas tivessem se perdido no tempo. Eu não queria fazer um pastiche moderno de um filme mudo, então busquei outro caminho que protegesse a essência e a beleza”, ressaltou. 

Embora reconheça que se inspira em muitos diretores, inclusive Friedrich Murnau, que realizou um filme com o mesmo título, Gomes assegura que, neste caso, a grande motivação veio de histórias contadas por familiares. 

“Além disso, gosto muito do cinema clássico americano e isso se reflete também em meus filmes”, contou Gomes, revelando que tem vários projetos em mente. 

“Mas as notícias relativas à produção de cinema no meu país não são boas. Os concursos de apoio à produção para 2012 no ICA (o equivalente à ANCINE) estão neste momento suspensos por falta de verba”, lamentou o diretor de 40 anos, que já desponta como um dos promissores talentos do cinema europeu.