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Masp abre espaço para a arte que nasce nas ruas das grandes cidades

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Levar para dentro do museu a arte produzida nas ruas das metrópoles é o objetivo do Museu de Arte de São Paulo (Masp) com a segunda edição da mostra De Dentro e de Fora, aberta ao público da capital paulista até o dia 23 de dezembro.

Na primeira mostra, organizada entre 2009 e 2010, o Masp apresentou apenas a arte urbana produzida no Brasil. Para esta edição, foram convidados oito artistas estrangeiros, que participaram de um intercâmbio artístico em São Paulo por um mês, e o coletivo brasileiro BijaRi. As peças estão expostas tanto na parte de dentro quanto na parte de fora do Masp. O grupo de estrangeiros é composto pelos franceses Remed, JR e Invader, pelo tcheco Point, pelos argentinos Tec, Defi e Chu e pela norte-americana Swoon.

“Apresentamos no ano passado a mesma temática de arte urbana apenas com artistas brasileiros. Naquela ocasião, em virtude da excelente aceitação que teve por parte do público, pensamos em dar continuidade ao projeto trazendo agora artistas estrangeiros”, explicou o curador do museu, Teixeira Coelho.

Segundo ele, apesar de conhecido, principalmente, pelo acervo de pinturas, o Masp tem a obrigação de abrir espaço para qualquer tipo de manifestação artística. “Já ficou evidente que esse tipo de manifestação [arte urbana] corresponde à sensibilidade de uma parcela muito considerável do público jovem, que se identifica enormemente com essas propostas, tanto no Brasil quanto fora. É um fenômeno que o museu, hoje, não pode ignorar”.

Entre as obras expostas estão grafites, fotografias, vídeos, esculturas, pinturas, murais, colagens e instalações. “A ideia de trazer os estrangeiros para cá é de mostrar a cidade de São Paulo para o mundo segundo o olhar dessas pessoas”, explicou Ribeiro. Além da mostra, também haverá cursos, mesas redondas e um festival de vídeos sobre cultura urbana, que ocorrerá uma vez por mês.

Sobre as diferentes manifestações de arte urbana, Teixeira Coelho explicou o que o público vai encontrar na mostra. “A palavra grafite diz respeito às palavras, inscrições, dizeres que costumavam colocar na praça pública, na rua. A partir daí, por uma questão de extensão, virou essa arte figurativa, abstrata, colorida, que a gente vê pela rua. O melhor nome para fazer a designação disso é arte urbana. A pixação é uma terceira manifestação, que é mais agressiva, feita para agredir o suporte onde ela é colocada. Tem um efeito muito personalístico, quase olhando para o próprio umbigo. O que estamos fazendo aqui, no museu, é mostrar essa arte urbana, que inclui um pouco do grafite”.

Segundo o curador da mostra, De Dentro e de Fora traz um novo público ao museu. “O que diferencia o que a gente está fazendo do que o museu já faz é uma proximidade maior com as novas gerações. É uma questão de linguagem. Estamos trabalhando uma linguagem que as novas gerações gostam e entendem. Com isso, a gente renova o público do museu. Tem muito mais gente nova vindo frequentar o museu para ver essa exposição, inclusive muita gente que nunca tinha entrado no museu”, disse o curador.

A mostra também tem a pretensão de questionar a arte pública encontrada atualmente nas ruas das grandes cidades do mundo. Segundo Ribeiro, a arte pública era muito voltada aos grandes mausoléus, monumentos e bustos, mas hoje é feita quase sem planejamento e por artistas que não são comissionados pelo governo ou pelo Poder Público. “Ficamos sem aquele planejamento do que fazer na cidade. Por um lado, você tem bustos e a arte mais antiga decorando algumas praças e um contingente grande de artistas e garotos pintando os muros da cidade. Agora, para o futuro, o que imagino é que vá existir um planejamento melhor de como trabalhar a imagem da cidade”. Para isso, defendeu Ribeiro, será necessário ocorrer um grande pacto social envolvendo museus, artistas, organizações, população e governo.

O curador do Masp, no entanto, discorda da necessidade de planejamento para a arte das ruas. “Planejamento engessa as coisas. A grande característica desse tipo de manifestação é o fato de que ela aparecia onde era possível. Muitas vezes, de modo clandestino. Não sou nada favorável a planejamentos, localizações. Temos de deixar essas coisas entregues a quem está fazendo [arte]. Se há excessos, devem ser punidos. A lei comum já existe para dar conta desse fenômeno. Fora daí, não creio que haja necessidade de ficar planejando a cidade nesse aspecto. A cidade é mais forte, mais rica e mais viva quando as coisas acontecem em virtude da proposição e necessidade das pessoas”.