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Realidade das populações cigana é tema no Festival de Berlim

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A trágica realidade das populações ciganas que vivem na Hungria contemporânea foi estampada nas telas da 62ª edição do Festival de Berlim nesta quinta-feira. Exibido em competição, Just the wind, do diretor húngaro Bence Fliegauf, acompanha  24 horas de medo de uma família de ciganos assombrada com o assassinato de famílias inteiras da mesma etnia, no vilarejo onde vivem, no interior do país. O filme foi  inspirado em uma série de ataques semelhantes ocorridos entre 2008 e 2009 na Hungria, ainda não inteiramente solucionados.

“Um dia, acordei no meio da noite com imagens de pistolas disparando no escuro e pessoas gritando.  Combinar esta sensação de terror com os atentados contra os ciganos não foi muito difícil”, contou o diretor de 38 anos durante o encontro com a imprensa, logo após a primeira projeção do filme. “Eu poderia dizer aqui um monte de besteiras políticas, mas acho bom vivem num país em que se pode fazer um filme como esse”.

Just the wind foi realizado com o apoio do Ministério de Administração Pública e da Justiça, que distribuiu uma carta aos jornalistas, na qual reforça as origens ficcionais do longa-metragem de Fliegauf. “Fiquei surpreso com algumas pessoas que acharam que o filme trasmite uma imagem ruim do país. Ao contrário,  faz parte de um processo de auto-expurgação. É como os filmes alemães sobre o holocausto”.

O filme é copratagonizado pela cigana Katalin Toldi, que contou ter sido discriminada quando busca emprego.  “Alguns empregadores nem disfarçam, te negam a vaga assim que descobrem que você é de origem cigana. Certa vez eu me informei sobre por telefone sobre um trabalho e, no final da conversa, eu perguntei simplesmente, como que por acaso: ‘Ah, o fato de eu ser cigana pode ser um problema para vocês?`  E a pessoa do outro lado foi direta: ‘Nesse caso, sim.’, contou Katalin.

 O outro cadidato ao Urso de Ouro do dia, a produção germano-norueguesa Mercy (Gnade, no original alemão), é um drama intimista envolvendo um casal de alemães e o filho pequeno, que moram uma cidade do extremo Norte da Noruega, à beira do Oceano Ártico.  O marido aceitou uma promoção para trabalhar numa usina extratora de gás da região e a mulher, que era enfermeira na cidade onde moravam, decidira deixar a carreira para trás e dar apoio ao marido. Quando todos parecem adaptados à nova situação, um acidente envolvendo um deles desperta sentimentos até então adormecidos.

O filme foi interiramente rodado em Hammersfest, conhecido pelo isolamento e o inverno prolongado – o sol não aparece entre o final de novembro e o final de janeiro. “O caráter hostil do ambiente é perfeito para a história de Mercy, porque reforça a ideia de que aquelas pessoas não pertencem aquele lugar. É um cenário alienígena”, comentou o diretor Matthias Glasner ao justificar a escolha da locação.