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Camilo Cavalcante tem sua obra exibida na Mostra do Filme Livre

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Taís Toti, Jornal do Brasil

RIO - Em atividade desde 1995 em Pernambuco, o curta-metragista Camilo Cavalcante incentivou cineastas pernambucanos que, já em sua segunda geração, intensificaram a produção no estado. A partir desta terça-feira, todos os 13 curtas que compõem a obra inspiradora de Cavalcante chega ao CCBB na Mostra do Filme Livre, que tem o cineasta como um dos homenageados.

A paixão que Camilo tem pelo cinema serve de inspiração até para a geração que antecedeu à dele. Ele é um sujeito que se movimenta, respira e sonha a 24 quadros por segundo enaltece o cineasta Lírio Ferreira, diretor de Árido movie (2004) e O homem que engarrafava nuvens (2008).

Diretor de Amarelo manga (2002) e Baixio das bestas (2007), Cláudio Assis, que assina com Cavalcante o documentário Eu vou de volta, faz coro a Lírio Ferreira:

Camilo é um cineasta que não para de ter ideias, é uma pessoa que está sempre se reinventando, além de ser um grande amigo.

Os elogios talvez sejam resultado da paixão que o pernambucano coloca em seus filmes. Para ele, sua maior inspiração é o ser humano.

Faço filmes de gente e para gente, gosto dessa possibilidade do cinema de tocar profundamente as pessoas. É uma capacidade de revolucionar, de certa forma, a vida de cada um ressalta Cavalcante. Também me inspira o que consegue me comover.

Para o diretor, fazer filmes em Pernambuco não é tão diferente de outros lugares do Brasil.

Fazer cinema independente é complicado em qualquer lugar, encontramos uma série de restrições na hora de conseguir apoio, patrocínio. Mas está melhor do que há 10 anos. Hoje em dia existem mais editais, tanto nacionais quanto estaduais compara. Mas ainda há pedras no caminho, principalmente no que diz respeito à iniciativa privada, que tem participação tímida no cinema independente fora do eixo brasileiro.

Cavalcante destaca a versatilidade da nova geração de cineastas pernambucanos, que acompanha de perto:

O grande mérito da produção de Pernambuco é justamente a diversidade. Aqui não existe um movimento coeso, uníssono, existe na verdade várias movimentações, pessoas com diferentes propostas artísticas. Isso fortalece muito o nosso cinema.

No último filme de Cavalcante, Ave Maria ou Mãe dos sertanejos , o diretor divide os créditos com os alunos que participaram da oficina dada em Serrita, cidade do interior de Pernambuco onde o curta foi filmado.

Não moro no sertão. Então, para evitar esse olhar estrangeiro, optei por um processo de mergulho detalha o diretor. Pessoas do próprio sertão participaram da elaboração do filme. Ele é muito de dentro para fora, não tem uma visão externa. O cinema, como todo mundo fala, é a escola viva da arte, tem muita gente participando, um caráter coletivo intrínseco. Nos reunimos para falar sobre a própria região dessas pessoas, que a conhecem com profundidade, por isso os créditos são de todos.

Cavalcante não acredita que o tema do sertão esteja desgastado. Para ele, ainda há muito que se explorar, desde que seja feito através de novas abordagens:

O sertão é muito mais que uma zona geográfica seca, árida. Ele representa um território da alma humana, das relações olho no olho, uma coisa sincera. Essa região emocional dá muito pano para a manga. O que está desgastado é uma abordagem estereotipada do personagem sertanejo.

O filme Ave Maria ou Mãe dos sertanejos , de 2009, faz parte de uma trilogia que começou com Ave Maria ou Mãe dos oprimidos , de 2003.

A terceira parte não tem nem roteiro pronto, mas ainda pretendo desenvolver. Vai ser sobre a visão da burguesia sobre a hora da Ave Maria antecipa.

Além da retrospectiva de Camilo Cavalcante, a Mostra do Filme Livre tem como homenageado deste ano o diretor mineiro José Sette, com pré-estreia de Amaxon e exibição da cópia digital restaurada de Um filme 100% brazileiro, de 1985, com Paulo Cesar Pereio. A programação também conta com as pré-estreias de Mergulho, de Pedro Henrique Ferreira, e Rumo, dos Irmãos Pretti, além de exibições de curtas, longas, e oficinas.

>> Em cartaz

Mostra do Filme Livre

Centro Cultural Banco do Brasil, Rua Primeiro de Março, 66, Centro (3808-2020). Grátis. De 23 de março a 8 de abril, de 3º a dom., das 14h às 21h