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Crítica: 'O homem que não dormia'

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O segundo longa do diretor e roteirista Edgard Navarro tem como palco um pequeno vilarejo na Chapada Diamantina, onde somos apresentados a catarse emotiva que, nas palavras de Navarro, o atormentava há quarenta anos.

Em meio a lendas urbanas, folclores e pitadas de Jung, Freud, Kardec e outros,  O Homem Que Não Dormia apresenta cinco pessoas unidas por um estranho fenômeno: todas sonham diversas vezes com um homem que tenta passar uma mensagem entre raios e trovões. Atormentados pelas imagens e por suas próprias realidades, os personagens vagam por um roteiro solto e fantástico. Facilmente encontrados em outras “cidades”, os estereótipos vão da esposa do coronel (Evelin Buccheger), que está  grávida de seu amante ao padre sem fé (Bertrand Duarte), que “liga os pontos” do acontecimento bizarro.  

A história conta com ótimas atuações, como é o caso de Ramon Vane e Bertrand Duarte, e explora bem seus pontos fortes, como os sentimentos, o choque (que por vezes começa e termina em si) e a bela fotografia de Hamilton Oliveira. Por outro lado, o roteiro não é dos mais claro s- o que se deve à tentativa de tornar a história uma lenda em meio a momentos desnecessariamente didáticos.

Mesmo em conflito com a proposta narrativa, referências ao filme mais famoso de Navarro, SuperOutro, são visíveis. Cenas explícitas e frases marcantes, como o pulo do padre Lucas em uma fonte e o grito final "abaixo a gravidade são associados ao mendigo e ao "acorda humanidade" do início do filme. Talvez uma continuação do expurgo de sua angústia.

Único, belo e sujo, seu projeto pessoal exprime a forte necessidade de chocar e expõe suas dificuldades em dialogar com o público. Ainda assim, um ótimo filme.

Seja cristão ou não, receba no coração. Mas vá preparado. Navarro desce rasgando.

Cotação: *** (Ótimo)